sábado, abril 08, 2006

An Illegal War Journal . Day 21 . 2003/04/08







Dia vinte e um
Palestine (hotel).


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"Hotel Palestina atingido pelos norte-americanos".
O que eu temia aconteceu. (...) Relembro as palavras de um soldado norte-americano envolvido em combates de rua (Najaf? Nasiryah?), confrontado com uma situação parecida, há uns dias: "Parecia que um atirador se encontrava naquela janela, por isso um tanque disparou contra ela." Sempre siga...
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Hoje, dia 8 de Abril, os jornalistas filmavam os tanques norte-americanos na margem oposta do Tigre (desde as janelas dos seus quartos, no Hotel Palestina). Nas imagens (que depois passaram nas televisões) vêem-se dois Abrahams; estão bastante afastados. Um deles roda a torre no sentido dos ponteiros do relógio até o seu canhão estar alinhado na direcção do hotel, de onde está a ser filmado.
E o inacreditável acontece! Dispara!


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O nome, em língua inglesa, não em árabe, "Hotel Palestine", seria visível com binóculos, do ponto onde foi disparado o projéctil (o mesmo de onde foi tirada esta imagem, com teleobjectiva).
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imagem: Molly Bingham / CPJ
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Um dos quartos é atingido em cheio. Ao que parece, um jornalista tem morte imediata, outros três ficam feridos, um deles com gravidade. (...) tentam disfarçar este acto indesculpável, (dizendo que) ora foram os iraquianos, ora que o tanque disparou contra supostos atiradores que disparavam, por seu turno, desde o Hotel Palestina, ora foi um tiro "perdido". Balelas! As imagens, graças aos céus por elas, não deixam dúvidas.
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O Capitão Phillip Wolford, cujo tanque disparou o projéctil que atingiu o Hotel Palestina. Wolford disse depois que a ordem para disparar foi intuitiva, mas ficou demonstrado, pelo testemunho de vários militares envolvidos, que desde a detecção de um "brilho" no edifício até ao disparo decorreram pelo menos dez minutos. Tempo mais que suficiente para identificar o alvo como sendo o Hotel Palestina.
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imagem: Anja Niedringhaus / AP
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O estúpido do comandante do blindado deve ter visto (na melhor das hipóteses) o brilho da objectiva de um dos cameramen e assumido que se tratava de um sniper iraquiano ou de um posto móvel de um míssil Kornet antitanque. Ele deveria saber a localização exacta do hotel e quem lá estava. Pouco lhe importou. Se era um grupo de combate com um lança mísseis Kornet ou uma equipa da Reuters com uma câmara foi-lhe indiferente.
Esta atitude de "disparar primeiro e falar depois" dos norte-americanos deverá reduzir as suas baixas a um mínimo, mas causará muitas vítimas entre a população de Baghdad. A provar esta postura, imagens de uma fachada de um bloco de apartamentos alvejada indiscriminadamente (os disparos foram apanhados em vídeo!) pela aviação norte-americana. Quantas pessoas estariam naqueles apartamentos?

(...)
"Claro que estava à espera que o Hotel Palestina pudesse ser atingido por fogo cruzado durante os combates de rua; o que não estava à espera era que um tanque norte-americano disparasse contra o hotel desta maneira. (...) E mesmo que um sniper estivesse no hotel, o que nenhum dos jornalistas de todo o mundo aqui presentes confirma, alvejar um edifício que toda a gente reconhece como o centro de abrigo dos jornalistas estrangeiros em Baghdad com tiros de canhão nunca poderia ser a resposta adequada a tal situação."
Carlos Fino, hoje, ao telefone para a TSF (que foi duramente criticada por ter avançado esta notícia - diziam que era falsa, a "rádio Baghdad" e essas tretas...).
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RS, An Illegal War Journal, 08/04/2003
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In memoriam.
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Os cameramen José Couso (Telecinco) e Taras Protsyuk (Reuters) foram mortos a 8 de Abril de 2003, pelo projéctil norte-americano que atingiu o Hotel Palestina.
imagens:
(esq.) Pawel Kopczynsk / AP
(dir.) EFE Telecinco / AP
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nota:
A guerra do Iraque provou ser a mais mortífera para os jornalistas desde a II Guerra Mundial. Um total de 86 jornalistas e assistentes de reportagem foram mortos no Iraque desde o início da guerra; mais do que em 20 anos de guerra no Vietname ou na guerra da Argélia.
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(esta entrada foi iniciada a 8 de Abril, embora publicada na madrugada de 9)

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