(*) Actualização em rodapé
Já tanto se disse (e continua a dizer) sobre a catástrofe que se abateu sobre as nossas florestas e, porém, não vejo o Governo a actuar como seria de esperar, ou seja, de acordo com uma situação de calamidade pública.
Claro que, aparentemente, as medidas mais urgentes estão a ser tomadas, como as indemnizações aos que perderam gado e pastos, mas não vejo que as férias parlamentares tenham sofrido alterações. O país arde e a Assembleia da República continua de tanga, ao melhor estilo Silly Season. Tira-se um livro branco da cartola (mais um...) e pronto.
Algumas pessoas mais esclarecidas, como um autarca, também chefe dos bombeiros, presente no debate de domingo passado na RTP 1 (lamento não recordar o seu nome) vão alertando para se começar, desde já, a discussão sobre as medidas a tomar futuramente para evitar que um descalabro destes se repita. E vai avisando (muito bem) que nessa mesa só deverão ter assento os que têm sólidos conhecimentos na matéria e não quem não sabe "distinguir um eucalipto de um chaparro" (sic). (ver actualização abaixo)
Isto terá impacto positivo na essencial reordenação das zonas florestais e, chegada a hora, na reflorestação das áreas queimadas. Como disseram alguns bloggers, embora pecando por falta de tacto ou excessivo sentido de negócio (ver entrada "Espírito industrial", n'A Sombra), as nossas florestas são, também, resultado de políticas de rentabilização industrial (resinas, papel e a própria madeira) do tempo de Salazar, altura em que factores como o impacto ambiental ou a prevenção eram secundários ou, simplesmente, ignorados, não só em Portugal como em quase todo o mundo.
Excessos foram cometidos nessa altura, mas excessos continuam a ser cometidos hoje, quando as preocupações mencionadas acima já são um factor de primeira ordem... no papel.
Entre as medidas que poderão ser tomadas, as principais têm a ver com a prevenção. Dotar os bombeiros e a protecção civil de mais e melhores meios é fundamental, mas a Natureza ri-se dos nossos esforços para a domar e, quando decide reduzir-nos à nossa insignificância, apenas podemos minorar a extensão dos danos. Este Verão, em Portugal, nem o mais numeroso e melhor equipado corpo de bombeiros florestais profissionais poderia fazer muito mais do que fizeram os verdadeiros heróis e heroínas que combateram e combatem ainda as chamas nas nossas florestas.
Importa, pois, colocar o ênfase na vigilância e nos meios de primeira intervenção, ainda considerada preventiva, na fase inicial dos fogos, bem como numa exigente política de ordenamento e reflorestação, com especial incidência nos terrenos particulares.
Precisamos de nova legislação? Que seja feita.
A aplicação acertada de verbas para este fim implica uma selecção rígida de prioridades e uma gestão de recursos muito acima da que temos testemunhado, incluindo a de recursos militares. Estes, quanto a mim, devem assumir um papel de primeira linha na vigilância das florestas, enquanto se cria um verdadeiro corpo de guardas florestais e outro de bombeiros florestais, ambos profissionais, numerosos e bem remunerados. Um país com a nossa área verde não pode continuar a depender de meia dúzia de voluntários, por mais excelentes que sejam, para controlar tanta floresta. Quanto à atribuição de meios de combate a este tipo de incêndios à Força Aérea, eles serão sempre bem vindos, mas não poderão dispensar um ainda mais forte investimento nesta área no âmbito da própria Protecção Civil, que é a entidade que deverá dispor de meios deste tipo adaptados, especificamente, ao combate e controlo de fogos florestais. E esse controlo não é um trabalho "de Verão"! É antes dele chegar que se evitam as condições de risco que aumentam as probabilidades da ocorrências de fogos nas florestas, pelo que os necessários corpos profissionais de guardas, bombeiros florestais e Protecção Civil terão trabalho (e muito) todo o ano!
E estas condições, meios e serviços terão de ser assegurados pelo Estado, pagos por todos nós, pois dar ao sector privado esta responsabilidade equivale a regar o que resta de verde com gasolina e atirar-lhe um fósforo. Que ninguém se iluda com isto; acreditar que uma empresa privada cujo ramo de actividade seja o combate ao fogo ficará maravilhada com longos períodos de inactividade é irracional. Esta responsabilidade terá de ser de uma entidade que lucre muito mais com a inexistência de fogo do que com a sua ocorrência. Apenas o Estado cumpre este requisito.
Este tipo de medidas têm de ser implementadas desde já. O resto, como prender uns poucos pseudo-pirómanos ou proibir o lançamento de alguns foguetes, não passa de um irrisório, ridículo e trágico fogo de vista.
nota:
Ver entrada acima sobre o comentário à Sombra
publicado em Liberdade de Expressão.
(*) Actualização (em 16Ago2003)
Com o nosso pedido de desculpas e agradecimentos ao Paulo César Simões
(A Aba de Heisenberg) pela tardia actualização desta entrada com a informação que, gentilmente, nos enviou por e-mail (transcrita mais para diante, n'A Sombra).
"(...) O autarca é Jaime Soares, da Câmara de Poiares.
É o presidente de camara mais antigo do país (30 anos de serviço)
e é chefe dos bombeiros há 42 anos. (...)"
Fica o esclarecimento e a menção do nome do autarca que mencionei no texto acima.
March 22. Portugal.
Há 12 anos
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