sábado, janeiro 17, 2004

Dark Side of the Moon


George W. Bush tem mais uma prioridade?

O objectivo de colocar de novo norte-americanos na Lua não deve ser confundido com o dispersar de recursos necessários à "Guerra contra o Terror". De facto, fontes próximas do Pentágono afirmam que Washington tem provas irrefutáveis do envolvimento da Al-Qaeda no financiamento da agência espacial chinesa. Fala-se mesmo de fotografias de Osama Ben Laden em testes na base de Dongfeng, a cidade aeroespacial também conhecida por Shuang Cheng Tzu ou Base 20, que teriam sido autenticadas pela análise de uma amostra de urina conseguida no mercado negro de Beijing por agentes secretos norte-americanos, alegadamente contrabandeada de Dongfeng por elementos do clube escatológico local, que provou ser idêntica a várias outras encontradas em diversas cavernas do Afeganistão onde as forças especiais dos EUA chegaram demasiado tarde para capturar o terrorista, mas a tempo de recolher a sua urina para testes.

Não se trata de uma nova prioridade, portanto. É apenas um plano de contingência, para o caso de Osama Ben Laden ser o próximo Taikonauta...

Monstros


Lido no Público de 16Jan2003:

--- quote ---

(...)
Em suma: nenhuma solução baseada na força bruta, no "apartheid" ou nas retaliações indiscriminadas garantirá algum dia a paz a Israel. Ora o drama de Israel é que Ariel Sharon nunca aprenderá tal lição elementar.

--- end quote ---


(extraído do editorial de José Manuel Fernandes, intitulado "A Mãe-Bomba" - ver versão on line aqui)

Não é que o texto esteja mau, nem sequer que não exprima o tipo de ideias a que José Manuel Fernandes nos habituou, usualmente baseadas na bitola norte-americana - ou talvez seja o seu modo de imitar as "condenações" de Washington à política israelita para a Palestina; o certo é que não tem nada a ver com quem o escreveu.

Reem Raiyashi, a jovem palestiniana suicida, de 22 anos e mãe de dois filhos, optou pelo mesmo método bestial de retaliação contra Israel que tem vindo a ser usado um pouco por todo o mundo islâmico. Mas o seu alvo, ao menos desta vez, era legítimo. As vítimas mortais eram militares ou para-militares israelitas.
Como já aqui referi, uma coisa é fazer explodir um autocarro civil em Telavive, outra é fazer explodir uma coluna militar, um veículo militar ou... um posto de controlo.

Os postos de controlo são particularmente odiosos.
Através deles, Israel sufoca o futuro Estado palestiniano. São, quanto a mim, não só um objectivo militar legítimo como um dos que importaria eliminar de todo.
Não é raro que militares israelitas detenham ambulâncias palestinianas por mais tempo que o necessário nesses postos. Se o doente transportado estiver mesmo mal, pode morrer ali mesmo, perante a fleuma dos israelitas. Já aconteceu.

Apesar da natureza deste alvo e das vítimas mortais do atentado de Reem Raiyashi não serem civis, a sua razão de ser é a mesma dos que optam por alvos mais "suaves". E o catalisador desses ataques é exactamente o mesmo. Daí que ache estranho, no mínimo, que José Manuel Fernandes venha agora "explicar" a origem deste ódio, socorrendo-se desta jovem mãe infeliz.

Caro José Manuel Fernandes,

O ódio dela foi alimentado pelo mesmo monstro que alimenta os animais que se fazem explodir no meio de mulheres e crianças judias. E nem mesmo existe a certeza de ter sido escolhido o objectivo como militar. O mais certo, aliás, era que Reem Raiyashi se fosse fazer explodir num qualquer autocarro israelita, tendo accionado os explosivos no posto de controlo por ter sido exposta pelos militares.

E se quer que lhe diga, na Palestina, como em Israel, como em todo o lado, não existem bons monstros ou maus monstros. Apenas monstros. O que foram antes de se tornarem bestas é irrelevante.

Um cão pode ter sido o mais dócil e carinhoso animal do mundo, mas uma vez enlouquecido, é abatido da mesma forma que outro que sempre foi raivoso. As diferenças entre ambos estão no passado, não no presente. No presente, essas diferenças são simplesmente inexistentes.

Rui Semblano
Porto, 16 de Janeiro de 2004

sexta-feira, janeiro 16, 2004

The Movement


Lido na Tribuna Socialista:

--- quote ---

(...)
Será que não existem razões de sobra para dizermos NÃO! para lançarmos uma GREVE GERAL que mande este governo às urtigas?

Porque espera TODO o movimento sindical?

--- end quote ---


Apesar de concordar plenamente com a ideia expressa pelos exemplos de governação dados antes da formulação destas duas questões, não resisto a perguntar ao João Freire:

Mas, TODO qual?...

quarta-feira, janeiro 14, 2004

Made in USA


Um dos indicadores sobre a situação interna dos EUA que mais prezo são as palavras que me chegam das terras do tio Sam na primeira pessoa. Eis dois bons exemplos (e fresquinhos):

De um português residente no Texas:

(...)
Eu entretanto ja não sou engenheiro e estou a viver no Texas (a terra
daquele chimpanzé que vive agora na Casa Branca!) e resolvi comecar um blog
com poemas sobre o mar e sobre navios, etc.
(...)


De uma norte-americana residente na Georgia:

(...)
At the risk of being put on some Ashcroft watch list, I am forwarding this link.
http://www.bushin30seconds.org/index.html
(...)


nota:
Ambos os remetentes enviaram as mensagens como privadas, de onde omitir as suas identidades, não se tratando de correio para A Sombra.

nota2:
Quanto ao comentário da minha amiga, sobre a lista Ashcroft, há muito que ela, eu e muitos outros devem estar a ser lidos pelos rapazes do Carnivore!
Seguindo o exemplo de um dos spots de 30 segundos sobre "Dubya" (na ligação que mantive na sua mensagem), aqui vai uma achega:
Terrorist, nine-eleven, airport, uranium, target and, of course, George sucks!
(hello boys!)


:)

God bless America!

O Passado Imperfeito - Parte 2


O ano que passou não foi muito bom para a Europa, mas o que esperar de 2004? Os que se opuseram à invasão do Iraque chegam a regozijar com a posição do eixo franco-alemão, como eu o cheguei, expressando-o publicamente nas páginas do Público em carta ao director, "Valha-nos a Velha Europa", datada de 30Jan2003 e publicada a 01Fev2003, se não me falha a memória... (ver Anexo abaixo). Não era tanto pelos Governos de França e Alemanha que me regozijava, antes por estes reflectirem acertadamente a opinião das suas opiniões públicas, pois quanto aos motivos de Chirac e Schröder a conversa é outra. Os interesses de ambos no Iraque, desde contratos petrolíferos à indexação do petróleo iraquiano ao euro, foram determinantes para a oposição do eixo franco-alemão à política norte-americana para o Golfo Pérsico. Não fosse isso e existisse um "entendimento" quanto à partilha dos despojos de guerra e hoje teríamos a Legião Estrangeira em peso em Tikrit e uma Divisão Panzer em Falluja.

A agenda escondida de franceses e alemães é cada vez mais aberta e tem como principal objectivo a obtenção de mais poder e influência no plano interno (UE) e no externo (ONU, OMC...). A visão da Europa perfilhada um dia pelo Europeu comum, enquanto espaço agregador de diferentes realidades e culturas com a mesma identidade geográfica sob uma só bandeira, começa a esbater-se neste jogo perigoso. E tão perigoso é que arrisca o desmembramento da UE, tal como a conhecemos, sendo o cenário mais certo o limitar da Europa dos 25 a uma mera Hansa, enquanto se cria um núcleo duro com real significado político, económico e, porventura, militar - embora esteja na estrutura militar futura da UE uma das possíveis plataformas de entendimento e salvação, já que uma UE militarmente forte depende de todos os seus membros em termos de efectivos.

Rumsfeld não estava completamente enganado ao falar de duas "europas", mas eu não lhes chamaria "velha" e "nova", além de que, aparentemente, existem bem mais que duas. Desde o grupo original que fundou a UE ao Reino Unido orgulhosamente só (mas "remando" para Oeste); dos países mediterrânicos (entre os quais Portugal não se encontra, por mais líricos que queiramos ser) aos países de Leste; e não nos esqueçamos dos "não alinhados" como a Suíça e a Suécia ou os euro-wanna-bees como a Turquia.

A Europa como entidade una a nível político, que exceda a mera organização económica, é cada vez mais uma miragem. A integração das economias da zona euro é uma anedota de que o PEC foi o paradigma; o respeito por cada um dos Estados membros é exaltado no papel para ser espezinhado na prática; assinam-se cartas atrás das costas uns dos outros, hoje a favor, amanhã contra... As presidências rotativas vão esgotando a sua razão de ser e produzindo diplomas de circunstância e regulamentos internos que a poucos mais dizem respeito para além dos eurocratas de serviço, enquanto passam as batatas quentes de umas para as outras, como no caso da Constituição Europeia, que acabou por se tornar num calhamaço que ninguém lerá por completo (a começar pelos cidadãos comuns...).
Seria razoável que uma estrutura como a Europa se construísse de cima para baixo, isto é, harmonizasse e simplificasse, passando o conceito às estruturas dos países membros. Nada disso. As tentativas de criação de um espaço coerente em termos políticos resultaram num projecto de Constituição que não se compreende e em que ser holandês, belga ou espanhol é ainda mais importante que ser europeu.

A minha identidade, enquanto portuense, nada me impede de sentir a nacionalidade portuguesa. No entanto, a minha cultura é muito diversa da de um lisboeta ou de um algarvio, mas considero qualquer um deles tão português como eu e com os mesmos direitos e deveres que eu - e reciprocamente.
Do mesmo modo, apesar das ainda maiores diferenças culturais, a que se juntam as linguísticas, considero-me tão europeu como um polaco ou um grego e, da mesma forma que ser português não me retira em nada a identidade portuense, ser europeu nada me tira da identidade portuguesa. O resto é política e democracia. Bem usadas, transformarão a Europa num espaço federal em que teremos orgulho de viver e ter como compatriotas gentes tão diversas como as eslavas e as mediterrânicas. Se mal usadas, como têm sido, dá nisto. Cada um a rezar ao seu santinho, esquecidos de Deus.

Continuo a pensar que o futuro nos reserva uma Europa Federal, primeiro, e um Mundo Federal, depois, quando os grandes espaços (como África, o Médio Oriente, a Ásia e a América do Sul) se estruturarem de modo similar. Pura futurologia, sem dúvida, e nada que os meus bisnetos venham a ver, mas talvez os seus vejam, se ainda existir um Mundo para unificar quando viverem.
O que acredito é que mesmo o primeiro passo nesse sentido, a Europa Federal, não será para os meus dias. Para os dos meus filhos? Não sei. Talvez nem para eles. Mas existirá. E será uma entidade homogénea, delimitada a Oeste pelo Atlântico e a Leste pela Grande Rússia. A Turquia, apesar da herança da NATO, nunca será Europa. Nunca o foi. Ou o Líbano será Europa. E Israel, já agora. Ainda sobra espaço para o Zimbabwe e para a Coreia (do Sul, claro!), a não ser que os EUA a metam na NAFTA, junto com a Turquia, que já convidaram.

A Europa é, antes de mais nada, um espaço geográfico, ponto final. Se vamos pelas afinidades culturais, laços históricos, traços sociológicos, qualquer dia teremos todos os países que já foram colónias europeias a pedir a adesão. Aliás, qualquer país da Commonwealth tem mais afinidades com a Europa do que a Turquia... Exceptuando o "Eurofestival" da Canção!

Quem tem mais responsabilidades no falhanço do projecto europeu? Quanto a mim, dois países partilham a maior parte delas - e em doses quase iguais: a Alemanha e o Reino Unido. E não vale a pena desancar nos franceses, pois estes agarraram-se à Alemanha para não perder a boleia e o eixo franco-alemão é mais uma operação parisiense de controlo de danos que outra coisa qualquer.

A Alemanha procura claramente o que o Japão procurou (e ainda procura) após a Segunda Guerra Mundial: conquistar pela economia o que falhou pelas armas. O mal-estar provocado em Berlim pelas posições de Varsóvia quanto à guerra no Iraque e à Constituição europeia tem em si as sementes do Pangermanismo. A integração da Polónia na UE é uma vitória que os polacos não querem dar à Alemanha; uma vitória que, porém, os alemães já obtiveram, conscientes do que é o euro, na realidade, somado com uma herança cultural que nunca deixou de ser prussiana. A procura de mais poder económico - e, por sua via, político - é uma constante da política alemã desde a queda do muro de Berlim. Lentamente, a Grande Alemanha reconstitui-se sob os nossos olhos. Para o caso de não terem reparado, existem já muitos mais europeus que falam alemão e trazem euros nos bolsos que quaisquer outros - e em breve serão muitos mais!

Quanto ao Reino Unido, a sua vocação sempre foi claramente Atlântica (De Gaulle é que tinha razão...) e não nos devemos esquecer que o seu império cobriu, um dia, um quarto da superfície deste planeta e que a Commonwealth não é miragem nenhuma. A ligação de Londres a Washington excede em muito a partilha dos mesmos "ideais democráticos e liberdade para todos" e a distância que vai de Portsmouth a New York é muito menor que a que separa Southampton de Callais... Embora não pareça.

Temos assim o país europeu sem o qual não é viável uma estrutura militar coesa e digna de nota mais interessado em alianças externas à Europa e o país europeu sem o qual não é possível um espaço económico forte mais interessado na glória nacional de antanho... De facto, nenhum deles está muito interessado na Europa - no que a Europa poderia ser. Restam as "humanidades" e os pequenos-burgueses. Os outros vêem passar navios. Como nós.

Ser europeu é ainda uma ideia demasiado abstracta. A última fronteira, o que nos poderia identificar como europeus, esbate-se com a proposta de adesão da Turquia, de que já se disse ser óptima para os turcos! Pudera! Até para o Burkina Faso! É o vale tudo, uma vez mais, e já quase ninguém vê aqui Europa alguma.
Existe a Europa de alta velocidade (à qual nem de TGV lá chegaremos), a de média velocidade e a de baixa velocidade, mas existe pior! Existe a Europa virtual, que vai de Portugal à Mongólia!... Começa a ser ridículo.
Os instrumentos criados para harmonizar as relações políticas e económicas entre os membros da UE resultam todos ao contrário. Chega a parecer que quantos mais existem, menos nos entendemos uns com os outros. É a morte lenta da consciência europeia; já não pensamos como europeus. Justamente quando pensamos sê-lo surge um Chirac a quebrar o PEC ou um Portas a clamar pelo Império e pela cristandade...

Não sei o que se seguirá à UE que hoje conhecemos, mas sei que a única coisa que a segura, neste momento, são as moedas que trago no bolso e nada mais.
E é muito pouco.


Rui Semblano
Porto, Dezembro de 2003


ver O Passado Imperfeito - Parte 1


Anexo:

From: Rui Semblano
To: Público
Sent: Thursday, January 30, 2003 1:24 PM
Subject: Carta ao Director


Valha-nos a "Velha Europa"

Depois do discurso do Estado da União parece cada vez mais evidente que os EUA farão a guerra com o Iraque por motivos que nada têm a ver com a intenção de desarmar Saddam Hussein ou sequer com o objectivo de "libertar" o povo iraquiano. A não ser assim, em lugar de agendar para 5 de Fevereiro a apresentação nas Nações Unidas das alegadas "provas" contra o Iraque, teriam não só revelado esses dados, publicamente e de imediato, como passado a informação aos inspectores da ONU mais cedo, para que actuassem em conformidade.
Sendo assim, a hipocrisia desta Administração norte-americana torna-se clara. Dizem saber quais as faltas de Saddam Hussein, mas não usam essa informação para permitir à ONU que a use no terreno de forma expressiva, antes a guardando como trunfo para "justificar" a sua guerra.
Só lamento que, quando se tornam evidentes estes factos, Portugal alinhe com esta posição do governo dos EUA. Se o tivésse feito mais cedo, ao menos poderia alegar que, por princípio, não voltaria atrás. Agora, a posição de Portugal torna-se tão hipócrita como a da Administração norte-americana, com a agravante de tomarem partido contra o eixo franco-alemão num momento particularmente significativo, em matéria de União Europeia. Parece que Durão Barroso tem pressa de se juntar à "Nova Europa", segundo Rumsfeld.
Valha-nos a "Velha".

Time flies...

(*)

Não estive muito cinéfilo estes dias - a que um PC particularmente não cooperante não ajudou nadinha (grrr...) - pelo que a actualização do CpI, que mencionei abaixo, ainda não foi efectuada.

Pelo facto, aos que a procuraram, as minhas desculpas.
A ver se em breve fica resolvida a questão - até porque já é quase quinta-feira outra vez (o novo dia de estreias!) e os bilhetes vão-se amontoando!

nota:
A minha inveja vai direitinha para os felizardos que operam em Mac! Sortudos! :)

(*) Time flies..., o tempo moscas (trad. livre)

domingo, janeiro 11, 2004

Updating...


Estão actualizados os blogs de apoio d'A Sombra:
Os Arquivos Manuais e os Blog Links Completos.

Resta a actualização (bem precisa!) do CpI, com:

LOTR - The Return of the King;
Master and Commander;
The Last Samurai.


(a ver se amanhã estamos cinéfilos) :)