sábado, setembro 02, 2006

Imaginem só...










Verificação de licença para
atravessar a vedação que isola
a Faixa de Gaza.




Imaginem que vivem num país que não é um país.
Imaginem que os vossos pais e avós já nele viviam e não era um país.
Imaginem que o mundo imagina que nunca quiseram que fosse um país.
Imaginem esse país retalhado contra a vossa vontade.
Imaginem-se atirados para uma faixa de terreno isolada por redes e muros.
Imaginem que são impedidos de sair dela por terra, mar ou ar.
Imaginem essa faixa com cerca de 38 km por 10 km de área.
Imaginem que vivem numa aldeia cortada pela rede e pelo muro.
Imaginem que os vossos pais vivem do outro lado do muro.
Imaginem que apenas com uma licença podem passar para lá dele.
Imaginem que apenas com uma licença podem voltar.
Imaginem que, mesmo com licença, nunca sabem quando se pode passar o muro.
Imaginem que o vosso filho tem um acidente e precisa de um hospital do outro lado.
Imaginem que precisa de sangue.
Imaginem que não vos autorizam a passagem da ambulância onde ele segue para lá do muro.
Imaginem ver o vosso filho esvair-se em sangue à espera que o portão abra.
Imaginem voltar a casa com o corpo sem vida do vosso filho.
Imaginem que têm de ir trabalhar nos dias seguintes para o vosso campo do outro lado do muro.
Imaginem-se junto ao muro, à espera que o portão abra. Imaginem que abre.
Agora.
Imaginem-se a dormir junto à estrada, do outro lado do muro, num final de dia em que não vos deixaram voltar a entrar.
Imaginem que, no regresso, encontram uma escavadora sobre os escombros do que foi a vossa casa, as vossas roupas, os vossos livros, as vossas coisas...
Imaginem que têm de vender o terreno por dez vezes menos para arranjar outra casa.
Imaginem que têm de arranjar trabalho na construção do muro.
Imaginem-se a fazer cimento para ampliar o muro onde o vosso filho se esvaiu em sangue.
Imaginem que, finalmente, o mundo vos diz que o vosso país será mesmo um país.
Imaginem que vão votar pela primeira vez.
Imaginem que têm um governo eleito pela primeira vez.
Imaginem que o mundo não gosta do vosso governo.
Imaginem que o mundo impede que o vosso governo funcione.
Imaginem-se sem água e electricidade durante semanas.
Imaginem que não há polícia nas ruas, apenas militares estrangeiros.
Imaginem esses militares hostis ou, no melhor dos casos, indiferentes.
Imaginem que esses militares entram na casa do vosso vizinho durante a noite.
Imaginem não mais ver o vosso vizinho. Ninguém sabe porquê. Imaginem...
Imaginem-se, à noite, a sonhar com o vosso filho perdido.
Agora.
Imaginem raptados os membros do governo que elegeram.
Imaginem o mundo a ver televisão.
Imaginem a humilhação de tudo isto.
Imaginem todos estes anos.
E então imaginem alguém (a Esther Mucznik, por exemplo) dizer a vosso respeito:
"Não percebo porque alguns os vêem como vítimas."
Imaginem só...


Rui Semblano
02 de Setembro de 2006




Michael Nyman - Big My Secret - The Piano (ost)

( faltam nove dias... )

The Star



A Estrela


Esperança,
inspiração,
generosidade,
serenidade.





New American Orchestra - Blade Runner Blues (Vangelis)

...
...
Temo de novo não te dizer adeus
Ao preço da minha alma
Temo o que antes vi nos teus olhos
Outra vez
E outra vez
Temo o teu corpo tremendo
Junto ao meu
Temo de novo o afastar da tua boca
Os teus lábios fugindo dos meus

Temo todas as lágrimas choradas
Toda a falta sentida
Renovadas em dobro
Temo as sentir hoje assim
Sem o saber
Temo que o sejam já
...
...
Rui Semblano
...
Embalado pelos dois blues. O de Blade Runner e o de Bombay Saphire...
...
...
Os Dias do Tarot n'A Sombra: INDEX.

sexta-feira, setembro 01, 2006

Um fim que não o foi.

Quando A Sombra desapareceu do mapa blogosférico, a entrada que ficou no topo intitulava-se "O fim como meio". Não foi propositado; calhou assim. Foi escrita pouco depois do lançamento do livro de poemas com o título "O fim não é o fim", da autoria de Pedro Ludgero Guedes.

Alertado pelo seu irmão, também ele blogger, fui dar com o Cabo da Boa Tormenta.
As primeiras entradas prometem; vindo de quem vem, este blog poderá tornar-se uma referência para os amantes dos livros, do cinema e... da vida. Espero que haja lugar para um pouco de música, ainda! Apesar de se estrear como blogger, o Pedro há muito que navega nestas águas e desde logo lhe surge a dúvida que a todos nos assalta, em um ou outro momento da existência de um blogger:

Pois pretende-se, por mercenário desejo de sucesso, que o blog seja um cabo por onde os nautas sejam obrigados a passar. Mas não se garante que cheguem a bom sítio, ou que cheguem seja onde for. (um)

Caríssimo Pedro, não resisto a pagar-te na tua moeda: O fim não é o fim.
Bom vento, primo.



Léo Ferré chante Verlaine - Chanson d'Automne
(a sonhar com o Inverno)

nota:
O Cabo da Boa Tormenta passa a constar da nossa lista permanente de Blog Links, na secção especial, naturalmente - famille (et mérite) oblige!

A partir de dia 11...


Setembro chegou.
E o prometido é devido.

5 perguntas
5 anos depois.



.... 555 (click na imagem acima para o índice da série)

A partir de 11 de Setembro e até 15 de Setembro de 2006, A Sombra vai fazer CINCO perguntas sobre o ocorrido há CINCO anos. Nesse espaço de tempo, não foram dadas respostas claras e convincentes para nenhuma delas.

Não espero encontrar essas respostas nas caixas de comentários dessas cinco entradas, nem as tenho eu mesmo. Não vou tentar responder-lhes, nem de leve, pois não teria como provar cabalmente essas respostas. A verdade é que estou farto de hipóteses. Tão farto de hipóteses como os que, ao longo destes cinco anos, não resistiram a elaborá-las como fruto das suas investigações.

Investigar é algo que compete às autoridades.
O livro onde supostamente se encontram as conclusões da comissão nomeada para investigar o 11 de Setembro de 2001 não fornece uma única resposta clara e convincente para o que sucedeu nesse dia. Eu sei. Estou a olhar para ele. Já o li diversas vezes. Nada.

Se faço estas perguntas é porque não tenho as respostas.
Se as exijo é porque continuo a sentir-me nova iorquino. Porque já estiveram militares portugueses no Iraque, ainda estão no Afeganistão e seguirão em breve para o Líbano.
Hoje, mais de 60% dos habitantes de Nova Iorque manifestam-se insatisfeitos com as conclusões da comissão que investigou o 11 de Setembro de 2001.

Por tudo isto me sinto hoje mais nova iorquino do que nunca.
E exijo respostas.



Dimitri Shostakovitch - Jazz Suite n2, Waltz n2

Andam todos com os olhos bem fechados... É altura de os abrir.

Rui Semblano

quinta-feira, agosto 31, 2006

KILL KILL volume 1






Hey, I'm back.

Reiniciamos com um detalhe de uma página do meu Moleskine corrente.



No Comments.





.... A visão total da página:




KILL KILL
A matter of will

soon near you
only in selected societies




Rui Semblano, 30 Agosto 2006







.... nota: Eu disse que o regresso era em Agosto. Hoje AINDA é Agosto. (hehehe)