sábado, março 25, 2006

25M


...
...
...
...


Genesis - Carpet Crawlers - The Lamb Lies Down on Broadway




(He returns from his mixed-up memories to the passage he was previously stuck in.
This time he discovers a long carpeted corridor.)

There is lambswool under my naked feet.
The wool is soft and warm,
- gives off some kind of heat.
A salamander scurries into flame to be destroyed.
Imaginary creatures are trapped in birth on celluloid.
The fleas cling to the golden fleece,
Hoping they’ll find peace.
Each thought and gesture are caught in celluloid.
There’s no hiding in my memory.
There’s no room to avoid.

(The walls are painted in red ochre and are marked by strange insignia, some looking like a bulls-eye, others of birds and boats. Further down the corridor, he can see some people; all kneeling. With broken sighs and murmurs they struggle, in their slow motion to move towards a wooden door at the end. Having seen only the inanimate bodies in the Grand Parade of Lifeless Packaging, Rael rushes to talk to them.)

The crawlers cover the floor in the red ochre corridor.
For my second sight of people, they’ve more lifeblood than before.
They’re moving in time to a heavy wooden door,
Where the needle’s eye is winking, closing on the poor.
The carpet crawlers heed their callers:
We’ve got to get in to get out
We’ve got to get in to get out
We’ve got to get in to get out.

("What's going on?" he cries to a muttering monk, who conceals a yawn and replies, "It's a long time yet before the dawn." A sphinx-like crawler calls his name saying "Don't ask him, the monk is drunk. Each one of us is trying to reach the top of the stairs, a way out will await us there." Not asking how he can move freely, our hero goes boldly through the door. Behind a table loaded with food, is a spiral staircase going up into the ceiling.)

There’s only one direction in the faces that I see;
It’s upward to the ceiling, where the chamber’s said to be.
Like the forest fight for sunlight, that takes root in every tree.
They are pulled up by the magnet, believing they’re free.
The carpet crawlers heed their callers:
We’ve got to get in to get out
We’ve got to get in to get out
We’ve got to get in to get out.

Mild mannered supermen are held in kryptonite,
And the wise and foolish virgins giggle with their bodies glowing
Bright.
Through the door a harvest feast is lit by candlelight;
It’s the bottom of a staircase that spirals out of sight.
The carpet crawlers heed their callers:
We’ve got to get in to get out
We’ve got to get in to get out
We’ve got to get in to get out.

The porcelain mannikin with shattered skin fears attack.
And the eager pack lift up their pitchers - they carry all they lack.
The liquid has congealed, which has seeped out through the crack,
And the tickler takes his stickleback.
The carpet crawlers heed their callers:
We’ve got to get in to get out
We’ve got to get in to get out
We’ve got to get in to get out.

Released November 1974

An Illegal War Journal . Day 7 . 2003/03/25







Dia sete
Espectáculo, propaganda... Jornalismo?



Donald Rumsfeld admite que a TV e rádio iraquianas poderão tornar-se alvos a abater. O que pensarão disso os "juristas" que acompanham os militares que definem os alvos dos bombardeamentos? A verdadeira face de Washington vai surgir depressa. E se a fasquia dos mil mortos norte-americanos for atingida rapidamente, a hipótese de lançar uma nuclear sobre Baghdad vai surgir. Espero estar enganado, em causa e efeito.

Quanto ao nosso "candidato a mordomo", Durão Barroso, questionado sobre o papel de Portugal no pós-guerra, tem hoje esta declaração assombrosa: "Portugal, no quadro das Nações Unidas, tem o direito de participar na reconstrução do Iraque."
Fabuloso! Reorganizar e reconstruir um país através da ONU depois do fracasso desta em impedir tal atrocidade já é bastante mau, mas confundir um dever com um direito só pode ser traduzido por mero interesse económico. Mas, afinal, Durão Barroso tem mais perfil de necrófago que de predador.

De novo o Pentágono, a CNN e os seus ventríloquos, dão como certo o controlo de Um Qasr e atestam que uma rebelião civil shiita, em Bassorá, foi esmagada pelo exército iraquiano, que teria mesmo recorrido à sua artilharia para o conseguir. A Al-Jazeera desmente esta informação. Veremos amanhã. O certo é que as eventuais imagens de iraquianos mortos por fogo de artilharia em Bassorá serão vistas pelos norte-americanos como resultado da repressão de Saddam Hussein, ao passo que do lado iraquiano serão consideradas como mais vítimas da barragem de artilharia da coligação sobre a cidade sitiada. (Um exército fechado dentro de uma cidade usar artilharia para abafar uma rebelião no seu interior é algo muito estranho.) O meu voto vai, desde já, para a Al-Jazeera. Quanto a Um Qasr, o Pentágono afirma que o primeiro cargueiro com ajuda humanitária vai chegar amanhã àquele porto iraquiano. A ver vamos...

O 7º de Cavalaria parou a sua "cavalgada" a 70 ou 90 km (?) de Baghdad, retido por uma tempestade de areia. Pelas imagens, parecia tratar-se de um fenómeno normal, para a região, mas os jornalistas não se cansaram de repetir que era a maior tempestade de areia em anos, vá lá saber-se porquê.
Entre 20 e 40 mil soldados norte-americanos - em especial o 7º de Cavalaria - estão "às portas de Baghdad", sozinhos, com uma rota de abastecimento de mais de 350 km de extensão e frente às divisões Medina e Hamourabi, da Guarda Republicana; cerca de 40 a 60 mil efectivos. Uns têm esperado o invasor a pé firme, com apoio de proximidade; os outros, há quase seis dias que marcham sem parar, quase sem descanso.

Está confirmada a prisão do piloto e do navegador do Apache filmado quase intacto no solo, forçado a aterrar por avaria ou abatido por um tiro de sorte de um qualquer camponês com uma Kalachnikov... Os dois foram filmados pela TV iraquiana e parecem em bom estado. Outro Apache e um Blackhawk foram hoje dados como desaparecidos pelo Pentágono.

"À conversa com Carlos Fino":
Hoje, a RTP colocou o canal de vídeofone à disposição dos telespectadores, para que fizessem perguntas a Carlos Fino, em directo. Em estúdio, uma turma de um liceu lisboeta tem direito a muitas perguntas. Noventa por cento delas eram, resumidamente: "Como se está a sentir, Carlos Fino?"
É demencial.


RS, An Illegal War Journal, 25/03/2003


Aparentemente, a guerra não seria ganha
em "questão de dias, não semanas"...
O impacto da captura de uma tripulação de
um Apache foi muito maior que as relativas
aos soldados rasos das unidades de retaguarda.

Ronald D. Young, Jr., 26, da Georgia, esq., e
David S. Williams, 30, da Florida, os tripulantes
do Apache capturado pelos iraquianos, abatido
por "um camponês com uma AK-47".
Every peasant with a rifle... 25 de Março 2003.
imagem: Al-Jazeera
...

sexta-feira, março 24, 2006

An Illegal War Journal . Day 6 . 2003/03/24







Dia seis
Refugiados. Resistência. Al-Jazeera e CNN. ADM.



Os campos de refugiados fora do Iraque permanecem desertos ao 6º dia de guerra. Em sentido contrário, muitos entram no país, decididos a lutar e morrer por ele, não por Saddam Hussein. Em vez de um levantamento popular (contra Saddam) as tropas da coligação encontram resistência - isto ainda no Sul, em Um Qasr, por exemplo, e Bassorá, região próxima do Koweit - uma zona shiita, tradicionalmente oposta ao regime de Baghdad.

A maior parte dos "ocidentais" está perplexa. Não entende. Não percebe o ódio que esta gente tem aos norte-americanos, tanto pela Palestina como por os terem abandonado em '91, quando se ergueram contra Saddam Hussein e este os massacrou perante o olhar impávido das tropas aliadas (e pela imposição do embargo que engordou Saddam Hussein e foi duríssimo com eles...).
Se isto é assim ainda no Sul, imagino como será no Centro, sunita, base de apoio do Baas. Os B-52 não encontram divisões iraquianas todas alinhadas no solo à espera dos tapetes de bombas. A Guarda Republicana está dispersa, aguardando, sofrendo o mínimo de baixas. E o 7º de Cavalaria prossegue disparado, na direcção de Baghdad, cometendo o mesmo erro dos alemães em 1941, quando alongaram excessiva e muito rapidamente as linhas de abastecimento, deixando-as para trás sem cobertura adequada. (Como em 1941, será a superioridade aérea a evitar o desastre imediato?)
Não é por acaso que as primeiras mortes em combate e os primeiros prisioneiros de guerra do lado norte-americano pertençam à Companhia de Manutenção 507 - parte da linha de abastecimento e logística que suporta a cabeça da ofensiva (onde se encontra o 7º). A pesar da superioridade aérea, esperemos que o galante 7º não cavalgue para um novo Little Bighorn perto de Baghdad. Não passam de uma fracção das forças que deveriam cercar a cidade; se os reforços não chegarem cedo, arriscam-se a ser cercados eles próprios. Quanto tempo poderão aguentar sem abastecimentos, com 42º C de temperatura diurna?

A ONU e o CICV começam a alertar para a eminência de uma catástrofe humanitária em Bassorá, onde milhares de civis estão sem energia e sem água. Cínicos, os aliados recusam entrar na cidade, o que implicaria muitas baixas entre eles. Preferem matar os sitiados à fome e à sede (os civis que, supostamente, vieram libertar incluídos). Coisas da guerra. Ao menos que o admitam.

A Al-Jazeera permanece a referência da cobertura televisiva do conflito (pois regista o que se passa do lado iraquiano). Não fosse por ela, já teríamos "chupado a pastilha" da tomada de Um Qasr, Bassorá, Nasiriyah, Najaf ou Al-Amarah, que a CNN dá como certa todos os dias para ter de o desmentir de seguida, dada a evidência das imagens da TV do Qatar. Por esta não esperavam eles!

Na TVI, o sr. Rato (Vasco) e Joana Amaral Dias (regressada do treino) continuam a fazer figuras tristes, embora a Joana esteja um pouco melhor; os olhares do Rato e do apresentador da TVI foram elucidativos quando a Joaninha saiu da casca, ao responder um rotundo "Não!" à pergunta manhosa "Se forem encontradas ADM no Iraque, esta guerra fica justificada, não acha?" Este apresentador da TVI disfarça muito mal o seu "americanismo primário"... O Rato, por seu turno, (...) já não me enerva. Começo a encará-lo como um desenho animado. Às vezes, até me rio.


RS, An Illegal War Journal, 24/03/2003


Fast Rewind: ADM: GBU-43/B
Massive Ordnance Air Blast (MOAB)
aka: Mother Of All Bombs - USA
Arma fabricada por encomenda para
uso na invasão do Iraque, não seria
entregue no início da guerra e perdeu
todo o interesse estratégico dada a
natureza táctica do conflito. (*)

Recorte: jornal Público, 16 de Março 2003 imagem: StrategyWorld.com


(*)
O tipo de arma ideal para "libertar" um país... Ou para preparar a "reconstrução"?

quinta-feira, março 23, 2006

Pace.

...



E os céus choraram... mas não os anjos.
Não adeus. Até um dia.
...

An Illegal War Journal . Day 5 . 2003/03/23








Dia cinco
The 75th Annual Academy Awards



(Passei a madrugada de 23 a ver os Oscars. À semelhança do que fiz este ano, escrevi no diário os prémios, mas sobretudo as reacções dos intervinientes perante a guerra, iniciada dias antes. E o momento que esperava aconteceu. - n.a.)

(...)
Caetano Veloso canta um tema da banda sonora de "Frida".
(A seguir, Oscar para Melhor Documentário em longa metragem...)

And the Oscar goes to...
BOWLING FOR COLUMBINE!!!! YES! YES!!!
Michael Moore e a sua equipa partilham o palco com a dirigida por Jacques Perrin, o realizador de
"Le Peuple Migrateur", um belíssimo documentário sobre as aves migratórias.
Aí está! Michael Moore em directo para o mundo! FABULOSO!

"Vivemos tempos fictícios... Eleições fictícias!... Presidente fictício! Uma guerra por razões FICTÍCIAS! O seu tempo acabou, Mr. Bush!" YEAH! The reality people against fiction!

nota do autor:
o discurso de Michael Moore, recolhido depois:
"Whoa! On behalf of our producers Kathleen Glynn and Michael Donovan from Canada, I'd like to thank the Academy for this. I have invited my fellow documentary nominees on the stage with us, and we would like to — they're here in solidarity with me because we like nonfiction. We like nonfiction and we live in fictitious times. We live in the time where we have fictitious election results that elects a fictitious president. We live in a time where we have a man sending us to war for fictitious reasons. Whether it's the fictition of duct tape or fictition of orange alerts we are against this war, Mr. Bush. Shame on you, Mr. Bush, shame on you. And any time you got the Pope and the Dixie Chicks against you, your time is up.
Thank you very much."

Steve Martin, o anfitrião que nunca se aventurou em terrenos perigosos toda a noite, tem esta tirada, no rescaldo da intervenção de M. Moore:
"Oh, it was so sweet backstage, you should have seen it!
The teamsters were helping Michael Moore to the trunk of his limo."
(...)

RS, An Illegal War Journal, 23/03/2003



"Então o que vai fazer a seguir, mr. Moore?"
"Oh, algo completamente diverso."
"E já tem título?"
"FAHRENHEIT 9/11".





Michael Moore diz o que ninguém teve a coragem de
dizer a noite toda. E ainda foi assobiado por alguns!

23 de março de 2003.
imagem: Entertainment Weekly EW.com

quarta-feira, março 22, 2006

O pêlo do cão.


O Caderno de Corda, como já foi dito, passou recentemente a constar das nossas Relações Sombrias, com o epíteto de
"O pêlo do cão".


Quando fazia rádio na "pirata" Nova Era, no final dos anos 80 do século passado (hoje a vulgar e comercial RNE), participei num programa que passava de madrugada e que se chamava, precisamente, "O pêlo do cão". A playlist incluía Felt, Alien Sex Fiend, Tones on Tail, Shriekback, & Also the Trees, Love & Rockets, Peter Baumann e muitos outros na mesma onda alternativa/vanguardista.
Muito underground!...



Dado o teor do "Caderno", a associação foi imediata; tanto mais que a expressão significa "uso dos próprios recursos" e "com os meios gerados por si mesmo". Voilá!

'Dass...

.
.

.
2,80 €!
Mas porque demónio não fui eu para a política!

An Illegal War Journal . Day 4 . 2003/03/22







Dia quatro
Manif. Mundial pela Paz



Poderá ser a última vez que me manifesto ao lado de pacifistas...
Eu protesto contra esta guerra, sou contra muitas guerras, mas reconheço que, por vezes, só lutando se preserva a liberdade. Entre duas mil a três mil pessoas reuniram-se na Praça dos Poveiros e seguiram até à Praça da Liberdade, via Praça da Batalha (Porto). Em Lisboa, fala-se em oitenta mil (mas não creio).

Nas televisões, os "ventriloquos" do Pentágono insistirão no horror aos falsos pacifistas, que não se manifestaram quando a (então) URSS invadiu o Afeganistão. Que saudades têm eles desse tempo! Lamento profundamente que o Bloco de Esquerda e o PCP insistam em levar dezenas de bandeiras partidárias para estas manifestações. Que não compreendam como isso é nocivo para esta causa é incrível.

No rescaldo da manif, a vigília proposta para a Praça da Liberdade falhou; os "suspeitos do costume" juntaram-se à porta do McDonald's, assobiando os que entravam ou saiam (não passou disso). De regresso a casa, um automobilista grita (para o pequeno grupo onde eu e a Lina nos encontravamos): "Onde é que estavam na Guiné?" Olhamos uns para os outros. A média de idades era cerca de vinte e dois anos. De facto, a inteligência não é o forte dos que apoiam esta guerra...

RS, An Illegal War Journal, 22/03/2003


Milhões e milhões de pessoas em todo o mundo se manifestaram contra a invasão do Iraque, a 22 de Março de 2003, incluindo aqueles em nome dos quais se faz esta guerra: os nova-iorquinos. (*)



Manifestantes em Nova Iorque, 22 de Março de 2003.
imagem: Jo Freeman.


(*)
Em 2004, uma sondagem indicava que 66% dos nova-iorquinos queriam abrir de novo a investigação aos acontecimentos de 11 de Setembro de 2001. Indicava também que cerca de metade dos mesmos pensava que os responsáveis governamentais sabiam o que estava para acontecer e o permitiram (ou "ajudaram").

terça-feira, março 21, 2006

Poesia e J.S. Bach: o mesmo dia.

.
J.S. Bach
...

...
Paolo Beschi - Suite p/ Violoncelo n. 4 BWV 1010, prelúdio

Johann Sebastian Bach nasceu a 21 de Março
de l685, na cidade de Eisenach, na Turingia.
Teria hoje 321 anos de idade.
Parabéns, Johann. E obrigado.


E, como hoje dizem ser o Dia Mundial da Poesia, aqui fica um dos poemas que mais gosto e que tantas vezes declamei nas noites de poesia do saudoso Pinguim Café...

na primeira aula o mestre disse
vamos dar um nome a este curso
de rio sem nome a caminho do mar
sugiro que se chame não se chama
porque a matéria é só a frágil imensidão
onde o nosso íntimo gigante desagua
uma coisa mais profunda e acesa
que não sabemos o nome cá dentro
e por isso não vos dou matéria este ano
tendes que encontrá-la cada um por si
à medida que assimilais o íntimo gigante
essa coisa mais profunda e acesa
que todos temos cá dentro sem nome
e o mestre concluiu ide em liberdade
que a frágil imensidão vos aprofunde
trabalho para casa retirai solenemente
a marca do medo à vossa árvore

na segunda aula pediu-nos a marca
e todos a tinham menos eu
aos outros o mestre disse como não vedes
nada significa o medo sem a àrvore
de que vos serve saber que é uma figueira
se não me trazeis os figos
nem a força da terra nem a raiva das raízes
é o mesmo dizer estou vivo
mas não tenho amigos
e a marca do teu medo perguntou-me
sou eu a minha árvore respondi-lhe
e o mestre concluiu ide-vos liberdade
três dias de sede à vossa árvore de castigo
crescei por dentro até ao menino
quanto a ti que és a árvore
trabalho para casa que em ti circule o medo
e a seiva de um amigo

na terceira aula frágil imensidão o mestre
o mestre perguntou se já sentíamos o íntimo gigante
essa coisa mais profunda e acesa que
sem nome cá dentro desagua
na matéria sem marca nem medo
bem mestre não a sentimos ainda
mas chama-se amor vem no dicionário
e o mestre disse-lhes não dou mais aulas
trabalho para casa decorar o dicionário
todo palavra por palavra até ao exame
gritei-lhe sim mestre sinto-a e não tem nome
tu árvore podes ir adubar o teu amigo
corre-te nos ramos o sangue de um homem
disse-me a tua liberdade é o teu amigo



não se chama
de Joaquim Castro Caldas
in berlindes e abafadores (1979-1994)
edição de autor
.

Index activo.


Para facilitar a leitura atrasada, e para mais tarde recordar, está activo o índice das entradas relativas a "An Illegal War Journal", na coluna da direita. É usar o link na imagem e seleccionar por data ou número de entrada (dia #).

Study the past. Fight the future!

An Illegal War Journal . Day 3 . 2003/03/21





Dia três
Les grands ne sont grands
que parce que nous sommes à genoux:
LEVONS-NOUS!



Amanhã será o dia da manifestação mundial contra a guerra. A segunda.
Espero que seja ainda maior que a primeira!

Peço ao Jorge para colar versões A4 dos cartazes que fiz para a manif no (café) Belas Artes. Um café contra a guerra, decididamente. As imagens de repressão das manifestações em todo o mundo sucedem-se. Impressionam, pela sua violência, as que chegam dos EUA.
(...) Os governos alinhados vão tentar intimidar os cidadãos. Será o seu erro definitivo.
Les grands ne sont grands que parce que nous sommes à genoux. LEVONS-NOUS! (*)

Por esta altura, já os comentadores (na TV) alertam para o risco de os EUA não encontrarem as alegadas ADM que dizem que o Iraque possui. Não creio que corram esse risco. Creio mesmo que estão prontos a encontrar ADM no Iraque, especialmente se elas não existirem. E poucos acreditarão que essas armas sejam iraquianas, desde logo porque Saddam Hussein não teria hesitado em usá-las e, depois, pela falta de confiança generalizada em relação aos EUA - ao seu governo, bem entendido.

Vigília pela Paz / Noite Branca pela Paz - 21 para 22 de Março de 2003:

"Jardim da Celeste", mesmo ao lado do "Ryan's" - Ribeira, Porto.
"Noite Branca pela Paz - Nesta noite de sexta-feira, 21 de Março, dezenas de bares e cafés do Porto tomam o partido da Paz! - Porque é preciso travar a espiral da guerra infinita, vem beber um copo pela paz!" - diz o panfleto da ATTAC (que anuncia a iniciativa).
Que raio de ideia! Com roteiro (no verso) e tudo! E numa sexta-feira (à noite), quando todos os bares são concorridos por natureza...

São 2:50 da manhã de 22 de Março. (Noite de 21. n.a.)
Mais três mísseis "Cruise" caem em Baghdad, segundo a TSF. Um copo pela paz? Why not?
Ao reler as notas anteriores - continuo no "Jardim da Celeste" com a Bock Stout pela paz - vejo que não anotei a minha reacção às imagens da TV iraquiana após os bombardeamentos de 19 de Março.

Eram de um hospital.
Escolheram entrevistar um rapazito dos seus cinco ou seis anos, "alegadamente" ferido durante o ataque. Quer o fosse ou não, o certo é que me entristeceu, pelos milhares de crianças que esta guerra irá afectar. Depois de lhe terem feito perguntas sobre o ataque, os entrevistadores, um homem e uma mulher fora do alcance da câmara, perguntam ao miúdo: "Queres dizer algo à América?" Após um segundo de hesitação, o pobre pequeno tem um riso nervoso. "Que hei-de dizer?" - pergunta ele... "Que a América caia!" - indica-lhe a mulher (atrás da câmara). "Que a América caia!" - repete a criança, rindo ainda. "Longa vida a Saddam Hussein!" - insiste a voz da mulher. "Longa vida a Saddam Hussein!" - imita-a, de novo, a criança.
Os seus olhos têm uma tristeza imensa, apesar do seu indescritível sorriso...
Deus nos perdoe.

RS, An Illegal War Journal, 21/03/2003

.
Em 1996, no programa 60 Minutes, da CBS, a uma
pergunta relativa ao meio milhão de crianças

iraquianas mortas como consequência do embargo,
Madeleine Albright respondeu assim:
"It’s a hard choice, but I think, we, think, it’s worth it."

(A escolha é dura, mas eu penso, nós, pensamos que vale a pena.)
.
.
.
Criança iraquiana ferida pelos bombardeamentos
no início da ofensiva, 20 de Março de 2003.
imagem: Al-Jazeera هكذا فعل الصليبيون الجدد بالمسلمين في العراق



(*)
Frase atribuída a Ahmed Rami, marroquino, exilado político, simpatizante do Hezbollah e responsável por inúmeras iniciativas anti-sionistas, entre as quais a publicação de escritos de notórios revisionistas, que apoia em websites que promove. As boas causas estão recheadas de demónios... Mas há poucos "anjinhos" nas fileiras dos danados.
Já inocentes, são milhões de ambos os lados.

nota:
A imagem escolhida podia ter sido mais "gráfica", como é agora moda dizer-se, pois os exemplos macabros abundam. Foi recolhida na altura, por mim, e não pescada de um qualquer sítio onde é fácil encontrar fotos deste tipo, sem referência. A opção pela foto menos brutal é uma questão de sensibilidade. No entanto, penso que a vossa imaginação verá o que eu não quis mostrar.
.

segunda-feira, março 20, 2006

But... which is which?


Dois dos livros mais estranhos que
já li. Ambos são fantásticos, cada um
a seu modo. Um é alucinante; o outro
é alucinado. Adivinhem qual é qual.
...

...
Anne Clark - The Power Game - Trilogy - 47''
...

Stop . Rewind



Ainda se lembram como tudo começou?

Em 2003 levantei este assunto e fui mimado com uma chuva de adjectivos, no mínimo, curiosos.
E que nada havia a esconder! E que foram os árabes! E que é facílimo espetar com um 767 num mastodonte como era o WTC! E que o avião que entrou pelo Pentágono dentro se vaporizou, pois claro, como todos! E que qualquer um pode pilotar um monstro de mais de 60 toneladas a 10 ou 15 metros do solo durante centenas de metros! E que o edifício 7 do WTC caiu porque estava a arder! E que as torres cairam porque estavam a arder! E que foram os árabes, o Bin Laden, o Saddam e os estudantes de teologia! Pronto!

Ok. Mas não pensem que vou dizer:
"Não se fala mais nisso" - No way.


.
Para ir pensando. (Aconselho o download da versão não legendada, ficheiro WMP - "guardar como...")
Talvez regresse a este tema, depois do "diário".
...
Link para o vídeo cortesia do Sofocleto: Um Homem das Cidades.
.

Aí está ela.


.
.
.
.


Ou é o que dizem...

.
Fabio Biondi - Europa Galante

An Illegal War Journal . Day 2 . 2003/03/20







Dia dois
Death live on tv.



Mais bombardeamentos cirurgicos.
Vejo, ao vivo, através do vídeofone de Carlos Fino, o impacto de dois mísseis no Ministério do Planeamento, mesmo em frente ao seu hotel, do outro lado do rio. Também os dois palácios de Saddam Hussein nessa margem são atingidos. É a suprema ironia. Death live on tv.

Ainda não se trata, porém, do "espectáculo nunca visto" prometido por Rumsfeld; o tal que, quando começar, saberemos que começou. A ignomínia de tais declarações transcende-me. Como diria Miguel Portas, na TVI (o BE corrigiu o tiro, evitando enviar outro cordeirinho para o sacrifício, como a Joana, ontem!), não concebo como pode o responsável de um governo referir-se a bombardeamentos como a um espectáculo; só a embriaguês do poder o justifica. E a parvoíce, (evidentemente).

Entretanto, Mário Soares é claro: esta guerra é inutil e provocará uma hecatombe. Freitas do Amaral também, afirmando que, ao contrário do que diz o governo (de Durão Barroso), os portugueses devem estar preocupados. A propósito dos apelos do governo e do presidente para a unidade nacional, impõe-se a pergunta (feita por Fernando Rosas como por Freitas do Amaral): Unidade em torno de quê??

RS, An Illegal War Journal, 20/03/2003


Apesar da precisão impressionante dos
bombardeamentos, muito maior que em
1991, os danos colaterais voltarão a ser
uma constante inevitável.
O uso de Uranio empobrecido nos mísseis,
factor que aumenta o coeficiente de
penetração dos projécteis, também.






O Ministério do Planeamento é atingido.
Baghdad, 20 de Março de 2003.
imagem: www.angelfire.com War in Iraq


domingo, março 19, 2006

Time flows...





... like a river to the sea...

An Illegal War Journal . Day 1 . 2003/03/19







Dia um
A hora zero.


Possivelmente, a entrada mais longa do diário, sendo o início da guerra... (n.a.)

Estou em casa, frente ao televisor.
Em todos os canais se acompanha a contagem decrescente.
O relógio, a um dos cantos do écran, aproxima-se do zero.

Zero.

Começará de imediato? Com que intensidade? No Reino Unido, os B-52 estão de prontidão, mas não parecem ir sair tão cedo. Em Baghdad, a surpresa: Todas as luzes da Cidade Magnífica estão acesas.
Não há black-out.
Os iraquianos têm razão. Para quê? Com os modernos aparelhos de localização, qualquer piloto norte-americano encontraria qualquer um dos prédios da cidade no mais denso breu. Ao menos assim as operações dos paramédicos, dos bombeiros e da polícia serão mais fáceis... É a derradeira ironia.
A noiva do Médio Oriente não se apaga. Espera, apenas, o inevitável.

Escolho o canal 1 da RTP, mesmo sobre a CNN. Carlos Fino e o operador de imagem Paulo Camacho, através de um vídeo-telefone, estão em ligação contínua. Os comentadores convidados são, também, os mais equilibrados. Na SIC, já não há pachorra para Nuno Rogeiro e os seus imperfeitos - e até ridículos, dada a situação - modelos baratos de aviões e helicópteros norte-americanos, estupidamente colocados sobre a ponte de um grosseiro modelo de um porta-aviões (incluindo o bombardeiro B1 e o helicóptero Apache!).
Apesar de acertar uma de vez em quando, ao mexer nos modelos parece um rapazola a brincar às guerras com uma guerra real em fundo... Chega mesmo a invocar Edgar P. Jacobs para descrever o bombardeiro stealth B2, cujo modelo não conseguiu arranjar.
"Parece o Asa Vermelha!" - exclama ele - "O avião do Olrik!" Deus meu...
Mas isso seria mais adiante, já Fernando Rosas, outro convidado da SIC, que havia sido enxovalhado toda a noite por Rogeiro, decidira ir para casa. Foi o que fez melhor.

Quanto à TVI, a situação não era diferente.
O sr. Rato (o Vasco) era o "Bushman" de serviço, além de um rapazola do qual não sei o nome (que confunde "prevenção" com o código da estrada e acha que a ONU sanciona na sua Carta os ataques "preemptivos" - seja lá o que isso for em português!). Quanto ao Bloco de Esquerda, a pandeireta de festa era Joana Amaral Dias, uma jovem bem intencionada, mas muito verde... A certa altura, afirma que a cimeira dos Açores deu a Portugal uma visibilidade que não passaria despercebida aos terroristas. Todos a percebemos, "menos" o rapazola e o Rato. O rapazola tenta confundi-la, o que consegue, enervando-a, e a juventude dela vem à tona... Para ilustrar a sua "tese", recorre a um exemplo difícil e complexo, demasiado para s sua idade, talvez: a parábola do Pirata e do Imperador, da autoria de S. Agostinho.
Utilizada por Noam Chomsky para estabelecer um paralelo entre o terrorismo de indivíduos na clandestinidade e o aberto terrorismo de Estado, é uma imagem forte, complicada e com implicações tão sérias que, a menos que se esteja bem preparado para a defender, nunca deve ser invocada. Joana fê-lo e, dada a inocência com que o fez, o sr. rato veio em socorro do rapazola: "Não quer dizer com isso que os EUA são terroristas, pois não?" - pergunta. E diz, de imediato, a rapariga: "Não!" - só lhe faltando acrescentar um "credo!".
Um sorriso irónico passa pelo rosto do sr. Rato, que conclui, logo a seguir: "Ainda bem! É que Noam Chomsky queria mesmo dizer isso!" Pobre Joana. Foi um momento triste; até porque o sr. Rato, para tirar dúvidas, logo explicou à Joaninha "o que é o terrorismo", afirmando ser o uso da morte de inocentes para atingir fins políticos... Ainda que, então, Joana Amaral Dias tivesse visto a oportunidade de destruir o rato (o que duvido), já nada podia fazer. O seu "Não!" anterior condenou-a ao silêncio. Ficou assim por dizer, ao sr. Rato e aos telespectadores, que foi exactamente isso o que os EUA e outros andaram a fazer no Iraque durante os últimos doze anos. Mas isto também seria mais tarde.
Regressemos à hora zero.

Como o Nuno Rogeiro e o seu porta-aviões de brinquedo e o sr. Rato e o rapazola não me diziam nada de novo, decidi-me pela RTP 1. José Rodrigues dos Santos, que conduzia a emissão como "âncora", também me aborrece um pouco, mas não tanto, e teria um reflexo fabuloso, mais adiante.

Carlos Fino está na janela do seu quarto de hotel, com vista para a cidade. As sirenes tocam. Momentos depois, as antiaéreas disparam. Começou. Em 1991, os céus de Baghdad iluminaram-se com o fogo da artilharia AA e as suas tracejantes. Que diferença! Uns segundos de tiro e, de novo, o silêncio.
Instantes depois, era anunciado que o ataque não correspondia ao início dos bombardeamentos. Tratou-se de aproveitar um "alvo de oportunidade". (*) O alvo era a cadeia de comando iraquiana, possivelmente o próprio Saddam Hussein. Não se conhecem os resultados. Seriam 2:35 da manhã, em Portugal. Hora e meia depois da hora zero. O conhecimento prévio do local a atingir neste ataque implica, ou pelo menos sugere, informações a partir de Baghdad.
A presença de tropas especiais na capital iraquiana é avançada como hipótese, pouco provável. Também se diz que a informação teria sido dada por "dissidentes". A História o dirá. Certo é que começou. A confirmá-lo, é anunciada uma comunicação em directo de G. W. Bush. Aguardemos.

E então acontece!

O sinal vídeo, desde a Casa Branca, é colocado no ar pela RTP. G. W. Bush senta-se à secretária. Parece que vai começar, mas não. Desde técnicos de TV a maquilhadoras e cabeleireiras, todos andam em redor de W. Bush, medindo a luz, penteando-o ou sacudindo a caspa dos seus ombros! Inacreditável! E J. R. dos Santos exclama, expontâneo:
"Não dá para acreditar!"
E não dá mesmo. George Walker Bush, o olhar vazio de sempre, olha a câmara e os seus lábios vão formando as palavras "my fellow americans" enquanto o penteiam. Depois ri-se para alguém atrás da câmara e faz um gesto descontraído, tipo "let's rock!"... Nos momentos que antecedem a comunicação do início de uma guerra, G. W. Bush comporta-se como se estivesse a preparar-se para um discurso de campanha eleitoral. É deprimente. (**)

Lembro-me da imagem de JFK, tristemente só à janela da Sala Oval, antes do ultimato à URSS. Que diferença. Mas, como diria mais tarde um amigo meu, não é possível comparar um rato a um homem.
A declaração começa, depois de cinco minutos de "nonsense". (...) os dados estão lançados.
Que seja rápido.

RS, An Illegal War Journal, 19/03/2003










O pequeno W&N...
Imagem: Rui semblano



(*)
A propósito das expressões "target of opportunity" e "window of opportunity", aplicadas ao ataque de 19 de Março de 2003 que iniciou a guerra, os comentadores e jornalistas de todos os Media portugueses (em especial nas televisões) fizeram um verdadeiro filme, traduzindo-as das formas mais aberrantes e explicando-as com as imagens mais absurdas... O triste circo do protagonismo bacoco das "estrelas do telejornal" começa.

(**)
Chamada de atenção no topo da página dedicada a G. W. Bush na Wikipedia (hoje):
As a result of recent vandalism, editing of this page by new or unregistered users is temporarily disabled. Changes can be discussed on the talk page, or you can request unprotection.