sexta-feira, janeiro 23, 2004

Driving


Sobre a prevenção rodoviária é preciso ter a coragem de assumir de uma vez por todas que ela não existe. Ponto.

As alterações recentes ao código da estrada visam, principalmente, aumentar de forma exponencial o tipo, o número e o valor das multas. Muito pouco mais. O que é que isto significa? Que vamos ter menos acidentes? Que vamos ter condutores mais conscientes? Que vai deixar de morrer tanta gente na estrada? Nada disso. Significa apenas que todos teremos de pagar mais para andar na estrada.

Vou ser o mais sincero possível: não concordo com limites de velocidade fora das localidades. Para mim, é exactamente o mesmo que limitar os quilómetros que cada um pode fazer por ano. Já pensaram nos acidentes que se evitavam se cada condutor fosse obrigado a respeitar um limite de 10.000 quilómetros por ano? Cada qual é responsável por si e pelo estado de conservação da sua viatura. Por exemplo, em lugar de multar o excesso de velocidade da forma que tal tem sido feito, que tal uma inibição de conduzir por um ano quando se conduzisse sem a última revisão feita à mais de 5.000 quilómetros? Ou de três anos quando o veículo excedesse em mais de dois meses o limite da última inspecção? Porque multar o excesso de velocidade não evita acidentes; mais ainda, do modo como a multa é obtida, é um factor de potenciação de acidentes.

O que fazem a GNR/BT e a DT/PSP? Escolhem um sítio onde existe limitação de velocidade, montam uma emboscada, deixam que o excesso tenha sido cometido e, mais à frente, lá estão a causar um engarrafamento com os infelizes que foram apanhados na armadilha... Isto não tem nada de prevenção, caros amigos.

Em primeiro lugar, se existe uma limitação de velocidade, ela deveria ser aplicada a cada local segundo a sua especificidade, isto é, existem sítios onde a velocidade não é limitada só porque "está escrito", mas porque circular a mais de x km/h nesses locais pode ser realmente perigoso - ou existem obras, ou escolas, ou atravessamento de máquinas ou veículos agrícolas, ou a própria estrada é particularmente traiçoeira nesses troços. Tal só é aplicado em poucos casos. De resto, mesmo vias com quatro faixas ou mais e separadores podem estar limitadas a 50 km/h se "encostadas" a localidades. Isto é pura e simplesmente estúpido - mas uma benção para os agentes da autoridade!

Um exemplo na primeira pessoa:
A aproximação a Tomar, vindo do IC3, é feita por uma via de quatro faixas com separador central e boa visibilidade, possuindo mesmo zonas de segurança laterais para autocarros ou emergências. É uma zona industrial e deserta, mas existem passadeiras em determinados pontos; porém, tais passadeiras são bem visíveis à distância e encontram-se quase todas (arriscaria todas, mas não tenho a certeza) junto das rotundas existentes ao longo da via, que funcionam como um limitador de velocidade natural e onde não existe prioridade para quem nelas entra.
Faço esta estrada frequentemente, pois vou várias vezes a Tomar, sempre que estou em Alvaiázere, local que visito quase mensalmente, e nunca reparei a que velocidade circulava nesse sítio. Existe espaço e campo de visão, ultrapasso pela minha faixa esquerda, dado que tenho duas à disposição, e sou forçado a abrandar a cada rotunda, o que acontece a intervalos curtos da estrada. Pois essa zona (nunca tinha reparado, confesso, apesar da sinalização que é pouca mas existe) é considerada localidade e, como tal, limitada a 50 km/h. Nunca encontrei um peão numa passadeira, nunca lá vi um acidente, nunca vi um aviso de radar ou de zona de acidentes. É uma zona de condução muito fácil e tranquila, depois das curvas manhosas da EN110, antes do IC3, para quem vem de Condeixa.
Conduzia nessa via, com a Lina a meu lado, quando vi um flash, vindo de uma das áreas de segurança laterais. Nem me passou pela cabeça que fosse um radar, mas ela achou que sim. Estava a ultrapassar um automóvel que seguia na faixa da esquerda, pelo que tinha acelerado um pouco para o fazer. Logo após era a rotunda. E o pandemónio!

Era, de facto, um radar. Estava camuflado na berma da estrada, ocupando uma das áreas de emergência, num veículo preto de grande cilindrada (ou tamanho, pelo menos). Nem um aviso antes. Mas o melhor foi quando chegámos à rotunda. Adivinharam. A PSP de Tomar tinha montado um verdadeiro circo na própria rotunda, que não é muito larga, de modo que os automóveis infractores amontoavam-se por metade dela, encostados à berma em dupla fila! Havia mais carros parados que agentes para os multar (só enquanto estive parado, o rádio do agente que me multava anunciou mais três que não foram mandados parar por "falta de condições"! - depois mandavam a multa pelo correio...) e o polícia que me mandou encostar teve de saltar para o meio da rotunda para me fazer sinal, quase sendo atropelado pelo carro que seguia à minha frente! Uma festa autêntica!

Pois fiquei a saber que circulava a 90 km/h, ao ultrapassar o tal carro na tal via com quatro faixas e separador... Um autêntico perigo... Ao agente, só disse isto: "Ainda bem que conheço bem a zona e sei que é perfeitamente segura, pois caso não o fosse, bem me podia ter despistado e morrido ou matado alguém só para ficar bonito na vossa fotografia." Ele encolheu os ombros e disse, olhando para o verdadeiro batalhão de colegas: "Não posso fazer nada... Se a foto ficar bem, vai receber a multa..." Pois. O que importa é a porcaria da foto. A minha segurança e a dos outros que se dane.

No dia seguinte lá passei de novo, sem olhar para o velocímetro, como sempre. Tudo normal, nenhuma velocidade excessiva para o local, para o veículo que conduzo e para mim. Os 80, 90 do costume, digo eu, agora que já sei o que mede o radar quando passo... Numa estrada assim, diga-se a verdade, é impossível conduzir pela segunda faixa (a da direita) em segurança a menos de 70 ou 80 km/h. Se era para ir sempre a 50, que não fizessem quatro faixas, nem separador, nem áreas de paragem nas bermas. Mas que é um rico sítio para passar multas é; e este nem ao menos é perigoso, excluindo o circo montado na rotunda quando há operações daquele tipo.

A última multa que tive por excesso de velocidade foi em 1991, antes de Moledo. Conduzia a boa velha GS500 e fui mandado encostar da mesma forma. Eu, um BMW M3 e um Ferrari GTO (lindo de morrer!). Apesar de tirada numa "emboscada", não protestei. Foi bem passada. Que me tirem a foto a mais de 180 numa nacional, por muito seguro que eu e o meu veículo sejam (hoje já não faço estas coisas...), aceito perfeitamente. Agora o que não aceito é outra coisa: para além de ser multado da forma ridícula como fui em Tomar, não aceito que seja obrigado a conhecer todos os milímetros das estradas portuguesas e os seus pontos perigosos ou onde acontecem acidentes por excesso de velocidade. Tenho o direito de ser avisado antes e as autoridades não têm o direito de, nesses locais, jogarem com a vida das pessoas só para conseguirem "boas fotografias".

A solução?
Mesmo em sítios como o que descrevi em Tomar, onde o limite é uma parvoíce, é realizar operações frequentes com avisos prévios e de rotina sem existência de operação, mas com a presença dos avisos. Ninguém arriscaria ser "flashado" depois de ter visto que - por vezes - a PSP está mesmo lá. Bastaria isso para todos, mesmo estupidamente, reduzirem a velocidade. Isto seria particularmente eficaz em locais verdadeiramente perigosos. Mas não.
Claro que prevenir custa dinheiro, quase não dá uma única multita e exige muito trabalho da parte das autoridades. Deste ponto de vista, concordo plenamente que uma operação "emboscada" por mês enche o cofre, fica barata e não dá trabalho nenhum. Prevenção para quê? Mais vale investir em boas lentes e câmaras! A segurança na estrada que se dane.

Qualquer dia, ainda vou estar parado a falar com um agente da PSP naquela rotunda cheia de carros parados e me vai entrar um Subaru pelo carro dentro, a travar como um doido, para aí a 80 ou mais. Estou mesmo a ver a cara do agente, aos berros para o rádio!
"Diz-me que este cabrão ficou na fotografia!!"

E espero sobreviver, claro, para vos contar como foi. :)


nota:
Sobre uma entrada da Beatriz, no Divã de Portugal, sobre fumar e conduzir, apenas sugiro menos fundamentalismo. Qualquer dia somos todos obrigados a conduzir com reflectores na roupa, para o caso de termos de parar na estrada, à noite...
Pessoalmente, decidi adoptar a mesma postura de automóvel que tinha de moto: quando quero fumar, encosto e dou um giro ao ar livre. Nunca ninguém fumou neste automóvel, nem fumará em qualquer outro que venha a ter. Resultado: ainda hoje, quatro anos depois da sua compra, me dizem que "cheira a novo". ;)

quarta-feira, janeiro 21, 2004

The Boot


O Fabien tem razão.
Eu é que tenho de descalçar "a bota"...

MAS UMA AJUDINHA VINHA A CALHAR! (grrr...)

Clap Clap Clap


Nem me vou dar ao trabalho de comparar o State of the Union Address de 2004 com o de 2003, mas esta selecção serve às mil maravilhas para ilustrar o que vai pelos lados do Congresso dos EUA e o calibre do discurso deste ano...

--- quote ---

(...)
Key provisions of the Patriot Act are set to expire next year. (Applause.) The terrorist threat will not expire on that schedule. (Applause.) Our law enforcement needs this vital legislation to protect our citizens. You need to renew the Patriot Act. (Applause.)
(...)

--- end quote ---


extraído de WhiteHouse.gov

Ou seja...
W. Bush diz que partes fundamentais do Patriot Act vão expirar em 2004 e o Congresso aplaude... Logo a seguir afirma que a ameaça terrorista (A ameaça) não expira em 2004 e é aplaudido de novo... E mais aplaudido é ao afirmar em jeito de conclusão que é necessária uma renovação do Patriot Act...

Mas afinal o que aplaudiam os congressistas? Se a explicação para estes aplausos for a dos sectores de onde vieram (o primeiro dos democratas, o terceiro dos republicanos e o segundo de ambos, por exemplo) ainda vá lá, mas a julgar pelas imagens televisivas parece que toda a gente bateu palmas a tudo, não importa o quê... E ainda nos queixamos do nosso parlamento...

Resumindo, o autor da animação que ganhou o prémio do spot de 30 segundos dedicado a G. W. Bush acertou em cheio na previsão deste discurso. Terrorist-Terrorist-Terrorist-9/11-9/11-9/11-GodblessAmerica. Tadaa!!...

nota:
E gostei de saber que nada mudou com os resultados da invasão do Iraque. Afinal, os EUA não precisam de pedir autorização a ninguém para se defenderem. Na perspectiva de se defenderem outra vez na Indochina, se preciso for - mas na Coreia não! Não generalizemos, please!

Extraído da mesma fonte insuspeita:

--- quote ---

(...)
From the beginning, America has sought international support for our operations in Afghanistan and Iraq, and we have gained much support. There is a difference, however, between leading a coalition of many nations, and submitting to the objections of a few. America will never seek a permission slip to defend the security of our country. (Applause.)
(...)

--- end quote ---


Deixei o aplauso nesta, também. Achei giro. :)
Onward, Christian soldiers, marching as to war,
with the cross of Jesus going on before... Tralala...

The Rush


Pois é... Como diz uma amiga minha, quando a vida real aperta é a virtual que paga! O certo é que este meu lado da vida, a blogosfera, nada tem de virtual e não me agrada não ter podido publicar o que vou escrevendo nos meus cadernos... Mas o tempo não dá para tudo e este ano vai ser complicado!

Apesar disso, as próximas entradas falarão das primárias do partido democrata nos EUA, de prevenção rodoviária e, claro, do discurso do Estado da Nação de 2004, pelo "presidente" W. Bush.

Ainda me falta actualizar o CpI (que desgraça!) e as ligações nos Links Completos d'A Sombra, pois há novidades! - Isto tem a ver, também, com aquele "enigma" a que me referi antes. Vai ser um ano de mudança! E que mudança!

Obrigado a todos pela paciência!

Um abraço,

RS


nota:
Logo agora o Fabien decidiu entrar noutra das suas fases contemplativas...
Hey! Give us a hand here! :)