Mas o que se celebra hoje,
exactamente?
O 25 de Abril de 1974 não foi um movimento popular de raíz, mas um golpe militar que visava, antes de qualquer outra coisa, terminar com a guerra colonial.
Por este motivo a revolução veio depois da queda da ditadura e não antes. O que somos hoje, estabilizados em relativa prosperidade, foi o que se salvou de uma promessa que está ainda por cumprir.
E é muito pouco.
Entrada completa, abaixo. 6... ...
<Oriana Fallaci: Oiça, Cunhal, aqui não se faz mais nada que falar de revolução. Que revolução? As revoluções produzem-se quando participa o Povo. O 25 de Abril foi um golpe de Estado, não uma revolução.
Álvaro Cunhal: Nada disso! E se considera o M.F.A. como um grupo de conspiradores que um dia se reuniram para dar um golpe não compreende nada do que aconteceu em Portugal. Não foi um golpe; nós os comunistas declarámo-lo imediatamente. Foi um movimento de forças democráticas no seio do Exército, com reuniões de 400 oficiais de cada vez, que discutiam o modo de mudar o regime. (...)...
<“Nós, os comunistas, não aceitamos o jogo das eleições (...) Se pensa que o Partido Socialista com os seus 40 por cento de votos, o PPD, com os seus 27 por cento, constituem a maioria, comete um erro. Eles não têm a maioria”....<“Estou a dizer que as eleições não têm nada, ou muito pouco, a ver com a dinâmica revolucionária (...) Se pensa que a Assembleia Constituinte vai transformar-se num Parlamento comete um erro ridículo. Não! A Constituinte não será, de certeza, um órgão legislativo. Isso prometo eu. Será uma Assembleia Constituinte, e já basta (...). Asseguro-lhe que em Portugal não haverá Parlamento (...)”...<“(...) Nós, os comunistas, já tínhamos afirmado aos militares que o PPD não devia estar presente [nas eleições], que não se podia conduzir o país ao socialismo por meio de uma ampla coligação democrática. Mas eles quiseram juntar socialistas, comunistas, sociais-democratas e as diversas correntes do MFA... Tínhamo-los avisado de que as eleições constituiam um perigo, que eram prematuras, que se não se tomassem precauções as perderíamos”....<“(...) A solução dos problemas depende da dinâmica revolucionária; ao contrário, o processo democrático burguês quer confinar a revolução aos velhos conceitos do eleitoralismo (...). Democracia para mim significa liquidar o capitalismo, os monopólios. E acrescento: não existe hoje em Portugal a menor possibilidade de uma democracia como as da Europa Ocidental (...)”...Extractos da entrevista de Oriana Fallaci a Álvaro Cunhal.
O ‘Jornal do Caso República’ – jornal de luta ligado ao PS editado pelos directores e redactores do ‘República’ após este jornal ter sido tomado pela comissão de trabalhadores controlada pelo PCP – publicou esta entrevista, em 27 de Junho de 1975, intitulando-a ‘Oriana Fallaci põe Cunhal a nu’.
Curiosamente, no (hoje) meu "Entrevista com a História", edição de Novembro de 1975 do Círculo de Leitores, esta entrevista não aparece a não ser parte dela, impressa na própria... capa! Um pormenor delicioso.
Nas entradas seguintes, voltaremos aos Cravos de Abril.
Até então e um bom Dia da Liberdade.
Rui Semblano, 25 de Abril de 2006
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