sábado, maio 06, 2006

Entusiasmos...






Speed is not how fast you can drive
But how fast your mind works

Rui Semblano




A sinistralidade nas estradas portuguesas já fez verter muito mais tinta do que sangue e, ainda assim, a maior parte dela quase se esgotou numa palavra: velocidade.
Ainda há pouco tempo, n'A Fábrica, recordava ao Filipe Pinto que o resultado de um choque entre dois veículos que se movem a 50 km/h cada é igual ao choque de um deles a 100 km/h contra um obstáculo imóvel. Culpar a velocidade pela desgraça que é a condução em Portugal é demasiado fácil.

O que não se diz, mas é a pura realidade, é que o verdadeiro motivo para tanto acidente é a distracção; a total despreocupação com que se encara o acto de conduzir. De facto, conduzir um veículo automóvel tornou-se tão banal como ver televisão ou falar ao telemóvel, sendo encarado como algo simples, fácil, corriqueiro. Algo que qualquer um pode fazer. As razões para tanto sangue derramado na estrada começam aqui.

Quantos de nós não ouviram já a desculpa "estava distraído" aplicada à condução? E quantos de nós não a usaram já? Eu já a usei, embora a minha distracção seja algo diversa, 99% das vezes. Em determinadas alturas, estou tão concentrado na condução que falho uma saída, um desvio no trajecto. Nesses momentos, não tento "corrigir" o "erro", o que poderia resultar numa manobra muito perigosa; antes deixo-me ir no fluxo. Por contra, a maioria dos condutores pensa demasiado no seu trajecto e quase nada na condução. E a maior parte dos que estão ao volante viaja como se fosse um passageiro, alheios à estrada em si e tão atentos à paisagem como os que com eles viajam no automóvel.

Milhares de vezes a minha esposa não consegue evitar um "olha isto" ou "olha aquilo", ao que invariavelmente respondo "olha tu", quando conduzo. Adoro conduzir, automóveis ou motos, mas quando conduzo só a estrada me importa. No final de uma viagem, recordo esta ou aquela curva, o pior asfalto aqui e o paralelo acolá, aquele cruzamento manhoso, mas não tenho memória de castelos, de aves nos céus ou de qualquer ponto de interesse nas paisagens que atravessei. Não me lembro de nada nem de ninguém que não estivesse directamente relacionado com a minha condução ou no meu campo visual.
E a minha prioridade é sempre a mesma em toda e qualquer viagem: chegar vivo e em segurança. Para mim, a estrada é um local perigoso e os veículos que nela circulam são verdadeiras armas, prontas a disparar. Tendo consciência de que a maior parte dos condutores não faz a mínima ideia do que está a fazer, conduzindo como quem está a ver o Travel Channel, isto é, como quem está a fazer outra coisa qualquer, obrigo-me a ter atenção por mim e por eles.
Um exemplo:
Em condições de perfeita visibilidade, vejo um camião TIR que se desloca em sentido oposto a mim com um automóvel colado a ele. Eu vejo-os ambos e eles devem ver-me, mas reajo como se não fosse assim porque sei que a maior parte das vezes não é assim. A possibilidade de um dos condutores ir completamente distraído é assustadoramente elevada para que a ignore. O TIR dá sinal que vai encostar à berma e abranda; estou a aproximar-me e "sei" o que vai acontecer. O condutor do automóvel atrás do camião, apercebendo-se da sua eminente paragem, sai da sua traseira como se não houvesse mais ninguém na estrada. Se eu não "soubesse" que ele ia fazer aquilo, teríamos chocado frontalmente.

É um processo esgotante e que requer toda a concentração. Não atendo telemóveis, mesmo com o sistema de mãos livres, e raramente converso. Sinto-me como um piloto de caça em ambiente hostil e, a cada vez que chego ao destino, fico feliz por ter conseguido escapar mais uma vez, agradecendo aos céus e ao carro ou moto que conduzi (falo com eles como se fossem capazes de me entender).

Um veículo automóvel é uma arma.
Enquanto não se agir em conformidade, continuarão a morrer muitas pessoas nas nossas estradas, porque conduzem como se não fosse assim, porque não sentem que têm uma arma nas mãos e, com ela, a responsabilidade inerente ao porte e uso de arma. Conduzir nas estradas de Portugal é como ir à caça com um bando de distraídos que não faz ideia do que é uma caçadeira ou uma carabina e que, de vez em quando, disparam sem saber como e matam alguém, dizendo "Oops! desculpem lá! Estava distraído!".

Da próxima vez que conduzirem em viagem, mesmo curta, lembrem-se de que estão a atravessar uma zona de guerra, cheia de gente armada e inconsciente. Se assumirem essa atitude poderão não recordar nada das paisagens que percorreram, mas as probabilidades de chegarem vivos aos vossos destinos aumentarão dramaticamente.
E se quiserem ver as vistas ou conversar muito pelo caminho, por favor, vão de combóio.

Rui Semblano




So let's be careful out there.
Keep your eyes on that road.




Sukhwinder Singh, Sapna Awasthi feat. Panjabi Mc
Chaiyya Chaiyya Bollywood Joint - Inside Man ost

sexta-feira, maio 05, 2006

O bom vizinho...



Todos deveriam ter tido um vizinho assim.
Ao menos uma vez.



Joe Hisaishi - The Path of Wind - Tonari No Totoro [ost]


Ontem desapareceu mais um velho amigo.
O tempo não pára...
Já aproveitaram o vosso, hoje?

terça-feira, maio 02, 2006

Dorothy, tu é que tinhas razão!

Seja lá como, onde ou quanto tempo esteja fora,
não há nada como chegar a casa. :)

Uma boa semana a todos.

segunda-feira, maio 01, 2006

Mayday! Mayday!


A data de hoje tem um significado cada vez mais insólito, dadas as alterações que se deram no mundo do trabalho.
Há quem afirme que o fim dos contratos de trabalho estáveis, a conversão dos sindicatos em clubes de campo e a globalização aplicada ao livre trânsito de empresas e trabalhadores mais que a bens e serviços veio terminar de vez com o conceito de "classes". Talvez Marx fosse incapaz de reconhecer as classes sociais de hoje, mas que existem ainda é um facto.
Têm é outros nomes.
As finalidades, porém, mantêm-se.
Agora cruzem os bracinhos e repitam:
- Está tudo bem. Está tudo bem.



Zeca Afonso - Maio Maduro Maio - Cantigas do Maio



.....Editado e publicado em Al-Baiaz, cortesia de Gil Marques Carvalho.

domingo, abril 30, 2006

My God! It´s full of stars!

É o que sinto ao olhar o céu em noites como esta, por Terras do Falcoeiro!
Sempre fantástico! São milhares. Milhões!

Já tinha saudades.

(Um abraço aos que por aqui passam!)

Editado e publicado em Al-Baiaz, cortesia de Gil Marques Carvalho.