sábado, fevereiro 25, 2006

Fantasconto 2001 . The Sniper



Fantasporto 2001
Inspirado no
cinema sul-coreano

Rivoli
17 de Fevereiro de 2001
quarto fantasconto



A zona de tiro era a entrada de um hotel; 800 metros; vento zero; visibilidade 100.
Estava em posição. Era o final da tarde do primeiro dia de visita do ministro dos Negócios Estrangeiros à Cimeira de Segurança Interna e Externa, Desafios do Novo Século. Era o seu alvo. O protocolo incluía uma palestra para VIP's pelo Secretário de Estado norte-americano naquele hotel, onde estava alojado, a que compareceria o ministro. As medidas de segurança eram as normais, para a ocasião.

O apontador, desta vez, estava colocado em outro local; supostamente, um prédio mais próximo do hotel, de onde seria visível a aproximação das caravanas automóveis vindas do centro de congressos, na zona da Expo. O silêncio rádio era absoluto; só seria interrompido no momento do tiro. Os reflexos das luzes azuis das viaturas da polícia nos vidros da entrada do hotel denunciaram a chegada de um VIP. Ajustou o olhar à mira telescópica e acompanhou o Audi S6 blindado nos últimos metros até este se imobilizar à frente do hotel. No auricular, estalou a voz do controlador de tiro.
"Espera identificação."

A viatura oficial foi rodeada de agentes de segurança. Não eram nacionais.
"Secret Service. Oito. Alvo negativo."
Ele já tinha percebido. O alto funcionário saiu do automóvel e foi imediatamente rodeado pelos agentes, cobrindo qualquer ângulo de tiro. O funcionário estrangeiro que tinha na mira era o Secretário de Estado dos EUA. Não era o alvo? Quanto dinheiro fizera naquele ano? Dois milhões? Um pouco mais? Não chegaria aos três com aquele trabalho. Um insignificante ministro de um dos mais insignificantes países da Europa abatido para quê? Queriam mais paranóia? Mais segurança? Mais leis patrióticas? Menos direitos individuais? Então não era um ministrozeco que devia ser abatido à porta do hotel onde, momentos antes, entrara o Secretário de Estado norte-americano.

Regulou o tiro como se não existisse ninguém em volta do homem e premiu o gatilho secamente. O resultado foi espectacular. Um dos agentes colocara-se mesmo atrás do que cobria as costas do alvo, criando um obstáculo adicional, mas esse acaso não seria suficiente para deter aquela bala, já em voo. A munição, desenhada para perfurar a blindagem standard dos veículos ligeiros da NATO, desfez o primeiro guarda-costas como se fosse feito de cartão, atravessou o segundo sem problemas, apesar do kevlar e do primeiro impacto, e abriu um buraco no tronco do Secretário de Estado dos EUA que permitiria, à vontade, a inserção de um braço, de um lado do tórax ao outro. A seguir, os enormes painéis de vidro da entrada do hotel estouraram. Kennedy tinha razão. Era, realmente, impossível.

A voz do controlador de tiro estourou no seu ouvido.
"Alvo errado! Alvo errado, merda!"
A resposta foi seca.
"Alvo terminado."
Era a mensagem que sempre acabava os tiros. Desligou o rádio. Que se dane o pagamento.
Afinal, tinha acabado de rebentar com o próprio patrão.


Rui Semblano
The Sniper - Fantas 2001


Nota:
Este é o capítulo final de um longo Fantasconto, que iniciou o segundo caderno "Ghosts" que acompanharia os Fantas de 2001 a 2003. Hoje à noite, iniciou-se mais um Fantasporto, com "Coisa Ruim". Ruim mesmo, é ser mais um ano para o boneco. Ontem, a caminho do AMC para ver o Munique, a rótula da roda da frente direita do HLX partiu a 80 km/h. Ainda não sei porquê. Welcome to Fantas. Again...
Podem encontrar a lista completa dos Fantascontos editados n'A Sombra na coluna da direita.

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