sábado, outubro 11, 2003

Bredaguês


Pronto! O inevitável aconteceu.
A geração de doutores bacocos chegou aos centros de decisão do Ensino. Incapazes, eles mesmos e ainda hoje, de digerir Eça, Camões ou Camilo, ainda traumatizados pelos contactos com Redol ou Sophia, encalhados para sempre no Canto II d'Os Lusíadas e na página 16 d'Os Maias, ei-los que se preparam para fazer história, aprovando livrinhos escolares cheios de matéria mais palpável ao vulgo pupilo do Secundário, onde é suposto aprender a língua portuguesa.

Qual Pessoa, qual Florbela!
Venha de lá o Tomé e a Flauzina, o regulamento do "Big Breda" e a "Testenovela" com cruzinhas!
Só de pensar no tempo que perdi a ler o que me impingiram como literatura... Que um dia me sugeriram que, também eu, poderia ser um Álvaro de Campos ou um Miguel Torga... Que tristeza. Que desperdício!
Já estes novos aprendizes não são enganados.
Para eles não haverá ilusões de grandeza, mas certezas! Sim, que agora sabem o que podem, realmente, almejar! Ser um Zé Maria, um Marco, uma Flauzina! Não é o que lhes sugere aquele calhau com olhos que berra ao megafone que estão abertas as inscrições para mais um "Ganda Breda"? E não é o que lhes dirão os novos "manueis" de "bredaguês"? Em breve, num quiosque perto de qualquer um deles?

Para fechar (ou abrir) com chave d'ouro, só resta acrescentar os textos de referência que todos deviamos saber de cor; como os assinados por Catarina Furtado ("Tu também podes ser uma loira foleira") ou Manuela Moura Guedes ("A minha boca é maior que a tua").
Viva Bredagal! Viva!

nota:
ver Público, 11Out2003, p.26/27

Edição e publicação na cidade dos Senhores do Templo de Jerusálem.

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