sábado, abril 08, 2006

An Illegal War Journal . Day 21 . 2003/04/08







Dia vinte e um
Palestine (hotel).


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"Hotel Palestina atingido pelos norte-americanos".
O que eu temia aconteceu. (...) Relembro as palavras de um soldado norte-americano envolvido em combates de rua (Najaf? Nasiryah?), confrontado com uma situação parecida, há uns dias: "Parecia que um atirador se encontrava naquela janela, por isso um tanque disparou contra ela." Sempre siga...
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Hoje, dia 8 de Abril, os jornalistas filmavam os tanques norte-americanos na margem oposta do Tigre (desde as janelas dos seus quartos, no Hotel Palestina). Nas imagens (que depois passaram nas televisões) vêem-se dois Abrahams; estão bastante afastados. Um deles roda a torre no sentido dos ponteiros do relógio até o seu canhão estar alinhado na direcção do hotel, de onde está a ser filmado.
E o inacreditável acontece! Dispara!


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O nome, em língua inglesa, não em árabe, "Hotel Palestine", seria visível com binóculos, do ponto onde foi disparado o projéctil (o mesmo de onde foi tirada esta imagem, com teleobjectiva).
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imagem: Molly Bingham / CPJ
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Um dos quartos é atingido em cheio. Ao que parece, um jornalista tem morte imediata, outros três ficam feridos, um deles com gravidade. (...) tentam disfarçar este acto indesculpável, (dizendo que) ora foram os iraquianos, ora que o tanque disparou contra supostos atiradores que disparavam, por seu turno, desde o Hotel Palestina, ora foi um tiro "perdido". Balelas! As imagens, graças aos céus por elas, não deixam dúvidas.
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O Capitão Phillip Wolford, cujo tanque disparou o projéctil que atingiu o Hotel Palestina. Wolford disse depois que a ordem para disparar foi intuitiva, mas ficou demonstrado, pelo testemunho de vários militares envolvidos, que desde a detecção de um "brilho" no edifício até ao disparo decorreram pelo menos dez minutos. Tempo mais que suficiente para identificar o alvo como sendo o Hotel Palestina.
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imagem: Anja Niedringhaus / AP
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O estúpido do comandante do blindado deve ter visto (na melhor das hipóteses) o brilho da objectiva de um dos cameramen e assumido que se tratava de um sniper iraquiano ou de um posto móvel de um míssil Kornet antitanque. Ele deveria saber a localização exacta do hotel e quem lá estava. Pouco lhe importou. Se era um grupo de combate com um lança mísseis Kornet ou uma equipa da Reuters com uma câmara foi-lhe indiferente.
Esta atitude de "disparar primeiro e falar depois" dos norte-americanos deverá reduzir as suas baixas a um mínimo, mas causará muitas vítimas entre a população de Baghdad. A provar esta postura, imagens de uma fachada de um bloco de apartamentos alvejada indiscriminadamente (os disparos foram apanhados em vídeo!) pela aviação norte-americana. Quantas pessoas estariam naqueles apartamentos?

(...)
"Claro que estava à espera que o Hotel Palestina pudesse ser atingido por fogo cruzado durante os combates de rua; o que não estava à espera era que um tanque norte-americano disparasse contra o hotel desta maneira. (...) E mesmo que um sniper estivesse no hotel, o que nenhum dos jornalistas de todo o mundo aqui presentes confirma, alvejar um edifício que toda a gente reconhece como o centro de abrigo dos jornalistas estrangeiros em Baghdad com tiros de canhão nunca poderia ser a resposta adequada a tal situação."
Carlos Fino, hoje, ao telefone para a TSF (que foi duramente criticada por ter avançado esta notícia - diziam que era falsa, a "rádio Baghdad" e essas tretas...).
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RS, An Illegal War Journal, 08/04/2003
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In memoriam.
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Os cameramen José Couso (Telecinco) e Taras Protsyuk (Reuters) foram mortos a 8 de Abril de 2003, pelo projéctil norte-americano que atingiu o Hotel Palestina.
imagens:
(esq.) Pawel Kopczynsk / AP
(dir.) EFE Telecinco / AP
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nota:
A guerra do Iraque provou ser a mais mortífera para os jornalistas desde a II Guerra Mundial. Um total de 86 jornalistas e assistentes de reportagem foram mortos no Iraque desde o início da guerra; mais do que em 20 anos de guerra no Vietname ou na guerra da Argélia.
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(esta entrada foi iniciada a 8 de Abril, embora publicada na madrugada de 9)

Garra.

Miséria...







África hoje...

As notícias dentro da notícia,
que quase não se viram,
mas são importantes...



"«Em qualquer parte do mundo pode fazer-se 'jogging' e em Luanda sei que isso é possível. É a coisa mais simples do mundo, porque bastam uns ténis, calções e camisola», adiantou Sócrates (...)."
fonte: TSF Online

"Ir a Angola e não olhar para a realidade da violação dos direitos humanos no país é como ir a Roma e não ver o Papa. Levar a Angola 70 empresários portugueses, potenciais investidores no país, e condená-los a fazer parcerias com as empresas angolanas, como se sabe dominadas pela família de José Eduardo dos Santos, é o mesmo que entregar o ouro ao bandido. E fazer jogging pela manhã na marginal de Luanda com dez seguranças, batedores à frente e um carro da polícia atrás era, no mínimo, dispensável. Para não dizer provocador..."
"Sobe e Desce", Nacional
in Público, 8 de Abril de 2006

"Só faltava mesmo o primeiro-ministro português ter proposto ao Governo angolano o envio de professores de Inglês - esquecido, ele ou quem o aconselha nestes temas, que, em Angola, é ao português que um angolano do Norte recorre para se fazer entender com um angolano do Sul..."
"Os cinco esquecimentos de Sócrates" , David Borges e José Mário Costa (Jornalistas, naturais de Angola),
in Público, 8 de Abril de 2006

Não esqueçamos o que é África.
Não falta quem nos recorde.
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sexta-feira, abril 07, 2006

An Illegal War Journal . Day 20 . 2003/04/07







Dia vinte
Friendly Fire.


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Uma coluna de páraquedistas da 173ª e guerrilheiros kurdos, acompanhados por jornalistas, foi bombardeada pela própria aviação norte-americana. O comandante da coluna chamara o apoio aéreo para protecção, pois detectou blindados iraquianos nas proximidades, mas o piloto, ou pilotos, que responderam à chamada confundiram a coluna de Humvees, Pick-ups e Jeeps com os tanques iraquianos (!!!). Resultado da façanha: 17 a 18 mortos entre os kurdos, 4 a 5 mortos entre os páras norte-americanos e quase 50 feridos de todas as partes; o intérprete iraquiano que acompanhava a equipa da BBC integrada na caravana viria a morrer depois, vítima dos ferimentos provocados por este ataque, cujas imagens ficaram registadas pelo cameraman britânico, ferido ele próprio, gotas de sangue a cair sobre a objectiva. Friendly fire.
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O jogo do gato e do rato é agora substituído pelo do leão e da formiga. No Sul, Bassorá é dada como conquistada pela enésima vez, mas agora lá aparecem as imagens de tropas de Sua Majestade no centro urbano, embora logo se registem novos combates nos arredores da cidade. Afinal, o que significam as imagens? Quem controla o quê?
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Tanto em Bassorá como em Karbala, outra cidade em que a coligação logrou entrar, os habitantes manifestaram algum contentamento pela fuga dos esbirros de Saddam Hussein, mas não há explosões de alegria. Entrevistado pela BBC (ou pela Sky News, não me recordo), um habitante de Bassorá foi muito claro: "Agradecemos aos ingleses e aos americanos por nos terem livrado de Saddam, mas agora têm de se ir embora." - Nem mais. (O pior vai ser tirá-los de lá...)
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RS, An Illegal War Journal, 07/04/2003
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No comments...
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Destroços da caravana de forças especiais norte-americanas, guerrilheiros kurdos e jornalistas, atacada pela aviação dos próprios EUA. Segunda-feira, 7 de Abril de 2003.
imagem: www.angelfire.com War in Iraq.

Joyeux Anniversaire Petit Prince!...


Passaram 60 anos sobre a publicação em França de uma das obras-primas da literatura mundial:
O Principezinho, de Antoine de Saint-Exupéry. Nascido da pena do seu autor, num esboço realizado num café de Nova Iorque, foi por sugestão de um amigo que o personagem se transformou em livro. Editado nos EUA em 1943, só em 1946 seria publicado em França. Saint-Exupéry desaparecera 3 anos antes.

É uma obra que ofereci várias vezes (incluindo à minha esposa, ainda namorada), mas que nunca me ofereceram. Nunca tive, assim, o "meu" Principezinho. Nunca o comprarei. É um livro que se dá ou se recebe.
Apenas.


On ne voit bien qu'avec le coeur.
L'essentiel est invisible pour les yeux.

Bon anniversaire, mon Petit Prince...

Smokescreen


O governo prepara-se para proibir aos fumadores a frequência de espaços privados, como cafés, bares e restaurantes.

Não tarda nada, será proibido fumar a 50 metros de edifícios públicos ou, quem sabe, em plena rua.
O fundamentalismo está ao virar da esquina.

Será desta?




Já o disse e repito:
Que o Estado pretenda proibir fumar nos seus espaços é uma coisa; que pretenda proibir fumar na casa dos outros é outra. Isso só seria correcto se fumar fosse um crime, o que, para já, não é. O que está em causa, tal como no apartheid, é o estabelecimento generalizado de uma moral à margem da lei e que lesa os direitos de uns para benefício de outros. Mais do que negar o direito de entrada, por exemplo, num restaurante aos fumadores, nega o direito do proprietário do restaurante de determinar quem pode ou não frequentá-lo, de um modo geral negando o direito de escolha a toda a gente.

Se um café proíbe, por iniciativa do proprietário, que se fume, um fumador dirigir-se-á a outro café onde tal seja permitido. Se o Estado obriga TODOS os cafés a proibir a entrada a fumadores, estes ficam excluídos de frequentar cafés. É, portanto, uma lei de exclusão social.
Do mesmo modo, a acéfala opção das "salas de fumo", atirando para um canto os fumadores em TODOS os cafés, bares e restaurantes, é pura discriminação e, também, sinal de exclusão social.

Não me digam que os fumadores são livres de frequentar esses espaços DESDE QUE não fumem, pois isso é uma hipocrisia, para não dizer outra coisa. A partir da entrada em vigor desta lei, os fumadores que estiverem num restaurante ou num café terão de vir fumar para a rua, voltando a entrar de seguida, para continuar a ler o jornal ou a conversar com quem estavam. É lógico, não é? "Olha, não te esqueças do que ias dizer que eu vou lá fora fumar um cigarro e volto já." Mas isto cabe na cabeça de alguém?

O Estado NÃO PODE legislar sobre espaços privados quando o objecto da lei não é um crime. Se é possível proibir de fumar em cafés, também é possível proibir de fumar DENTRO da casa de cada cidadão. E que os não fumadores fundamentalistas apaguem os sorrisos e se ponham à tabela, pois um dia vão recordar esta sua "grande vitória" como uma das mais amargas derrotas dos SEUS direitos individuais. Lembrem-se disso, quando pegarem nos telemóveis para chamar a "polícia dos costumes".

Rui Semblano

nota (post)erior:
E agora vou ao café ler o jornal e fumar um cigarro, enquanto posso.
Um bom dia a todos. Quem sabe se um dos últimos bons dias para todos.

quinta-feira, abril 06, 2006

An Illegal War Journal . Day 19 . 2003/04/06







Dia dezanove
Friend or Foe.


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As propagandas do Iraque e dos EUA degladiam-se tão ferozmente como os combatentes no terreno. A vantagem é dos norte-americanos. Por muito crédulos que sejam os telespectadores, ouvir o ministro da "informação" Mohammed Al-Sahhaf afirmar que não existe um único soldado da coligação em Baghdad quando as imagens mostram blindados norte-americanos na margem oposta do Tigre é simplesmente ridículo.
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(...) Os combates intensificam-se no centro e em torno de Baghdad. Os iraquianos conseguem alguns sucessos; a destruição de um Abrahams aqui, de um Bradley acolá, mas nada que ameace seriamente a máquina de guerra norte-americana. (Penso que os combates convencionais terminaram, se é que existiram...) Algumas colunas blindadas da 3ª Divisão de Infantaria dos EUA avançam até aos palácios de Saddam Hussein, bem junto ao Tigre. das janelas do hotel Palestina, os cameramen das várias cadeias televisivas registam o momento. (...) Os G.I.'s deixam-se fotografar sentados nos sofás dos palácios e alguns oficiais têm o bom senso de impedir que outros coloquem a Stars & Stripes no exterior dos edifícios, agora abandonados. Mas a situação deteriora-se e a loucura expande-se, naturalmente.
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A embaixada russa deixa Baghdad e ruma à Síria, numa caravana motorizado, avisando as duas partes em conflito dos pormenores da evacuação. Apesar disso, são atacados por duas vezes, após terem deixado o último posto de controlo iraquiano. Como é confirmado por elementos da própria caravana, o ataque parte de forças especiais da coligação (Rangers? SAS?). O Pentágono desmente, acusando o Iraque, mas é Condoleezza Rice que vai a Moscovo acalmar os ânimos, afirmando que a tratar-se de um ataque realizado por forças dos EUA, este não foi intencional. (Come again?)
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RS, An Illegal War Journal, 06/04/2003
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Os iraquianos perceberam desde logo que nunca venceriam os EUA convencionalmente e há indícios de que o armamento está a ser escondido. Estão, evidentemente, a "deixá-los pousar"... No Vietname, os EUA chegaram a ter no terreno cerca de 500 mil homens.
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Crianças iraquianas brincam em cima de um blindado norte-americano destruído, em Al Dorah, arredores de Baghdad.
6 de Abril de 2003.
imagem: www.angelfire.com War in Iraq.
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Assim não brinco.


Não convencional.
Na imagem, entrada dos Campos Delta 2 e 3,
Base de Guantanamo, Cuba (EUA)
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De acordo com uma notícia que foi ontem divulgada no Público, as normas que regulam o tratamento de prisioneiros de guerra e a conduta dos beligerantes em conflitos armados já começam a mexer com os nervos do governo britânico ("Grã-Bretanha quer reescrever as convenções de Genebra", 05Abr2006).
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- quote -
O ministro da Defesa do Reino Unido, John Reid, defende grandes alterações nas regras internacionais que regem o comportamento em tempo de guerra, porque verifica "uma regressão deliberada dos adversários para o terrorismo bárbaro", e os soldados britânicos não podem continuar manietados pelas convenções de Genebra, noticiou ontem o diário The Guardian.
Num discurso no Royal United Services Institute for Defence and Security Studies, Reid pediu que seja reexaminado o tratamento a conceder a terroristas internacionais feitos prisioneiros; se defina o que é uma "ameaça iminente", para actuar antes da sua concretização; e se pondere a melhor altura de intervir, se houver crise humanitária.
Em todos estes casos, Reid considerou que o Reino Unido e o Ocidente, em geral, estão a ser prejudicados pelo direito internacional em vigor. As convenções de Genebra deveriam ser revistas, frisou, uma vez que "a paisagem estratégica e as suas ameaças são novas e de uma complexidade sem precedentes".
- unquote -

Teremos, portanto, uma Convenção de Genebra não convencional.
Qualquer dia, ainda veremos alguém ser encostado a uma parede e abatido na hora, sob suspeita de terrorismo (ou outra coisa qualquer). E já ninguém verá nisso nada de mais. Talvez nos recordemos do dia em que, para responder à "regressão deliberada dos adversários para o terrorismo bárbaro", os países "civilizados" decidiram adoptar a barbárie como resposta.

"Ignorância é Força"...
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Sorry 'bout that...



Colocar o volume a médio gás.
Era isto que estava a tocar em fundo.




George Benson - The Thinker - That's Right

imagem: JPD e os enchidos - algures a norte do Douro



O camarão directo de Matosinhos, fresquinho, o branco de Santa Marinha do Zêzere, idem, e a Sport TV. O Benfica na Champions' League! O JPD (na foto - "ganda 'nóia!"), meu padrinho de casamento e meu verdadeiro irmão (embora não realmente "meu irmão", no sentido convencional do termo), benfiquista de gema, viu todos os jogos do Benfica na Champions' cá em casa. A receita era sempre a mesma e deu sorte. Até hoje (ontem). Shucks... Correu mal.
O Simão... Deus do céu! Enfim...

Para completar a queda do mito, outra queda: a visualização de "Loose Change - 2nd Edition" . Acho que a queda de dois mitos numa só noite foi de mais! Anyway... São duas e tal da manhã, o JPD acaba de sair daqui e eu não publiquei o "Illegal War Journal" de hoje (ontem, dia 5). Get the picture?

Para completar, com os múltiplos cafés (cortesia da Siemens - design by Porsche), uma série de aguardentes de ameixa da minha sogra - para afogar as mágoas de Camp Nou e do 9/11 de 2001. Estão a ver, não? Resultado: vou tentar editar o "Illegal War Journal", mesmo neste estado (equivalente a CADEIA se fosse apanhado a conduzir - oops, o JPD está a conduzir! hehehe). Oh well, what the hell...

(hehehe...)

Craziest entry yet, man; since 2003. Wow...
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quarta-feira, abril 05, 2006

An Illegal War Journal . Day 18 . 2003/04/05







Dia dezoito
Aquilo é um míssil?


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Contra-ataque iraquiano em Baghdad.
Saddam Hussein aparece nas ruas da capital (imagens de ontem ou de antes de ontem), sorridente, rodeado de milícias e de populares extasiados (onde está a Guarda Republicana?). O Ministro da "Informação" "confirma" que um ataque "não convencional" teria sido efectuado no aeroporto, "expulsando" os norte-americanos para um bairro próximo, onde estariam cercados.
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O Pentágono nega ter perdido o aeroporto e afirma que cerca de mil iraquianos foram mortos no ataque ao mesmo. O Iraque, pelo contrário, diz terem sido mortos centenas de soldados norte-americanos no "tal" contra-ataque, e convida os jornalistas a visitar o local (??).
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Será curioso, se tal coisa suceder. Nem imagino o que aconteceria se isto fosse verdade (a versão iraquiana dos acontecimentos). O aeroporto nas mãos dos iraquianos e centenas de norte-americanos mortos? (Não me parece...) Cheira a propaganda, mas se tal fosse confirmado por jornalistas independentes "in loco"... Aguardemos.
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Uma coisa parece certa: Carlos Fino já afirmou que os iraquianos montaram baterias de artilharia pesada a centenas (duas, três?...) de metros do hotel Palestina, onde se encontram alojados os jornalistas. Ontem à noite, durante o contra-ataque iraquiano, um míssil terra-ar foi disparado perto e passou mesmo em frente à janela do quarto do jornalista da RTP.
Isto resulta em que os jornalistas estão entre a artilharia iraquiana e os norte-americanos - para não falar no apoio aéreo, que não tardará a atacar as posições iraquianas (dentro de Baghdad).
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RS, An Illegal War Journal, 05/04/2003
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Por mais que o "cromo" do ministro da desinformação iraquiano se esforce, há coisas que são impossíveis de desmentir. A presença dos norte-americanos no interior do perímetro urbano de Baghdad é uma delas.
Baghdad, como já disse, não será uma nova Leninegrado.
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Um blindado da 3ª Divisão de Infantaria no aeroporto de Baghad. Indesmentível. 5 de Abril de 2003.
imagem: www.angelfire.com War in Iraq.
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nota:
Apesar de editada na madrugada de 6 de Abril, esta entrada fica registada no último minuto de 5 de Abril, para efeitos cronológicos, é bom de ver. A razão está na entrada anterior, perdão, "seguinte".

One rule: eRule.




Depois de uma entrada
sobre burros,
uma sobre mulas!

Perdão, eMulas.
;)




A instauração de processos a portugueses que partilham música na Internet foi notícia há uns dias, com a entrevista de John Kennedy, da IFPI (Federação Internacional da Indústria Fonográfica), ao jornal Público. Agora, confirma-se que foram ontem instauradas 28 queixas-crime em Portugal, todas contra presumíveis uploaders, isto é, pessoas que disponibilizam música para upload através da Internet - in Público, Cultura, "Primeiros processos em Portugal contra partilha ilegal de música na Internet", 05Abr2006.

O que significa isto? Tão somente que todos quantos espalham aos quatro ventos que têm música para "dar" podem ter problemas. As plataformas indicadas no referido artigo do Público - desde o velho Kazaa ao Soulseek - não enganam; só os que claramente divulgam a troca de ficheiros audio com música serão perseguidos, pois são facilmente identificados pela forma ostensiva como anunciam esse "serviço". Ainda assim, não se tratando de comércio, pois não se vende música nas plataformas peer to peer dedicadas à troca de ficheiros, a defesa não será muito difícil, pois não se consegue provar que existe uma relação directa entre a partilha de música na Internet e a quebra de vendas de CD's originais; é pura especulação. Por contra, já existe uma relação entre a venda de CD's piratas e a baixa de lucros das editoras, mas isso é comércio - e outra história.

Ninguém, nem mesmo o autor, pode impedir a partilha da sua obra musical. Aliás, a partilha é o objectivo da edição de CD's musicais. Imaginem que cada CD só tocava para o seu proprietário e estão a ver o fim da indústria fonográfica mundial. Quanto à partilha e aos seus modos, ela é livre, desde que não resulte em comércio, ou seja, desde que eu não leve dinheiro por isso, posso emprestar os meus CD's a quem eu quiser. Posso mesmo oferecê-los! É o que todos fazemos, quando compramos um CD para dar de prenda a alguém, por exemplo.

Ninguém me pode impedir de passar música para os meus amigos ou de a partilhar com quem eu quiser. O que podem, e acho bem, é impedir-me de divulgar a toda a gente que tenho música para "dar", pois isso já é diferente. No caso do eMule, por exemplo, eu não divulgo coisa nenhuma. Tenho alguma música disponível no computador, alguém me pede para lhe emprestar essa música e eu permito-o. Ou não. Tal e qual como quando emprestava um álbum em vinil a um amigo, no século passado, ou um CD, nos dias de hoje.

O livre intercâmbio de documentos via Internet nunca poderá ser travado. O que pode ser travado é o comércio ilegal. Querem aumentar a venda de CD's originais? Ataquem as cópias piratas. Punam os que têm em casa torres de CD-RW's e DVD-RW's com capacidade para gravar 40 CD's num minuto. Desmantelem os circuitos comerciais de pirataria.
Agora...
Que me queiram chatear por eu emprestar um disco a um amigo sem lhe cobrar por isso um tostão, tenham dó! Mas aqui estou, se quiserem perder tempo.

Follow that eMule!

Rui Semblano

Património vivo.

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Desde muito novo que gosto particularmente deste simpático, voluntarioso e excelente animal. Trata-se do nosso Burro Lanudo, no caso, da raça Asinina de Miranda, do planalto mirandês.
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Graças ao Café Portugal e a Otília Leitão, de novo me cruzei com ele, e lembrei-me de o destacar aqui, como verdadeiro património vivo que urge manter, acarinhar e perpetuar. O esboço ao lado é de um dos meus cadernos e data de Agosto de 2005.
Apropriadamente, foi feito num café de Portugal, à vista do cartaz da AEPGA "Burros há muitos, mas estes estão em extinção" (ver aqui).

Para conhecer melhor este castiço asinino, use os links desta entrada, incluindo a imagem.
E, se puder, faça algo pela preservação destes animais. Enquanto é tempo.
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nota (post)erior:
O Café Portugal "tirou o burro d'A Sombra", na que é uma das mais simpáticas referências a este blog que já sucederam. Ao Rui Dias José os meus agradecimentos pelo seu gesto.

terça-feira, abril 04, 2006

An Illegal War Journal . Day 17 . 2003/04/04







Dia dezassete
Danos colaterais.


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Sem a Al-Jazeera no terreno, torna-se evidente a desinformação do regime iraquiano. Hoje, não restam dúvidas que uma força estimada em mil homens da 3ª Divisão de Infantaria dos EUA tenta controlar o aeroporto de Baghdad, mas o Ministro da "Informação" iraquiano, na TV nacional, não só nega o facto como afirma que as tropas da coligação mais próximas da capital estão a 150 km. Já não existem as imagens da televisão do Qatar para mostrar imagens actuais do aeroporto e as da TV iraquiana são, como sempre, um mau exercício de propaganda; um exercício melhor dominado pelas televisões "ocidentais", embora com discrepâncias (imagens que não conseguem situar ou velhas de dias...).
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Das Divisões da Guarda Republicana nem sinal. Uns afirmam que se furtam ao combate, outros dizem que foram incapacitadas, outros ainda que recuaram para o centro de Baghdad (esta última é para rir). Ninguém sabe de nada.
(...)
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Como resultado do apoio aéreo de proximidade em ambiente urbano (na protecção das tropas que atacam o aeroporto), começam a chegar aos hospitais de Baghdad muitos feridos civis e, hoje de manhã, algumas centenas de habitantes da capital fugiram para nordeste, em direcção ao Irão. A escolha não deixa muitas dúvidas: serão shiitas.
... ...
Foi confirmado por jornalistas britânicos que as "cluster bombs" estão a ser usadas sobre civis iraquianos. Muitos países já baniram este tipo de armamento vergonhoso dos seus arsenais, assim como as minas terrestres. Os EUA (e, aparentemente, o Reino Unido) não o fizeram.
...
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RS, An Illegal War Journal, 04/04/2003
...
...
O avanço sobre Baghdad consumou-se. Será uma questão de dias, até que a cidade esteja ocupada. Quando estará sob controlo é outra questão. Talvez nunca...
...
...
Saddam Hussein aparece na TV iraquiana, passeando nas ruas de Baghdad. As imagens não parecem ser de dia 4.
Sexta-feira, 4 de Abril de 2003.
imagem: www.angelfire.com War in Iraq.

The Hermit



O Eremita


Introspecção,
busca,
orientação,
solicitude.






Virtual Crime - Ghost in the Shell OST

...
...
Ainda este espelho nos separa,
como sempre. E de nada adianta
imaginar que o reflexo nele somos nós,
livres, e nós o reflexo, cativos.
...
Cativos, como é próprio do que somos,
das convenções que ratificamos sem ler
as letras minúsculas no verso das páginas
que não lemos e onde levianamente
deixámos os nossos nomes completos.
...
Do outro lado do espelho não há convenções.
É o que pensamos, ou o que sonhamos.
Lá, o nosso reflexo é livre de ir aonde quer
e fazer o que bem entende como é de sua vontade.
E nós, a nós presos, nada mais podemos

que deixá-lo ir, até perder de vista...
...
Rui Semblano
...
Os Dias do Tarot n'A Sombra: INDEX.

segunda-feira, abril 03, 2006

Not my day...

A edição da entrada anterior foi um pouco atribulada. Primeiro não apareceu o título, depois esqueci-me de um parágrafo da entrada de ontem no meio do texto e ainda de alterar o subtítulo... Oh well... Agora está tudo bem. Quer dizer... Acho eu! ;)

As minhas desculpas aos primeiros leitores.

RS

An Illegal War Journal . Day 16 . 2003/04/03







Dia dezasseis
Às portas de Baghdad.


... ...
(...)
De manhã, surge a notícia de que a 3ª Divisão de Infantaria dos EUA tentava controlar o aeroporto de Baghdad. Esta força, agora a mais avançada e desgastada da coligação, teria contornado Karbala e avançado para a capital (esta última parte confere).
O intrigante é que, ainda ontem, Carlos Fino se deslocara de Baghdad a Hilla (perto de Karbala), testemunhando posições defensivas da Divisão Medina sem danos de maior, e não verificando a presença de tropas dos EUA na zona.
...
(...)
A confirmar-se esta tentativa de controlar o aeroporto da capital, é o assalto a Baghdad que se inicia. Se os norte-americanos esperam, porém, reabastecer a frente de Baghdad através do aeroporto da própria cidade podem ter surpresas desagradáveis. Hoje mesmo, a Sul, onde é suposto terem a situação "controlada", um caça F-18 Hornet foi abatido por um míssil terra-ar. Não estou a ver um Galaxy a tentar aterrar em Baghdad sem que a cidade esteja conquistada. Deste ponto de vista, tomar o aeroporto é uma solução táctica inteligente, mas sem consequências imediatas.
...
À hora de almoço, Carlos Fino e Paulo Camacho entram em directo no Jornal da Tarde, via satélite. Estão no jardim em frente ao hotel Palestina, local usado por todos os jornalistas em Baghdad para as suas transmissões diurnas via satélite. Fala em "normalidade" e, de facto, assim parece. Como é hábito, o Ministro da "Informação" iraquiano veio desmentir a "tomada" do aeroporto, situado dentro do perímetro urbano de Baghdad, afirmando mesmo que a 3ª Divisão de Infantaria dos EUA não está a avançar. (Desta vez, como em outras, a História viria a dar-lhe razão: o assalto a Baghdad começaria no dia seguinte - pelo aeroporto, precisamente - e a 3ª Divisão estava parada, de facto; o problema com este "cromo" é saber quando fala verdade e quando inventa - tal e qual como os porta-vozes de Washington; a escola é parecida.)
... ...
(...)
A desinformação é sistemática de todos os lados, e os Media ocidentais fartam-se de cometer gaffes, como o Público, hoje mesmo, que repetia a falsa notícia de ontem sobre a "destruição" de uma Divisão iraquiana. É preciso calma e capacidade de análise. Isto está muito longe do fim e, como um comentador dizia hoje, devemos estar preparados para uma ou várias surpresas, não necessariamente boas para a coligação.
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RS, An Illegal War Journal, 03/04/2003
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Na madrugada de hoje, realizou-se a operação de "folclore" que cobriria de ridículo os militares norte-americanos. Saltando de Black Hawks, forças especiais e operadores de câmara entraram aos tiros por um hospital dentro, algemaram um dos doentes à cama onde se encontrava, encostaram os médicos e enfermeiros à parede e... "libertaram" Jessica Lynch.
GO! GO! GO!
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Army PFC Jessica Lynch.
imagem: Department of Defense, USA
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This is CNN.

No final de Março, o programa Showbiz Tonight, da CNN, destacou uma entrevista de Charlie Sheen (veja o programa neste link) em que o autor falava das dúvidas que tinha sobre o que realmente aconteceu a 11 de Setembro de 2001. Na sequência deste programa, foi conduzida uma sondagem com esta pergunta:

"Concorda com Charlie Sheen quando este diz que o Governo dos EUA encobriu os acontecimentos reais por detrás dos ataques ocorridos a 11 de setembro de 2001?"

Responderam 53.426 norte-americanos. Eis o resultado final.

....

É de mim, ou já existem mais de 80% de "maluquinhos" nos EUA? Os ventos mudam...
By the way: Isto é CNN, não Al-Jazeera.
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Triumvirate



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"A morte tende a encorajar uma visão depressiva da guerra."
Donald Rumsfeld
"O nosso país tem de se juntar para se unir."
George Walker Bush
"Não toleramos actos de tortura, dentro ou fora do país."
Condoleezza Rice
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A propósito de uma entrada d' O Caderno de Corda.
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nota:
Cada imagem tem relação com uma entrada d'A Sombra. Click. ;)
nota 2:
A ordem dos slogans do INGSOC foi alterada por motivos gráficos.
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domingo, abril 02, 2006

An Illegal War Journal . Day 15 . 2003/04/02







Dia quinze
Crimes.


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Hilla é uma cidade 80 km a Sul de Baghdad.
Foi bombardeada violentamente. Um comité da Cruz Vermelha, no local, referiu um "cenário de horror" (sic). Mais de 250 feridos, entre os quais dezenas de estropiados. Todos civis.

Os norte-americanos não comentam. O Pentágono critica rispidamente as vozes que, nos Media, contestam abertamente esta estratégia de invasão e ocupação (clamando "antipatriotismo"). Rumsfeld já não sorri tanto e, quando julga já não estar a ser filmado, o seu rosto crispa-se. É o início do fim da administração G. W. Bush (pode demorar, mas começou aqui).

No terreno, os progressos são muito lentos, agora. Como fizeram em Bassorá e Nasirya, as tropas da coligação desistem de tomar Karbala e rumam a Baghdad. A 4ª Divisão Mecanizada - supostamente a nata das unidades do exército dos EUA - só agora começa a chegar ao Koweit. Não controlando as cidades, como esperam controlar o Iraque? (Ou a questão é controlar apenas Baghdad?). A única forma de controlar a situação de modo suficiente (e ainda assim não garantido) será colocar meio milhão de homens no Iraque. Isso pode vir a ser impossível, mas demoraria muitos meses, em todo o caso. É um novo Vietname em gestação.

[Para hoje, está convocada para Lisboa uma marcha de protesto, organizada por estudantes (início às 16:00). O Governo Civil de Lisboa proibiu o desfile (!!) recorrendo a uma lei de 1974 que apenas permite desfiles e marchas a partir das 19:30 ("da tarde", como diz a Governadora Civil - tão nova, coitadinha) e ao fim-de-semana. Como dirigente académico, já percorri a baixa do Porto em plena manhã de um dia de semana, com direito a escolta policial e batedores! Dois pesos, duas medidas; é intimidação pura. Os estudantes já foram avisados de que incorrerão em desobediência qualificada, caso avancem para a marcha. A ironia é que se trata de reivindicações puramente estudantis, não um protesto directo contra a invasão do Iraque (se calhar o Governo, o Civil e o da República, têm medo que a coisa degenere...).]

A anedota do dia:
O Alto Comando da coligação anunciou a destruição completa em menos de 24 horas de uma divisão da Guarda Republicana, ligeiramente a Sul de Baghdad. Significa isto o aniquilamento de 15 a 20 mil homens e cerca de 200 blindados em um dia. Pouco depois, o próprio comandante da divisão em causa veio desmentir tal coisa, acusando 15 mortos e algumas dezenas de feridos. De 15 a 15.000 é um saltinho. Aguardemos.

Entretanto, pelo sim pelo não, o Iraque expulsou a Al-Jazeera de Baghdad. Depois ainda dizem que é um instrumento de propaganda iraquiano. Os ocidentais não compreendem a relação de amor-ódio entre o mundo árabe e Saddam Hussein.
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RS, An Illegal War Journal, 02/04/2003
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Começam a chegar aos aeroportos,
aos milhares, sob o calor de outro sol.
As imagens são familiares.
Relembram Saigão...
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Os primeiros 5.000 soldados da 4ª Divisão

de Infantaria chegaram ao Koweit.
2 de Abril de 2003.
imagem: www.angelfire.com War in Iraq
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Guess what...






Scratch is back!
That's what!

Nothing but love...

(hm, hmm)
Happy birthday to you
Happy birthday to you
Happy birthday
Happy birthday to you!
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A tua estrela sempre brilhou no meu Walk of Fame, Cat.
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And now, the present.
Eu, o George, a Diana e a Erykah, gostaríamos de te dizer que...
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Feliz aniversário!
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Os meus agradecimentos ao TheOldMan e ao PiresF. Eles sabem porquê. ;)
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Gone are the Ides of March...

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Assim se foram os Idos de Março,
e nós permanecemos, mas não os mesmos.
Nunca os mesmos, apesar de esquecermos
muitas vezes o que escreveu Pessoa, um dia.
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Ao verde segue o seco, e ao seco o verde,
E não sabe ninguém qual é o primeiro,
Nem o último, e acabam.
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(final de Clearly Non-Campos - Álvaro de Campos)
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Sim, o mundo segue, lá fora.
Indiferente...
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Pascal Rogé - Gymnopédie n3 - Erik Satie