segunda-feira, junho 22, 2009

Neda é o seu nome.

neda


Neda Agha-Soltan (Persa: ندا آقا سلطان - Nedā Āġā-Soltān; nasceu em 1982, morreu em 20 de Junho, 2009)


As imagens do assassínio de Neda ainda estão comigo. Acredito que sempre estarão. Como as imagens de Mohammed al-Durrah, o rapaz de 12 anos morto com o seu pai durante a Intifada de 2000, em Gaza. Ao contrário da imagem do homem do tanque fotografada por Jeff Widener em Tiananmen, em 1989, as imagens de Neda e Mohammed mostram a morte de completos inocentes, mortos apenas por estar ali. Não estavam em frente a um blindado. Estavam apenas na rua, no dia em que morreram.

Neda Agha-Soltan não estava a atirar pedras aos Basiji ou a gritar contra o regime dos Ayatollahs, nem sequer estava perto de manifestantes a agir desse modo. Era uma mulher que caminhava na rua, vindo de ou indo para uma manifestação contra o governo que oprime o seu povo, um direito concedido pela constituição iraniana. Apesar disso, foi seleccionada e abatida a sangue frio enquanto caminhava pacificamente, no que é um sinal claro da verdadeira natureza do regime Iraniano: o fascismo.

Ela era uma mulher no Irão. Uma mulher que, como tantas outras, de tantas e tão variadas formas, aspirava por mudança. Ela, como tantas outras mulheres iranianas, ganharam nova esperança com o movimento nas ruas de Teerão, de Esfahan, de Tabriz, de Kerman, grassando como fogo em palha seca. Isto faz da sua morte um símbolo maior para os que buscam a liberdade, pois verdadeira liberdade implica a dignidade do ser-humano e o ser-humano não tem dignidade quando os seus direitos básicos são suprimidos. Tornou-se uma mártir de uma causa maior, muito maior do que outras causas que se alimentam do martírio. Ela não morreu nas barricadas, na linha da frente desta luta, mas andando pacificamente pela rua; ela morreu não por ter ousado ser livre, mas por sonhar ser livre.

As bestas fascistas que a assassinaram, como todas as bestas fascistas, não aprenderam que é impossível matar o sonho. Mas tentam. Tentam com todas as suas forças e todos os seus meios. Não terão sucesso. E, apesar disso, no mesmo momento que escrevo estas palavras, fora do Irão cresce o medo deste fogo que cresce. O papel do Twitter, do YouTube e do Facebook na revolta iraniana é menosprezado cada vez mais; os paranóicos do controlo no poder tentam ajustar-se, compreender como isto é possível e como manipular e bloquear a verdade nesta nova era da informação; os ditos "fazedores de opinião" esbracejam desesperados num mundo em que a opinião não mais é exclusiva e em que a palavra enfim subjugou a espada; os falsos profetas da democracia gritam e vomitam bílis desavergonhadamente para tentar deter este desastre aparentando acarinhar valores que desprezam; agora vertem lágrimas falsas por Neda, quando o mundo sabe quantos inocentes como ela mataram antes. Para os libertar, naturalmente. Sem vergonha.

Espero verdadeiramente, como muitos outros, que a morte de Neda, e as mortes de centenas de outros iranianos, não tenha sido em vão. Espero verdadeiramente que o povo iraniano conquiste finalmente a sua liberdade e abrace a verdadeira democracia, abandonando a religião como estrutura social e entrando no mundo moderno, mantendo a sua fé enquanto direito individual. Espero verdadeiramente que todos nós aprendamos finalmente como respeitar os iranianos e como os ajudar a atingir esses objectivos e, enfim, parar de arranjar formas de lucrar com este tipo de mudança e com isso servir interesses que em nada respeitam ao povo iraniano. Num mundo em convulsão, os revoltosos iranianos são heróis. Lembremos Neda, mas nunca esqueçamos os que permanecem lutando por aquilo a que ela aspirava e que nunca terá. E acima de tudo, asseguremos que eles o terão. Para eles mesmos.

Inch'Allah.


O meu obrigado a Navid Aghabakhshi pela ajuda na correcta escrita de "Neda" em Farsi, na imagem acima. Khayli mamnoon.


[simulpost004/09: aqui em inglês (in Jack & Honey)]

neda

terça-feira, junho 16, 2009

Bliss of another kind...



Hoje fui (mais uma vez) agradavelmente surpreendido pela minha esposa. (*) Estava embrenhado no Twitter em tempo real do tópico #iranelection quando reparo que tenho uma mensagem directa dela - método que os twitters que se seguem mutuamente usam para comunicar em privado. Tinha simplesmente um link e a exclamação "Taaaa Daaaa!".

Ao seguir o link fui dar a um novo blog (**), de sua autoria! Ainda tenho o sorriso estampado na cara.
Aqui fica a ligação e, claro, o Hysterical Roots passa a constar dos blog links sp, n'A Sombra, bem como da lista Blogosphere Watch, no Jack & Honey.

Bem vinda à blogosfera, minha querida.
Que as "raízes histéricas" cresçam e proliferem!



Tori Amos . Bliss . Best Of Tori Amos




* A imagem é um esboço tirado do meu Moleskine de 2007. É fácil adivinhar quem é.
** Curiosamente, ela escolheu para o "Hysterical Roots" o mesmo template do "Local & Blogal"! E esta?

[simulpost002/09: aqui em inglês (in Jack & Honey)]

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segunda-feira, junho 15, 2009

Power to the Twitter.


Sim, viver na Europa, onde as notícias internacionais são parte importante e significativa do ciclo noticioso de televisão, rádio e jornais, estragou-me com mimos. Ainda assim, sempre confiei na Internet como complemento da informação, e procurei na blogosfera e outras redes sociais o que se escrevia sobre o assunto em questão. Agora que vivo nos EUA, aquilo que já sabia tornou-se evidente: as notícias internacionais, no dia a dia, são extremamente escassas e a cobertura do que de importante acontece fora de portas é sofrível. A última bisbilhotice em Washington ou o mais recente pseudo-escândalo político arrebatam por completo ciclos noticiosos diários, deixando pouco ou nenhum espaço para outra coisa. E ao fim-de-semana é para esquecer - repetições infindas de velhas notícias e programas prégravados, quase nenhum espaço para reportagem em directo.
Agora adivinhem o que aconteceu este fim-de-semana...

O mundo tinha os olhos postos nas eleições iranianas e esperava uma dramática mudança de acontecimentos; Ahmadinejad enfrentava a oposição credível de Mousavi e os níveis de votação revelavam-se fantásticos. Então, duas horas após o encerramento das urnas, veio o anúncio oficial da vitória de Ahmadinejad com mais de 60% dos votos. Sabendo que se tratavam de votos em papel que teriam de ser sujeitos a contagem manual, só isto indicava que algo tinha corrido terrivelmente mal. Não tardou nada que os iranianos, indignados, saíssem à rua gritando "Fraude!". A blogosfera explodiu e aceder à informação que existia em Teerão tornou-se mais e mais difícil; telefones, electricidade e servidores de Internet deixavam de funcionar. Enquanto a tensão atingia um dos pontos mais altos, a polícia em buscas porta a porta para retirar discos de satélite e os estudantes encurralados nas faculdades, Larry King entrevistava um "biker" na CNN (prégravado, claro). Sem Internet, saber dos acontecimentos que ocorriam em Teerão teria sido impossível. Os jornalistas estrangeiros no Irão encontravam (e ainda encontram) inúmeras dificuldades na realização do seu trabalho e muito pouco do que se estava a passar transpirava para o exterior. Com todos os canais de comunicação convencionais cortados ou censurados pelas autoridades iranianas, uma nova plataforma de comunicação demonstrou ser eficaz na esquiva ao corte de informação, resistindo então e ainda a todas as tentativas para o neutralizar. O Twitter.
Os iranianos com uma conta no Twitter, que já antes servira para a organização da campanha eleitoral, desencadearam uma torrente de informação, organizada em tópicos e contas colectivas e contando ao mundo, em tempo real, o que lhes estava a acontecer. Não tardou muito para que lhes encontrássemos o rasto e a informação começou a fluir nos tópicos principais, os "Trending Topics", de forma avassaladora. Claro que as fontes são muitas e muitas delas questionáveis ou mesmo dedicadas a desinformar, mas para quem está habituado a filtrar fluxos de informação na Internet é relativamente fácil saber quem é e quem não é de confiar.
Tópicos como #iranelection tornaram-se a fonte principal de notícias vindas de Teerão e de todo o mundo, com actualizações em tempo real do que estava a suceder no terreno e do que estava a ser confirmado por fontes fidedignas; do estudante num telhado de Teerão ao último alerta noticioso da Al Arabiya assistíamos ao desenrolar da História como nunca antes e, mais importante, participávamos nela activamente, editando as nossas próprias descobertas ou passando (retwitting - RT) informação importante ou adicionando uma nota pessoal, uma mensagem ou um comentário.

Aqui fica uma amostra do que está a passar no Twitter enquanto escrevo:

@persiankiwi confirmed - there is shooting in Azadi sq. protesters wounded and shot, no numbers yet, still hearing gunfire. #Iranelection
MarjonRostami: Thanks to everyone updating #IranElection. You are making a difference. Time to focus on work. I'll update as I get calls from Iran.
iran09 RT @PouyanA: CONF! there is #shooting in #Azadi sq. protesters wounded and shot, no numbers yet, still hearing gunfire. #Iranelection
jimsciuttoABC #iranelection sev reports of pro-govt militia firing on protesters, AP photog reports one protester dead
dailydish More Video Of The Crowds: CNN gets some video, finally. But then you hear a simple statement from the anchor tha.. http://tinyurl.com/l6tvrw
RuiSemblano RT @LaraABCNews: Iranian State TV reports gun shots at Mousavi rally; AP photog sees govt militia fire at protesters #Iranelection

O último tweet (entrada no Twitter) é meu... A milícia governamental dispara contra manifestantes na Praça Azari, em Teerão. Um dos tweets este fim-de-semana reflectia um sentimento que não é novo, o de que fosse um jornalista americano a ser morto em Teerão e teríamos cobertura 24 horas sobre 24 nos canais de televisão dos EUA.
Vivemos num mundo cínico. Hoje temos os olhos postos no Irão, mas por quanto tempo? Aproveitemos ao máximo, pois, e asseguremos aos iraquianos o apoio que necessitam - não enviando tanques e bombas, mas fazendo saber que não estão sós e fazendo ouvir as suas vozes.
Mousavi não é um Obama, certamente. O seu passado demonstra, claramente, aquilo em que acredita no que respeita a relações externas, mas a sua visão do que deve mudar na sociedade iraniana faria uma enorme diferença e, talvez, seria um passo decisivo na direcção de uma vida melhor para os iranianos e de uma nova postura mais honesta em relação ao resto do mundo. O Irão mudará ao seu próprio ritmo e a partir de dentro, tal como o Iraque teria mudado. Se o tivéssemos permitido. A única forma que a democracia tem de acontecer num país é através da vontade e do sacrifício do seu povo. Talvez os apologistas da "Exportação da Democracia" devam aprender este facto hoje, mas não penso que o aprendam pelo simples facto de que estão bem conscientes do que defendem e porquê - e não é a exportação da democracia, seguramente. Tal como o simpático clube privado que mais não é que um bordel, a fachada deve manter-se por razões de relações públicas, para que o verdadeiro negócio continue no seu interior.

O que percebi este fim-de-semana foi que existe sempre esperança para os que amam a liberdade e temem o sempre crescente controlo da sociedade por grupos de interesses ou governos, especialmente no controlo da comunicação e da informação. Há sempre maneira de fazer saber a verdade e no mundo de hoje surgiu uma ferramenta que demonstra esta inevitabilidade, mesmo através da mais densa treva. Usemos o Twitter, pois, e passemos palavra.


[simulpost001/09: aqui em inglês (in Jack & Honey)]

nota post(erior):
O poder dos twitters:

[quote]

Monday, June 15, 2009

Down Time Rescheduled

A critical network upgrade must be performed to ensure continued operation of Twitter. In coordination with Twitter, our network host had planned this upgrade for tonight. However, our network partners at NTT America recognize the role Twitter is currently playing as an important communication tool in Iran. Tonight's planned maintenance has been rescheduled to tomorrow between 2-3p PST (1:30a in Iran).

Our partners are taking a huge risk not just for Twitter but also the other services they support worldwide—we commend them for being flexible in what is essentially an inflexible situation. We chose NTT America Enterprise Hosting Services early last year specifically because of their impeccable history of reliability and global perspective. Today's decision and actions continue to prove why NTT America is such a powerful partner for Twitter.
posted by @Biz at 4:17 PM


[unquote]

Extraído de Twitter

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terça-feira, junho 09, 2009

Remodelação...



Os mais curiosos já deverão ter descoberto o meu novo blog
em terras do tio Sam, construído de raíz no novo sistema
de edição do Blogger.
Chegou a altura de actualizar o template d'A Sombra.
Não se admirem se o esquema habitual parecer caótico
nos próximos... hmmm... dias?

Mãos à obra.



(big smile now, eat healthy!)