sábado, março 24, 2012

Março 22. Portugal.

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A greve geral de 22 de Março foi marcada por vários incidentes envolvendo jornalistas que cobriam o evento. O mais divulgado foi o da agressão a Patrícia Melo, fotojornalista da AFP que fotografava a manifestação que decorria no Largo do Chiado. Os polícias da PSP não gostaram de ser apanhados em filme e, possivelmente após tirar a foto que reproduzo abaixo, Patrícia Melo foi violentamente agredida à bastonada, visível na sequência que se exibe no início desta entrada, captada por um colega da agência Reuters.


Momentos antes, uma foto de Patrícia Melo, AFP

Mas não foi só Patrícia Melo a ser agredida pelo simples facto de ser uma profissional da comunicação social com uma câmara em punho. No mesmo local, José Sena Goulão da Lusa foi também agredido à bastonada pela polícia, terminando por necessitar tratamento hospitalar, e a cena repetiu-se um pouco por todo o lado, em mais um exemplo clássico de como os governos lidam com a liberdade de informação, reforçado aliás por instrucções precisas a gestores de empresas públicas para não responder a qualquer pedido de informação sobre a greve da parte da comunicação social.

Estas tentativas de supressão, restrição e controlo da informação por parte de quem detém o poder são práticas generalizadas há muito e se hoje são mais visíveis pelo simples facto de que cada cidadão com um telemóvel é um potencial fotojornalista com capacidade de publicar o que capta em redes sociais de impacto mundial, devemos recordar que sempre existiram em formas mais ou menos violentas e com resultados mais ou menos graves, dependendo da localização dos mesmos no tempo e no espaço. No Chile dos anos 70, por exemplo, Patrícia Melo poderia "desaparecer" convenientemente, depois de receber tratamento. No Irão de hoje, talvez desaparecer mesmo antes de receber qualquer tratamento. O poder lida sempre muito mal com manifestações públicas de descontentamento e protesto, e uma vez após outra reage com o mesmo desgosto e desapontamento de quem tenta fazer o melhor pelos que, ignorantes, reagem contra as suas acções políticas. Afinal, ou se respeita a democracia ou se é antidemocrata.

Chamem-lhe greve geral ou manifestação expontânea ou qualquer outra actividade pública que resulte na demonstração de descontentamento mais ou menos organizada de cidadãos pela forma como são governados, a cartilha democrata de resolução de conflitos com a base popular diz sempre o mesmo: é preciso salientar o direito à indignação e à liberdade de expressão - pedras basilares da democracia - e logo a seguir reduzir esse direito à condição de catarse, de toda a maneira impossível de sobreposição ou, Deus nos livre, alteração do direito supremo de governar conferido aos detentores do poder pela mesma base popular que tem todo o direito de protestar contra os seus eleitos.

A democracia, tal como a conhecemos, dá absoluto poder e exige submissão absoluta - com a ressalva da ocasional manifestação pública de descontentamento, na condição de que se extinga minutos após, resignada ao poder do voto popular. E sempre com o mesmo olhar paternalista de quem não percebe muito bem como quem escolheu lebre não se contenta com gato, o poder explica que quando prometeu lebre ignorava o real número de lebres existentes e, sobretudo, a imperativa necessidade de escolher gato! Tudo a bem da Nação.



Patrícia Melo de câmara apontada, claramente ameaçando as forças da ordem.

A bastonada ilustrada nesta entrada é a expressão desse desgosto paternal de quem pretende dar ao mundo a imagem de responsabilidade e autoridade que convém passar e acha que a maneira de o fazer é transmitir a noção de respeito às massas, nem que seja à força de censurar qualquer outra imagem que o desminta ou desautorize. É uma prática desajustada à realidade actual, mas que ainda retém o poder de conferir um certo descanso e reconforto a quem, do alto mais alto, observa atentamente. Nada de novo ou particularmente eficaz, portanto, mas todavia significativo.



O segundo seguinte.

As agressões generalizadas de 22 de Março, sobretudo contra os cidadãos que se manifestavam nesse dia por todo o país, demonstram o desconforto sentido pelo poder quando confrontado com a manifestação pública de descontentamento popular e também o tal desgosto paternal que menciono acima, qual pai tirano que é forçado a dar uns tabefes no filho rebelde que não sabe nem tem capacidade para entender a lógica que lhe é imposta para seu próprio bem, atitude reforçada pelo facto de que nesta história o "filho" foi quem escolheu o "pai".
Este desgosto desconforável tem vindo a crescer em todas as democracias ocidentais, que cada vez mais olham a China como o tão desejado e infelizmente impossível (para já) exemplo a seguir. Ah, como tudo seria mais simples se a cidadania se confinasse em fábricas de iPads e iPhones paga ao cêntimo/hora e sem outro direito que o de trabalhar até cair. Lá chegaremos. Ou não.
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domingo, março 11, 2012

Ghost dancing.

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More disturbing news from Afghanistan today... A US service man seems to have lost it and allegedly went on a killing rampage, targeting civilians for no apparent reason and killing many of them. In this type of military engagement, also known as conventional warfare, things like this happen all the time. Unfortunate? Yes. Avoidable? Hardly. War is a nasty business, always was and always will be. When you have thousands of kids out there, armed and ready to go, things can turn ugly at any time. And the more the conflict endures, the more likely some incidents like this will happen. (...)

[ler a entrada completa no Jack & Honey]
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sábado, março 10, 2012

Jean Giraud (Moebius) . 1938-2012


 
Desapareceu um dos meus fazedores de sonhos predilecto. Moebius, Jean Giraud de nascimento, sucumbiu a noite passada após prolongada doença. Foi com o Incal que o descobri, nos idos de 80, e esta obra prima marcou-me para sempre. E como custaram a passar aqueles 3 anos entre "Ce qui est en haut" (ver a minha página do Facebook - e ainda aqui) e "La cinquième essence"! Meu Deus, publiquem lá o final! E então descobrir com um misto incrível de desapontamento e excitação que Jodorowsky e Moebius haviam dividido o quinto e último episódio da saga em dois, "Galaxie qui Songe" e "La planète Difool". Era apenas o primeiro volume! Aaaargh! Que raiva e, ao mesmo tempo, que magnífica satisfação! A Quinta Essência teria duas partes.

As aventuras do detective privado de classe R John Difool, do seu inseparável Deepo, de Animah (a adorável Alma), de Tanatah, do implacável e terno Metabarão, do impagável Kill cabeça-de-cão e do fantástico Solune, o andrógino perfeito, estão gravadas na minha memória e fazem parte do que sou tanto como a literatura, a pintura, a escultura, a música, o cinema, a fotografia e toda a arte que nela habitam. Ah, a Arte e os bonecos da banda desenhada... Talvez por todos esses desenhos tomarem vida na minha mente à medida que os absorvia, por lhes dar vida e música e dimensão, por lhes ter sido dada alma pelos génios combinados de Alejandro Jodorowsky e Jean "Moebius" Giraud, os integrei tão fácil e avidamente em mim como qualquer outra grande obra de arte que tive a felicidade de ler, observar ou escutar.

Moebius ficará para sempre presente na sua vasta obra e, como cada vez que um talento desta magnitude se extingue, fica a saudade do muito que ainda havia para conhecer e que, por agora, permanecerá algures fora do nosso alcance, quem sabe na garagem hermética onde Jean Giraud agora desenha... Gosto de acreditar que é assim.

[ver esta entrada no Jack & Honey]
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quinta-feira, fevereiro 23, 2012

José.

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Parece impossível, mas já passaram 25 anos desde que o Zeca se foi. A cada 25 de Abril a Grândola passa depois do adeus, às vezes filosofal, de quem nem sabe bem quando nasceu Portugal. Precisamos de outro Zeca, e outro mais ainda, a cantar o país de hoje antes que o resto seja fado.
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Sete fadas me fadaram
Sete irmãos m'arrenegaram
Sete vacas me morreram
Outras sete me mataram

Sete setes desvendei
Sete laranjinhas de oiro
Sete piados de agoiro
Sete coisas que eu cá sei

Sete cabras mancas
Sete bruxas velhas
Sete salamandras
Sete cega-regas
Sete foles
Sete feridas
Sete espadas
Sete dores
Sete mortes
Sete vidas
Sete amores

Sete estrelas me ocultaram
Sete luas, sete sóis
Sete sonhos me negaram
Aqui d´el rei é demais
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sábado, fevereiro 18, 2012

Whitney E. Houston . 1963-2012

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Espero que Whitney esteja agora num sítio melhor, e também espero que ela possa ver o que estou a ver agora. O seu memorial. A sua vida, através das suas canções, tocou a minha por vezes de forma significativa. E fez o mesmo para tantos outros em tantas outras formas, tão diversificadas como significativas... Ouvindo os testemunhos em discurso e canto no seu memorial, observando a explosão de sentimento só possível na igreja baptista da Nova Esperança onde a sua voz nasceu para o mundo, tão intensos e respeitosos e solenes... Faz com que a verdadeira extensão desta perda se revele, como se revela para milhões em todo o mundo que partilham a mesma ligação com Whitney, independentemente da sua forma.

Espero que Whitney esteja agora num sítio melhor. E nesse lugar, onde quer que seja, a sua voz será ainda boa o suficiente, como Kevin acabou de dizer. Ainda é suficientemente boa para mim, neste momento, e sempre o será. Aos que tentam diminuir a sua vida, os seus feitos e essa voz, mesmo quando o seu corpo repousa sobre o chão dessa igreja, digo apenas que se calem e mostrem algum respeito. Asseguro-vos que quando chegar a vossa vez de repousar num qualquer solo de um lugar qualquer, esperando ser transformados em pó, não terão de se preocupar com o menosprezo alheio.

Descansa em paz, Whitney Elizabeth Houston. Serás recordada com saudade.
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quinta-feira, fevereiro 16, 2012

Eco. Talvez um.




The power of blogs...
Realmente, quem tem um blog tem tudo e quem não tem não tem nada.

(Fabien Jeune - n'A Sombra, 12 de Julho de 2003)