No âmbito da entrada anterior, sobre o tipo de missões a desempenhar pelos militares do EUA num Iraque controlado pelos próprios iraquianos, é o próprio Senador Kerry que, de forma leve e irreflectida, sugere as Operações Especiais como o mais indicado. Esta sugestão implica uma drástica redução do número de militares no terreno; de facto, quase todos os efectivos dos fuzileiros, do exército e da Guarda Nacional, restando algumas unidades de protecção às bases de apoio das forças especiais, geralmente Rangers ou Deltas, por vezes SEAL's.
O que Kerry não explica é como resultaria no Iraque uma táctica que, no passado distante como no recente (Vietnam e Afeganistão) não apenas se revela errada como conduz à escalada do nível de intervenção para as forças regulares.
Não vou recorrer ao Case Study vietnamita (francês ou norte-americano), para não ser acusado de comparar o incomparável. Vou referir-me ao Afeganistão, país islâmico, no qual a intervenção militar da OTAN está em pleno curso. De facto, nesse país, o contingente militar norte-americano é muito menor que no Iraque (uma proporção aproximada de 1 para 10), sendo a maior parte dele constituído por forças especiais, desempenhando as tais missões para as quais estão vocacionadas e deixando as operações de "rotina" para as forças da coligação. Resultado? Infelizmente, o exemplo melhor do fracasso da intervenção militar no Afeganistão é português. Um elemento dos Comandos portugueses, destacado para um perímetro que nada tem a ver com o teatro das forças especiais dos EUA, foi vítima de um engenho explosivo. Sem efectivos regulares que controlem eficazmente um país sem capacidade própria para o fazer, as forças especiais apenas "incomodam" o suposto inimigo, sem lhe causar grande dano. Daí o crescente apelo dos EUA à OTAN para um maior envolvimento. E por via do Iraque, claro.
No Iraque, à falta de carne para canhão europeia, são os miúdos dos Marines e os "weekend soldiers" da Guarda Nacional que cobrem as acções das forças especiais, e estas têm mais impacto, mas nem por isso a situação é melhor que no Afeganistão. É até bem pior, embora a proporção de norte-americanos mortos em combate seja de 10 para 1 em relação àquele país; exactamente o inverso das tropas em presença nos dois teatros. Porém, a esmagadora maioria destas mortes dá-se entre as forças especiais no Afeganistão e entre os regulares no Iraque.
Já devem ter chegado à mesma conclusão que os generais do Pentágono: não há modelos certos para situações deste tipo. Só os afegãos e os iraquianos podem resolver os seus problemas. A ajuda que G. W. Bush diz levar a esses países, a tal injecção de democracia, só causa problemas. Os europeus ocidentais, no geral, já estão mal preparados para lidar com a realidade islâmica, mas os EUA ainda o estão menos; sobretudo sendo um país tendencialmente contra tudo o que é árabe (entenda-se anti-israelita, que é o que eles entendem por árabe, na grande maioria).
Alternativas?
Agora não resisto, desculpem lá, mas talvez bombardear Meca. Já tentaram o mesmo em Hanói e deu no que deu...
Bottom line?
A retirada é inevitável. Resta saber quando vai G. W. Bush admiti-lo. A julgar pelo tempo que demorou a admitir que o enganaram quanto às ADM iraquianas, aí uns dois anitos. Esperemos que menos. E o Afganistão não vai ser diferente.
Fight the future...(the X-Files)nota de actualização:Sobre os militares portugueses no Afeganistão em A Sombra ver também aqui.