sexta-feira, dezembro 16, 2005

Acordo Ortográfico (é assim que se escreve?)

"Portugal pode pedir adiamento para aplicar Acordo Ortográfico"
(in Público, 16-12-2005)

E quando eu pensava que isto já estava esquecido e enterrado, eis que alguma alminha iluminada decide colocar a questão na ordem do dia, talvez por via de alguma obscura e perversa relação com a polémica prova de Português do 12º ano.

No artigo do Público de hoje, da autoria de Kathleen Gomes, uma das melhores descrições das reais consequências de pôr em prática este infeliz acordo:

“Quinze anos depois, os portugueses continuam a escrever "óptimo" e não "ótimo", "factura" e não "fatura" - uma das mudanças mais radicais previstas no projecto era a eliminação das consoantes mudas, "brasilificando" assim o vocabulário português.”

De facto, é disso que trata este famigerado acordo (perdoem-me, mas não me canso de o adjectivar); por muito respeito que me mereça o Brasil, até por ser filho de uma espantosa senhora que nasceu no Rio de Janeiro e ter família em Porto Alegre e Florianópolis, acho que Brasileiro é brasileiro e Português é português. O seu a seu dono. Os brasileiros não ganham nada com a meia dúzia de palavras que seriam “convertidas” para Português e nós, o que teremos nós a ganhar com as 2600 que seriam adaptadas a formas usadas noutros PALOP (a maior parte do Brasil)?
Talvez esteja na hora de ressuscitar o velho Movimento Contra o Acordo Ortográfico. Até porque é no silêncio dos povos que os déspotas encontram forças.

Que raio de país, onde os professores de Português consideram má a decisão do Ministério da tutela em voltar atrás no retirar do exame de 12º ano a essa disciplina e onde os neonazis acham que Marlene Dietrich era amante de Adolf Hitler (para além da Eva e de Blondi, claro!).
Será a ignorância mesmo uma benção?

2 comentários:

  1. Manuel de Sousa:
    Bem vindo a esta Sombra, antes de mais. A eliminação das consoantes mudas não é tão pacífica assim quando elas... falam. O "p" de óptimo e o "c" de factura acabam por se pronunciar - já o "c" de acção é inteiramente mudo.
    Quanto ao Brasil, não se pode falar sobre o (des)acordo ortográfico sem o incluir, pois a tendência será, não haja dúvidas, para começar em "ótimo" e acabar na gramática, isto é, em péssimo.
    Continuo a pensar que cada um deve falar e escrever a língua que tem e deixar a uniformização para outras vertentes civilizacionais que realmente teriam a ganhar com ela. Como os Direitos Humanos, por exemplo.

    Um abraço,
    RS

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  2. Manuel de Sousa:
    Caro Manuel de Sousa,
    Tem toda a razão ao apontar os casos do espanhol e do inglês, mas são exemplos que demonstram como a resposta para a unificação de um conjunto de países falantes da mesma língua não passa pela uniformização das diferentes vertentes dessa língua em uma só. Enquanto andamos preocupados em evitar que os portugueses escrevam "óptimo" e que os brasileiros digam "esporte", o papel da língua portuguesa vai diminuindo. Vão encerrando escolas de português no estrangeiro, vão diminuindo os apoios ao Instituto Camões, o risco de que desapareça da ONU e da UE como língua oficial aumenta... A diversidade não deve assustar ninguém. O que devia assustar muita gente é a facilidade com que a discussão dos pormenores insignificantes da inútil uniformização ortográfica leva a que seja esquecido o quadro geral. Na Argentina, fiquei a saber pela Antena 2, o ensino do português tem aumentado imenso, só que não é português, mas sim brasileiro. E daí? Enquanto nos esforçamos por permanecer "orgulhosamente sós" (esse velho e tão actual chavão salazarista) os brasileiros lá vão fazendo o seu papel. Dá que pensar.

    Um abraço,
    RS

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