terça-feira, março 21, 2006

An Illegal War Journal . Day 3 . 2003/03/21





Dia três
Les grands ne sont grands
que parce que nous sommes à genoux:
LEVONS-NOUS!



Amanhã será o dia da manifestação mundial contra a guerra. A segunda.
Espero que seja ainda maior que a primeira!

Peço ao Jorge para colar versões A4 dos cartazes que fiz para a manif no (café) Belas Artes. Um café contra a guerra, decididamente. As imagens de repressão das manifestações em todo o mundo sucedem-se. Impressionam, pela sua violência, as que chegam dos EUA.
(...) Os governos alinhados vão tentar intimidar os cidadãos. Será o seu erro definitivo.
Les grands ne sont grands que parce que nous sommes à genoux. LEVONS-NOUS! (*)

Por esta altura, já os comentadores (na TV) alertam para o risco de os EUA não encontrarem as alegadas ADM que dizem que o Iraque possui. Não creio que corram esse risco. Creio mesmo que estão prontos a encontrar ADM no Iraque, especialmente se elas não existirem. E poucos acreditarão que essas armas sejam iraquianas, desde logo porque Saddam Hussein não teria hesitado em usá-las e, depois, pela falta de confiança generalizada em relação aos EUA - ao seu governo, bem entendido.

Vigília pela Paz / Noite Branca pela Paz - 21 para 22 de Março de 2003:

"Jardim da Celeste", mesmo ao lado do "Ryan's" - Ribeira, Porto.
"Noite Branca pela Paz - Nesta noite de sexta-feira, 21 de Março, dezenas de bares e cafés do Porto tomam o partido da Paz! - Porque é preciso travar a espiral da guerra infinita, vem beber um copo pela paz!" - diz o panfleto da ATTAC (que anuncia a iniciativa).
Que raio de ideia! Com roteiro (no verso) e tudo! E numa sexta-feira (à noite), quando todos os bares são concorridos por natureza...

São 2:50 da manhã de 22 de Março. (Noite de 21. n.a.)
Mais três mísseis "Cruise" caem em Baghdad, segundo a TSF. Um copo pela paz? Why not?
Ao reler as notas anteriores - continuo no "Jardim da Celeste" com a Bock Stout pela paz - vejo que não anotei a minha reacção às imagens da TV iraquiana após os bombardeamentos de 19 de Março.

Eram de um hospital.
Escolheram entrevistar um rapazito dos seus cinco ou seis anos, "alegadamente" ferido durante o ataque. Quer o fosse ou não, o certo é que me entristeceu, pelos milhares de crianças que esta guerra irá afectar. Depois de lhe terem feito perguntas sobre o ataque, os entrevistadores, um homem e uma mulher fora do alcance da câmara, perguntam ao miúdo: "Queres dizer algo à América?" Após um segundo de hesitação, o pobre pequeno tem um riso nervoso. "Que hei-de dizer?" - pergunta ele... "Que a América caia!" - indica-lhe a mulher (atrás da câmara). "Que a América caia!" - repete a criança, rindo ainda. "Longa vida a Saddam Hussein!" - insiste a voz da mulher. "Longa vida a Saddam Hussein!" - imita-a, de novo, a criança.
Os seus olhos têm uma tristeza imensa, apesar do seu indescritível sorriso...
Deus nos perdoe.

RS, An Illegal War Journal, 21/03/2003

.
Em 1996, no programa 60 Minutes, da CBS, a uma
pergunta relativa ao meio milhão de crianças

iraquianas mortas como consequência do embargo,
Madeleine Albright respondeu assim:
"It’s a hard choice, but I think, we, think, it’s worth it."

(A escolha é dura, mas eu penso, nós, pensamos que vale a pena.)
.
.
.
Criança iraquiana ferida pelos bombardeamentos
no início da ofensiva, 20 de Março de 2003.
imagem: Al-Jazeera هكذا فعل الصليبيون الجدد بالمسلمين في العراق



(*)
Frase atribuída a Ahmed Rami, marroquino, exilado político, simpatizante do Hezbollah e responsável por inúmeras iniciativas anti-sionistas, entre as quais a publicação de escritos de notórios revisionistas, que apoia em websites que promove. As boas causas estão recheadas de demónios... Mas há poucos "anjinhos" nas fileiras dos danados.
Já inocentes, são milhões de ambos os lados.

nota:
A imagem escolhida podia ter sido mais "gráfica", como é agora moda dizer-se, pois os exemplos macabros abundam. Foi recolhida na altura, por mim, e não pescada de um qualquer sítio onde é fácil encontrar fotos deste tipo, sem referência. A opção pela foto menos brutal é uma questão de sensibilidade. No entanto, penso que a vossa imaginação verá o que eu não quis mostrar.
.

Sem comentários:

Enviar um comentário