terça-feira, março 21, 2006

Poesia e J.S. Bach: o mesmo dia.

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J.S. Bach
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Paolo Beschi - Suite p/ Violoncelo n. 4 BWV 1010, prelúdio

Johann Sebastian Bach nasceu a 21 de Março
de l685, na cidade de Eisenach, na Turingia.
Teria hoje 321 anos de idade.
Parabéns, Johann. E obrigado.


E, como hoje dizem ser o Dia Mundial da Poesia, aqui fica um dos poemas que mais gosto e que tantas vezes declamei nas noites de poesia do saudoso Pinguim Café...

na primeira aula o mestre disse
vamos dar um nome a este curso
de rio sem nome a caminho do mar
sugiro que se chame não se chama
porque a matéria é só a frágil imensidão
onde o nosso íntimo gigante desagua
uma coisa mais profunda e acesa
que não sabemos o nome cá dentro
e por isso não vos dou matéria este ano
tendes que encontrá-la cada um por si
à medida que assimilais o íntimo gigante
essa coisa mais profunda e acesa
que todos temos cá dentro sem nome
e o mestre concluiu ide em liberdade
que a frágil imensidão vos aprofunde
trabalho para casa retirai solenemente
a marca do medo à vossa árvore

na segunda aula pediu-nos a marca
e todos a tinham menos eu
aos outros o mestre disse como não vedes
nada significa o medo sem a àrvore
de que vos serve saber que é uma figueira
se não me trazeis os figos
nem a força da terra nem a raiva das raízes
é o mesmo dizer estou vivo
mas não tenho amigos
e a marca do teu medo perguntou-me
sou eu a minha árvore respondi-lhe
e o mestre concluiu ide-vos liberdade
três dias de sede à vossa árvore de castigo
crescei por dentro até ao menino
quanto a ti que és a árvore
trabalho para casa que em ti circule o medo
e a seiva de um amigo

na terceira aula frágil imensidão o mestre
o mestre perguntou se já sentíamos o íntimo gigante
essa coisa mais profunda e acesa que
sem nome cá dentro desagua
na matéria sem marca nem medo
bem mestre não a sentimos ainda
mas chama-se amor vem no dicionário
e o mestre disse-lhes não dou mais aulas
trabalho para casa decorar o dicionário
todo palavra por palavra até ao exame
gritei-lhe sim mestre sinto-a e não tem nome
tu árvore podes ir adubar o teu amigo
corre-te nos ramos o sangue de um homem
disse-me a tua liberdade é o teu amigo



não se chama
de Joaquim Castro Caldas
in berlindes e abafadores (1979-1994)
edição de autor
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