sexta-feira, março 24, 2006

An Illegal War Journal . Day 6 . 2003/03/24







Dia seis
Refugiados. Resistência. Al-Jazeera e CNN. ADM.



Os campos de refugiados fora do Iraque permanecem desertos ao 6º dia de guerra. Em sentido contrário, muitos entram no país, decididos a lutar e morrer por ele, não por Saddam Hussein. Em vez de um levantamento popular (contra Saddam) as tropas da coligação encontram resistência - isto ainda no Sul, em Um Qasr, por exemplo, e Bassorá, região próxima do Koweit - uma zona shiita, tradicionalmente oposta ao regime de Baghdad.

A maior parte dos "ocidentais" está perplexa. Não entende. Não percebe o ódio que esta gente tem aos norte-americanos, tanto pela Palestina como por os terem abandonado em '91, quando se ergueram contra Saddam Hussein e este os massacrou perante o olhar impávido das tropas aliadas (e pela imposição do embargo que engordou Saddam Hussein e foi duríssimo com eles...).
Se isto é assim ainda no Sul, imagino como será no Centro, sunita, base de apoio do Baas. Os B-52 não encontram divisões iraquianas todas alinhadas no solo à espera dos tapetes de bombas. A Guarda Republicana está dispersa, aguardando, sofrendo o mínimo de baixas. E o 7º de Cavalaria prossegue disparado, na direcção de Baghdad, cometendo o mesmo erro dos alemães em 1941, quando alongaram excessiva e muito rapidamente as linhas de abastecimento, deixando-as para trás sem cobertura adequada. (Como em 1941, será a superioridade aérea a evitar o desastre imediato?)
Não é por acaso que as primeiras mortes em combate e os primeiros prisioneiros de guerra do lado norte-americano pertençam à Companhia de Manutenção 507 - parte da linha de abastecimento e logística que suporta a cabeça da ofensiva (onde se encontra o 7º). A pesar da superioridade aérea, esperemos que o galante 7º não cavalgue para um novo Little Bighorn perto de Baghdad. Não passam de uma fracção das forças que deveriam cercar a cidade; se os reforços não chegarem cedo, arriscam-se a ser cercados eles próprios. Quanto tempo poderão aguentar sem abastecimentos, com 42º C de temperatura diurna?

A ONU e o CICV começam a alertar para a eminência de uma catástrofe humanitária em Bassorá, onde milhares de civis estão sem energia e sem água. Cínicos, os aliados recusam entrar na cidade, o que implicaria muitas baixas entre eles. Preferem matar os sitiados à fome e à sede (os civis que, supostamente, vieram libertar incluídos). Coisas da guerra. Ao menos que o admitam.

A Al-Jazeera permanece a referência da cobertura televisiva do conflito (pois regista o que se passa do lado iraquiano). Não fosse por ela, já teríamos "chupado a pastilha" da tomada de Um Qasr, Bassorá, Nasiriyah, Najaf ou Al-Amarah, que a CNN dá como certa todos os dias para ter de o desmentir de seguida, dada a evidência das imagens da TV do Qatar. Por esta não esperavam eles!

Na TVI, o sr. Rato (Vasco) e Joana Amaral Dias (regressada do treino) continuam a fazer figuras tristes, embora a Joana esteja um pouco melhor; os olhares do Rato e do apresentador da TVI foram elucidativos quando a Joaninha saiu da casca, ao responder um rotundo "Não!" à pergunta manhosa "Se forem encontradas ADM no Iraque, esta guerra fica justificada, não acha?" Este apresentador da TVI disfarça muito mal o seu "americanismo primário"... O Rato, por seu turno, (...) já não me enerva. Começo a encará-lo como um desenho animado. Às vezes, até me rio.


RS, An Illegal War Journal, 24/03/2003


Fast Rewind: ADM: GBU-43/B
Massive Ordnance Air Blast (MOAB)
aka: Mother Of All Bombs - USA
Arma fabricada por encomenda para
uso na invasão do Iraque, não seria
entregue no início da guerra e perdeu
todo o interesse estratégico dada a
natureza táctica do conflito. (*)

Recorte: jornal Público, 16 de Março 2003 imagem: StrategyWorld.com


(*)
O tipo de arma ideal para "libertar" um país... Ou para preparar a "reconstrução"?

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