domingo, abril 09, 2006

An Illegal War Journal . Day 22 . 2003/04/09







Dia vinte e dois
Raiva.


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A notícia do ataque ao Hotel Palestina (e da morte dos dois cameramen) é dada pelo (jornal) Público como se fosse um episódio normalíssimo no meio desta guerra... Nem uma linha na primeira página. Nada. VERGONHA.
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(Chego às últimas páginas deste caderno.)
Tanto para dizer e tantos sentimentos misturados que se confundem, cada vez mais, em um só: raiva. Pura raiva. (...) ...
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Hoje, eram 16:34 horas em Baghdad, uma coluna blindada norte-americana chegou junto do Hotel Palestina. Perante a iminência de um vazio de poder, os jornalistas respiraram de alívio ao verem chegar os que ontem mataram dois dos seus colegas. Apesar dos riscos, em breve todos se misturam em plena rua; militares norte-americanos, jornalistas, populares e... "escudos humanos" (voluntários estrangeiros que se ofereceram para assim tentar evitar a destruição provocada pelos bombardeamentos). Aliás, de todos, parecem ser estes os únicos a manter a lucidez. Dois deles, um rapaz descendente de portugueses e uma rapariga (de quem ignoro a nacionalidade), mostram a sua indignação aos soldados norte-americanos, ela mostrando uma fotografia que não se percebe o que seja na televisão, mas que terá a ver com um dos muitos ataques "cirurgícos" a Baghdad.
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Os norte-americanos recusam-se a encarar os "escudos humanos". Então, como por magia, surgem dois (!!?) iraquianos com uma faixa tirada de um dos locais onde estavam os "escudos humanos", identificando-os, e nela, à inscrição "Human Shields" acrescentaram (ou alguém por eles, é o mais certo) a vermelho, pintado à mão, as palavras "Go home You US Wankers". (Onde é que um iraquiano foi buscar um insulto como "wanker" é algo que não cabe na cabeça de ninguém!) Deliciados, os soldados norte-americanos tiravam-lhes fotos...

O caos instala-se.
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RS, An Illegal War Journal, 09/04/2003
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(última entrada do primeiro caderno e da série "An Illegal War Journal", n'A Sombra)
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Os soldados norte-americanos cedo revelaram uma total ignorância do meio que os rodeava. Para eles, também, parecia chegada a hora de ir embora.
Mas não seria assim.
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O Cabo Edward Chin, de Nova Iorque, pertencente ao 3º Batalhão do 4º Regimento de Marines, coloca uma bandeira norte-americana cobrindo a cabeça da estátua de Saddam Hussein na praça próxima do Hotel Palestina. Seria tirada poucos minutos após, sendo substituída por uma bandeira iraquiana...
imagem: www.angelfire.com War in Iraq.
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nota tirada deste dia, que passou para o segundo caderno:

Na manhã de hoje, confirmando o que se adivinhava desde que a Cruz Vermelha Internacional anunciou a suspensão das suas actividades em Baghdad, começaram a chegar relatos de pilhagens nas zonas da capital onde os norte-americanos se encontram. Multidões incontroláveis atiram-se a tudo o que possam roubar, desde pneus velhos a frigoríficos, de jarras com flores a mobiliário. Muitos destes insurrectos estão armados com Kalachnikovs, mas as tropas norte-americanas ignoram-os, pura e simplesmente.
É, de facto, o caos.
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Assim termina a série "An Illegal War Journal", que acompanhou A Sombra diariamente desde 19 de Março de 2006, aniversário do início da guerra do Iraque actualmente em curso. Em curso, sim, pois contrariamente ao "wishful thinking" de tipos como G. W. Bush ou José Manuel Fernandes, ainda não parou, desde então.
Que dure o menos possível.

Rui Semblano
9 de Abril de 2006
A Sombra
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