quarta-feira, julho 19, 2006

O distante Próximo Oriente... (segunda parte)


Se não leu a primeira parte,
pode encontrá-la aqui.






Criança vestida como bombista suicida
durante um comício islamita.
Abril de 2006.

Foto FLICKR/www.flickr.com



Quando hoje alguns falam de Israel como uma ilha de democracia num mar de árabes radicais, esquecem convinientemente que o Estado judaico é tão ou mais fundamentalista que muitos Estados árabes; é um Estado segregacionista e a separação de Estado e religião não é assim tão evidente - Israel foi fundado com base num direito divino, pelo que a religião está na sua génese e orienta e inspira as suas políticas. Israel permanece tão fechado em si mesmo como os países islâmicos, encontrando as mesmas justificações para os seus actos, arrancadas à raíz do tempo e, deturpadamente, aos textos sagrados - tal como fazem os islamitas.

A grande diferença é que, aos poucos, Israel transformou-se no bastião "ocidental" do Próximo Oriente; uma cultura mista de valores ditos "ocidentais" (menos do que se imagina) e de judaísmo (mais do que transparece). No subconsciente europeu e norte-americano, onde estão mergulhadas as noções distorcidas de cristianismo e das cruzadas, de islamismo e de "Jihad", de judaísmo e de Holocausto, um judeu israelita nunca será comparável a um branco sul-africano dos tempos do Apartheid, assim como um palestiniano, árabe e muçulmano, jamais terá a simpatia e a compaixão que de nós obteve o negro sul-africano de então.

Embora as duas situações sejam rigorosamente paralelas (os Boers expulsaram o Império e criaram o seu Estado sobre os direitos e as terras dos africanos - ocupante substitui ocupante), não é assim que entendemos o Médio Oriente. Na África do Sul, os negros e os brancos descendentes dos Boers vivem juntos sob uma só bandeira, tentando resolver os seus inúmeros problemas partindo de um ponto de vista comum e não reescrevendo a História, negando o direito aos que nasceram nesse país a viverem nele. No Médio Oriente, judeus e árabes procuram ainda a supremacia: uma Palestina livre uns dos outros. Nestas circunstâncias, e sem o necessário espírito de sacrifício, os que ainda teimam ser possível viver em conjunto são cilindrados pelos extremos, a cada suicida palestiniano e a cada míssil israelita.

Na nossa visão do problema, distorcida pelas lentes do Holocausto e do radicalismo islâmico, o valente povo israelita continua a sua luta legítima pela sobrevivência contra os ignóbeis e terroristas árabes, e uma foto de um grupo de adolescentes judeus, saudáveis e vestidos de Calvin Klein ou Lacoste, gritando de medo ao som das sirenes que anunciam mais um míssil do Hezbollah, vale mais do que cem fotos dos bairros de Beirute ou de Gaza destruídos pela aviação israelita. No nosso subconsciente, é contra nós, "brancos", "ocidentais" e "democratas", que são lançados os mísseis do Partido de Deus - um Deus terrorista, como todos ficámos a saber desde os cartoons dinamarqueses...

Para mim, porém, não existe diferença alguma entre islamismo e sionismo (ser islamista é diferente de ser muçulmano como ser sionista é diferente de ser judeu). A prová-lo estão as imagens das crianças árabes de armas em punho e as de crianças judias escrevendo mensagens nos obuses que serão disparados contra o Líbano. E sorriem, umas e outras. Ousam os adultos sionistas e os islamitas convencer o mundo de que é por e para estas crianças que fazem a guerra. Os mesmos adultos que recusam, de um e de outro lado, admitir que essas crianças brincariam juntas e em paz se não fossem ensinadas a odiar. A odiar em nome de Deus, naturalmente.
O do Hezbollah ou o de Israel. Dá no mesmo.

Rui Semblano
18 de Julho de 2006

O distante Próximo Oriente... (primeira parte)

12 comentários:

  1. Bem vindo de volta!

    Esta questão é sempre complicada. Mexe com ódios novos e antigos e só quem lá está é que sente na pele esses problemas. Se eu fosse israelita familiar de alguém morto num atentado, provavelmente ia querer a Palestina arrasada. Se eu fosse um palestiniano a quem um rocket matou a familia, ia querer ver todos judeus mortos... Não gosto de culpar árabes ou judeus. Como já referi num post, muita da culpa deste conflito é da França e GB e isto já vem dos tempos de Faisal e Lawrence da Arábia, no minímo...
    É normal que os ocidentais sintam mais afinidade com os israelitas apesar de, como tu dizes, também haver um fundamentalismo judaico que nos escapa. Mas os judeus integram-se melhor no nosso conceito de sociedade, talvez por muitos serem oriundos dessas mesmas sociedades.
    E os judeus foram muitas vezes vitimas de ataques/guerras condenáveis, isso é verdade... ( mas não se tenha pena dos judeus como povo! Militarmente, eles chegam bem para todo o mundo árabe e já o mostraram, mesmo quando tinham de fazer armas de bicicletas e munições de cápsulas de baton. A 2ª GG ensinou-lhes muito sobre sobrevivência e não julguem que se deixem pisar novamente. São como um animal ferido que luta com toda a sua ferocidade... )
    Depois temos os árabes... Costumo dizer que dentro de cada europeu ainda vive uma memória de cruzado. E essa é uma reminiscência com a qual é dificil lidar. E o tempo não nos uniu, nem fez desaparecer esse sentimento de desconfiança. Para a maioria dos ocidentais, o mundo muçulmano ainda é tão desconhecido como a superficie lunar e o homem tende a temer o que não conhece... O fundamentalismo religioso também não ajuda nada... Mas há bom e mau como em todo o lado.
    Enfim, para não te dar uma grande seca, vou terminar dizendo que é triste ver imagens como a da bombista e dessas miudas a escreverem mensagens nos obuses. É triste, mas sabe-se lá o que as move... O ódio perpetua-se e já não há razões de nenhum dos lados! Infelizmente... Enquanto houver um judeu e um árabe, não haverá paz... É assim...

    abraço!

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  2. Sá Morais:
    Afinal, caro amigo, são as religiões que impedem que judeus e muçulmanos vivam juntos. Os muçulmanos que ajudaram os judeus a expulsar os ingleses pensariam que no lugar do protectorado surgiria um espaço onde os árabes viveriam lado a lado com os recém-chegados hebreus, como já viviam com os que habitavam a Palestina antes do êxodo. Todos deveriamos saber o que aconteceu a seguir, mas ainda hoje imaginamos que o mundo árabe se uniu para destruir Israel, quando a primeira coisa que os judeus fizeram a seguir à independência foi iniciar a expulsão dos árabes que viviam no "seu" território...

    E deves refrasear o teu final de comentário: o que é verdade é que não haverá paz no Médio Oriente enquanto existir um islamita e um sionista. Hebreus e árabes viveram juntos e em paz durante séculos. Espero que aprendam a ser assim de novo, um dia.

    Um abraço,
    RS

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  3. Olá Rui
    Concordo, na íntegra, com as tuas posições. Parece-me que é um discurso de grande lucidez. Já quanto ao Sá Morais, há ali alguns "gatos". Por exemplo, quando afirma que "dentro de cada europeu ainda vive uma memória de cruzado", esquece-se que, durante muitos séculos foi precisamente na Europa onde melhor se verificou uma relação muito profícua entre as três grandes religiões monoteístas, mais concretamente na Península Ibérica, num país chamado al-Ândalus, num apogeu civilizacional até então inigualado e nunca mais alcançado até aos dias de hoje. É certo que esta memória é esquecida e ostracizada. A História está truncada e mal contada. De facto o que se ensina nas escolas é apenas o "nós" e os "outros", sendo que nós somos os bons, brancos e puros e os outros são os malvados, os pretos e infiéis... (ainda há pouco, no primeiro ano de uma turma da faculdade, numa turma de mais de 20 alunos não havia um só que tivesse ouvido falar em al-Ândalus). Esquecemo-nos (deliberadamente) que já houve tempos em que, na Península, a língua dominante era o árabe. Espanhóis e portugueses têm tanto de árabe como de romano ou visigodo. Mas, quem quer aceitar essa herança, essa evidência?...Se tantos anos levou a expulsar os muçulmanos ibéricos, a acabar com a sua língua, a "apagar" a sua (fantástica) herança cultural, só pode ser porque eles eram os maus!... Só que "eles" éramos nós! Após oito séculos de convivência, troca cultural e mestiçagem, quem eram "eles" e quem éramos "nós"? Apenas os mesmos habitantes da mesma Península Ibérica, claro!
    Enfim...é mais um desabafo. Na realidade há é que mudar mentalidades. E recordo, para terminar, as palavras de um neo-muçulmano de Córdova, quando falávamos sobre "tolerância". Respondeu-me: "...tolerante?...Eu não sou tolerante! Tolerar, pressupõe já uma barreira. Estabelece o princípio já do ostracismo. Eu sou mestiço e defendo a mestiçagem. É essa a herança do al-ândalus!..."
    De resto, caro Rui, não poderia estar mais de acordo contigo.
    Haja paz. Oxalá!

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  4. Olá outra vez...
    Só para fazer um reparo. Diz Sá morais que "enquanto houver um judeu e um árabe, não haverá paz...". A afirmação é incorrecta, porque me parece que o que pretende afirmar é que "enquanto houver um judeu e um muçulmano, não haverá paz". Árabe não pressupõe religião muçulmana. Árabe é o habitante da arábia, tendo-se, de forma simplista, alargado o conceito a todos aqueles que habitam países árabes (onde se fala a língua árabe), que sofreram a influência da religião e da cultura provenientes da arábia. Em Israel ainda há (apesar de muitos terem sido expulsos, como muito bem lembrou o Rui) muitos árabes. São a maioria, por exemplo, em Nazaré (são, assim, árabes israelitas). Aliás, quando foi formado o "Estado de Israel" em 1948, os judeus eram apenas 20% na região, os muçulmanos cerca de 70% e os restantes cristãos e de outras religiões. Hoje é praticamente o oposto. No entanto nunca tinha havido conflitos como os que agora se verificam. Vejamos... Para onde foram os judeus expulsos da Península Ibérica nos séc. XVI, XVII e XVII? Precisamente para os países de maioria muçulmana, ditos árabes! Para a Turquia (não é um país árabe, mas sim muçulmano!), Marrocos, Tunísia e... Palestina. Não deixa de ser caricato.
    O "árabe" começa a substituir o "mau da fita" em tudo. Há uns anos atrás eram os "soviéticos". Mas, a URSS caiu e agora até são uma sociedade consumista. Há que escolher outros "bodes expiatórios"... Já nem os "Índios" peles-vermelhas servem, por isso, o árabe (muçulmano) vem mesmo a calhar... Sobretudo para nós Europeus que temos muitas lições de tolerância e humanismo a dar ao Mundo, como se verificou nas maiores matanças da humanidade perpetradas durante o séc. XX, em nome da "nossa" superioridade, pois então...
    Haja paz. Salam!
    Abraço
    Manuel da Cerveira Pinto
    (no artigo anterior esqueci-me de assinar, pelo que peço me desculpes)

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  5. Mas achas mesmo que depois da partida dos ingleses, muculmanos e hebreus conseguiriam viver juntos? Hum... Ia ser difícil e a coisa ia descambar em violência na mesma. Fosse por que parte fosse... A religião é mesmo muito forte e, infelizmente, ainda está muito enraizada em (quase) todos nós. Para os muçulmanos bastava abrir o Corão e ler as passagens relativas aos judeus... E os judeus, escaldados com o que lhes tinha acontecido na Europa, decidiram que era melhor prevenir que remediar... Mas claro que aquilo que os judeus fizeram foi errado: expulsar palestinianos das suas casas, expulsar miudos palestinianos das universidades...
    Mas no fundo acho mesmo que é a religião que também mexe muito com a cabeça dos fundamentalistas de ambos os lados. Cada um dos lados acha-se abençoado pelo direito divino que aniquilar os outros, que vê como uma especie de dark force.

    Mas pronto, vou transcrever um comentário que deixei noutro blog:

    "Antes de ir para a questão Israel/Palestina, gostaria de sublinhar que foi a prórpia Palestina a atirar para o tecto, a inviabilizar a hipótese de um Estado soberano, forte e democrático. Recordo que ainda à pouco tempo se vivia por lá um autêntico estado de guerra civil!

    Quanto a estar no Libano e levar com um rocket na cabeça ou em Israel e levar com Katyusha na mesma parte do corpo, não vejo qualquer diferença. São seres humanos de carne e osso de ambos os lados. E concordo que realmente a discussão não poderá ir por aí...

    Também concordo que neste conflito estar a acusar apenas um dos lados é apenas contribuir para perpetuação de divisões e ódios. E isso já lá há de sobra.

    Uma vez escutei a propósito de uma derrota inglesa a seguinte frase: " Os ingleses podem errar uma vez, mas nunca repetem esse mesmo erro". Com Israel acontece o mesmo! Aquele é um povo que, para o bem ou para o mal, não se vai deixar pisar novamente. Acreditem que nem todo o mundo árabe será capaz de os vergar. Não o conseguiram no passado e não o vão conseguir agora. E Israel não precisa dos US para nada... É verdade que os dois países são aliados mas, os americanos não passam de meninos de coro comparados com Israel...

    Por vezes fala-se de fundamentalismo religioso árabe, mas convém lembrar que este existe do lado judaíco e que um é tão reprovável como o outro.

    Enfim... Estamos perante uma guerra de ódios e temos de entender como tal, sem sermos também fundamentalistas. Se eu fosse um judeu, a quem um bombista tivesse morto a familia, acho que desejava puder matar todos os árabes. Mas se eu fosse um palestiniano a que um rocket tivesse morto a familia, desejaria igualmente a morte de todos os judeus. E estes ódios estão entranhados de ambos os lados à centenas de anos e são reforçados diariamente. Julgo que só assim se pode tentar perceber o conflito. Perceber! Diferente de tomar partido... Só quem lá está é que sabe...

    Infelizmente, quem paga sempre a factura são os civis e isso sim é triste e não tem lados nem explicação..."

    No fundo não estamos em desacordo, pois não? :)

    um grande abraço!

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  6. Eu sou partidário da existência de dois estados independentes e soberanos e rejeito, como tu, toda a visão que generalize qualquer israelita ou judeu como sionista ou qualquer muçulmano ou árabe, como islamita.
    Se a História me interessa para o entendimento do que se passa, ela não me serve ao julgamento de responsabilidades, nem à justificação de posições que não tenham em vista a solução do conflito; seja lá isso o que for. Há seguramente interesses que não são de uma parte nem de outra, mas antes de quem se esconde entre jogos inconfessáveis de poder.
    Assusta-me esta escalada de terror e lastimo a sorte dos libaneses, dos palestinianos e dos israelitas.

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  7. "Na África do Sul, os negros e os brancos descendentes dos Boers vivem juntos (...) não (...) negando o direito aos que nasceram nesse país a viverem nele. No Médio Oriente, judeus e árabes procuram ainda a supremacia: uma Palestina livre uns dos outros".

    Concordo, em termos gerais, com a sua análise do problema. No entanto, não me parece que, pelo menos os "árabes", que não têm ao território a ligação mítica que têm os judeus sionistas, desejem uma "Palestina livre (...) dos outros" (dos judeus, neste caso).

    O problema é o estado de Israel, "segregacionista" e "fundado [por socialistas laicos] com base num direito divino", como você muito bem diz. O problema é, e foi, o sionismo: não conheço problemas (mais graves do que aqueles que existiram noutras comunidades, mesmo ocidentais e "civilizadas") entre os islâmicos e os judeus que já habitavam a Palestina.

    Transformar a habitação num território na fundação de um estado independente, baseado na raça (ou na cultura, ou na religião - ou lá em que é que consiste ser judeu) não podia ser aceite pelas populações autóctones. Menos podia ser aceite nas condições específicas que se verificavam:

    1. Os fundadores do novo estado eram estrangeiros, na maioria acabados de chegar.

    2. A Palestina esperava, e fazia-o com fundamento nas promessas das potências ocidentais vencedoras do recente conflito, esperava, dizia eu, a independência (esperava-a desde o fim do conflito mundial anterior). "Israel", sob este ponto de vista, foi recebido como uma traição a essas expectativas.

    Partilho (aquilo que me pareceu ser) o seu horizonte utópico: uma palestina que não seja de nenhuma raça ou religião, mas que pertença aos seus cidadãos. A todos aqueles que o quiserem ser, independentemente do local onde nasceram - e estejam prontos a assumir os direitos e os deveres inerentes a esse estatuto.

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  8. Queria ainda acrescentar que, apesar da minha simpatia pelo lado palestiniano(talvez porque o mais fraco), tento racionalmente entender o que se passa em cada acto ou declaração e procuro sempre o entendimento na leitura das variadas posições em confronto.
    Evito sempre tomar parte por qualquer dos lados em conflito.
    Em Identidades Assassinas, de Amin Malouf, recordo sempre a frase: Quando atribuímos o papel de cordeiro a uma determinada comunidade e o de lobo a outra, o que fazemos, da nossa parte, é conceder adiantadamente a impunidade aos crimes de uma delas.

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  9. Apobo:
    Caro Cerveira,
    Excelentes reparos.
    Sobre o entendimento entre as pessoas de diferentes credos (e não entre as crenças, em si irrelevantes para o entendimento), o al-Ândalus será ainda hoje o expoente máximo, mas também a Palestina já foi assim, embora por menos tempo, precisamente pela exorbitação da fé (tantas vezes camuflagem para outras coisas).

    (e basta o Apobo com link activo para não seres anónimo, caro amigo)

    Obrigado pelo teu contributo para esta reflexão sobre o Próximo (mas tão distante) Oriente.
    Um abraço,
    RS

    Sá Morais:
    O teu romantismo é notório, assim como a tua paixão pela causa dos judeus, que verdadeiramente foram injustiçados depois da 2ª Guerra Mundial, mas penso que deves ler o mais possível sobre o Médio Oriente (de todos os pontos de vista) para entenderes o que quero dizer quando comparo Israel a uma aberração.
    Como o Antónimo diz no seu comentário, a comunidade internacional há muito prometera a independência à Palestina (deste T. E. Lawrence, ou quase), e a negação dessa promessa e os moldes em que foi inventado o Estado judaico foram determinantes para o fim da estabilidade na região.

    Mas claro que me é evidente que a ti, como a mim, é esta violência insana, ora de Israel ora dos Árabes, que é preciso parar. As razões perdem-se quando se cometem actos de mero terror e não de resistência ou defesa legítimas.
    E neste campo, o da legitimidade, parece-me óbvio que Israel nunca a teve, na Palestina.
    Ainda que a ida dos judeus para lá fosse imprescindível para a sua sobrevivência (o que não é verdade), a sua atitude de Senhores da Terra, quando não eram mais que recém-chegados, transformou-os em algo que ninguém julgaria possível, depois do Holocausto: segregacionistas, colonialistas e militaristas. É como se Auschwitz nunca tivesse existido...

    Um forte abraço, Samurai.
    RS

    António:
    Caro amigo Baeta,
    Respondo aqui aos teus dois comentários, para te agradecer as palavras e, em especial, a tua transcrição de Amin Malouf (para a qual chamo a atenção de Sá Morais!).

    Salam Aleikoum, caro amigo.
    RS

    Antónimo:
    Caríssimo Antónimo anónimo,
    A forma como o seu comentário foi construído (independentemente da opinião nele expressa) levou-me a publicá-lo mesmo sendo anónimo.
    Mas é prática d'A Sombra não publicar comentários sem a identificação do seu autor (isto é, um link activo para blog, site ou e-mail com o fim de contactar o mesmo e, em última análise, de o identificar).
    Muito agradeço, mesmo porque me parece ser interessante a sua presença n'A Sombra, que um eventual próximo comentário da sua parte não seja anónimo (no sentido em que referi, pois nada tenho contra o uso de pseudónimos, por exemplo).

    Obrigado pelas suas palavras e pela lembrança da importante quebra da promessa de independência à Palestina, após a Primeira Grande Guerra (30 anos antes da criação de Israel...).

    Um abraço,
    RS

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  10. Em primeiro lugar desculpem-me pelas confusões árabe/muçulmano, mas ao fim de uns tempos na net a escrever, escapam-se imprecisões.Não batam mais no gato! Mas árabe é um termo aceitável, em minha opinião... Mesmo sendo árabe a designação de um natural da arábia, vou usá-la por questão de economia de espaço, como usarei cristão para designar católicos, ortodoxos, etc...

    Parece-me que uma questão principal nestas discussões é afirmar-se a que o estado de Israel é ilegitimo... Mas se procurarmos na história da região e recuarmos a 5000 ac deparamos com canaanitas, heteus, rafamitas, etc. A invasão egipcia alterou tudo isso e os israelitas estabeleceram-se nas colinas da Palestina. Em 1025 ac, Saul torna-se o primeiro rei de Israel...

    Quando eu falo da responsabilidade da GB e frança falo realmente do que aconteceu durante a 1ª GG. Concretamente, o acordo Sykes-Picot e a Declaração Balfour, que apoiava o (re)estabelecimento de uma nação judaica na palestina. E se nesta declaração os árabes ficaram a perder, mas também o ficaram as comunidades cristãs dessa região.

    Em 1947, onze nações recomendaram a divisão da Palestina em dois Estados e o estabelecimento de uma área internacional em Jerusalem. Os estados árabes anunciaram que se oporiam pelas armas...

    Mas a história já lá vai e as fundamentações escapam-se...

    APOBO:
    Quando eu disse que "dentro de cada europeu ainda vive uma memória de cruzado", isto era para ser entendido como uma critíca, pelo que não me esqueci do al-Ândalus ou dos momentos de paz que também se viveram na terra santa, apesar de as coisas descambarem sempre em violência como aconteceu numa certa carga da cavalaria templária. Estava exactamente a criticar esse sentimento e esse esquecimento, especialmente quando ocorre em círculos como os universitários.


    Já li o Al Corão e sei bem o que lá diz dos judeus. Por isso, não aceito quando me dizem que a religião muçulmana é uma religião de paz e fraternidade. Não é! E se em tempos a sua civilização foi avançada, tolerante ( o que eu aceito como uma grande verdade ), hoje em dia não é. Houve uma regressão e hoje eles são ( nem todos , claro )o que nós, cristãos fomos nas cruzadas - uns imbecis que só viam religião. O que vemos hoje nos países árabes? Atentados aos direitos humanos! Uma religião intolerante onde, po exemplo, as mulheres são vistas como seres de segunda categoria... Eu não quero esse "modelo" para mim, nem sei como pode encaixar numa sociedade moderna e livre...

    Já tive ( e tenho ) amigos muçulmanos, em especial uma rapariga chamada Asma e sei bem o que sofre uma mulher nessas sociedades, por isso não tentem fazer dos países árabes o paraíso na terra. Não o são! E Israel também não o é! Também é uma sociedade muito ligada à religião e isso, para mim, é um defeito!

    ANTONIO:
    A sua opinião parece-me mais razoável pois tal como eu não pretende gerar mais ódios, nem justificá-los. Ou seja, não pretende que o "céu caia" sobre nenhum dos lados. O que deviamos estar aqui a discutir eram formas de haver paz. Isso sim era construtivo! Infelizmente somos ( e eu também ) levados pos simpatias e argumentos...

    Rui: Querer a paz não é um romantismo. E se achas que a minha posição é romantica... Olha que não... Isto se me vires como simpatizante Israelita, o que julgo não ser o correcto. E Israel é o lado forte. Como já disse rebato apenas ideias de "terra queimada", ideias do género: " os israelitas deviam ser estripados" ou " os muçumlmanos deviam ser todos degolados". Hitler e outros lunáticos aplicaram essa receita e deu no que deu. Isto não leva a lugar nenhum, com tu também dizes. Só não consigo é ver o estado de Israel como uma aberração. Verei sempre pessoas e não aberrações.

    Sei que Israel anda a abusar um bastante na sua ferocidade, mas... ( e isto não serve de justificação ) Imagina que estiveste em Auschwitz e viste o teu povo ser morto, a tua familia ser morta, os teus filhos... Isso não te iria "enrijecer"? Isso não te faria prometer que nunca mais ias permitir tal coisa? Isso não faria um povo tornar-se mais duro. repara que em muitos lugares do mundo árabe isso também está a acontecer. Vê lá bem por este prisma.
    Quando um cão leva muitos pontapés, é natural que se torne violento e que rosne à primeira pessoa que se aproxime de si. Sei que esta comparação é uma psicologia muito básica, mas acho que se percebe a ideia.

    O que eu vou deixar neste fim de imenso comentário é algo com o qual sei que concordas: As agrassões de ambos lados t~em de parar! Se isso não acontecer podemos estar perante o fortalecimento de ódios e perante uma catástrofe humanitária.

    Um grande abraço para ti.

    Samurai

    Ashoofak bukra :)

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  11. Sá Morais:
    Não era uma crítica negativa, quando escrevi seres um romântico. Aliás, quem se não os românticos ainda têm esperança na paz nos dias que correm.

    E sim, ver-nos-emos amanhã!
    Insh Allah.
    RS

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  12. Anónimo2/8/06 20:58

    Tenho passado por aqui todos os dias, enquanto esperava pela tua resposta, sempre a pensar no que estamos nós afinal a discutir... Queremos os dois o fim das mortes e o resto são apenas pormenores sem a minima importância.

    Sabes, não estou a adivinhar nada de bom para este conflicto...

    Infelizmente, não estamos lá, nem temos poder para alterar nada... Quem me dera que eu pudesse dar ordens para retirar os Merkava e que tu pudesses ordenar o fim dos disparos dos Katiusha, ou vice-versa... :)
    Ontem vi um médico libanês que se recusou a abandonar o seu hospital ( mesmo sabendo que o hospital pode ir pelos ares )por saber que ele é a única esperança de quem ficou para trás e não consegui fugir para Beirute... Raios! Isso é que é coragem! Arriscar a vida para matar outros é fácil, agora arriscar a vida pela vida dos outros, isso sim é coragem!

    Mesmo com os meus pontos de vista, não me importava de estar no libano a ajudar aqula gente, nem que fosse a levá-los para um lugar seguro. Acho que assim sim, estaria a fazer alguma diferença neste mundo maluco. E tu, meu amigo, sei que farias o mesmo.

    Se eu sou um samurai romântico, tu também o és! :)

    Mabrook!

    abraço!

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