sexta-feira, fevereiro 10, 2006

Madagáscar






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O Islão é o problema.

No seu artigo de sexta-feira passada (eu sei, eu sei... passou-me), "O islão é a solução?", a sionista Esther Mucznik explica, rendida à evidência:

(quote)
Será correcto incentivar a organização de eleições livres, quando se sabe à partida que elas darão a vitória às forças islamistas (1), cujo código genético é violentamente antiocidental? Quando se sabe à partida que, do ponto de vista do integrismo islâmico, "o islão é a solução", significa no essencial a substituição da lei dos homens pela lei divina, a sharia, e não a promoção da democracia e da liberdade, nem dos fundamentos de um Estado de direito? A verdade é que, em minha opinião, não há outro caminho. O mundo muçulmano tem de percorrer a sua própria experiência.
(unquote)

Neste artigo, apesar de afirmar que o islamismo "tem de ser combatido sem tréguas", agora que "o nacionalismo laico não funcionou", não se vislumbra qual o papel da Europa e dos EUA nesse percurso, como se fosse possível ao mundo muçulmano fazê-lo da mesma forma que se faz uma viagem interior, um trajecto espiritual, isento de factores externos. Aliás, como de costume, Esther Mucznik fala de islamismo, mas quer dizer arabismo - um tique sionista perfeito.

Esta noção demagógica de que os árabes (é deles que Mucznik fala) devem encontrar por eles a saída do obscurantismo, enquanto o "Ocidente" o alimenta consciente (a invasão do Iraque) ou inconscientemente (os cartoons dinamarqueses), tem sido a posição oficial dos defensores da superioridade "Ocidental" sobre a civilização árabe desde 1948. Claro que a nossa superioridade é evidente, enquanto sociedades ocidentais amantes dos direitos humanos, da liberdade, da igualdade, da fraternidade e de todas essas coisas bonitas que se mantêm presas aos papéis em que foram escritas (não vão magoar alguém). E, muito importante, na fotografia da carta de condução das mulheres "ocidentais" consegue ver-se o rosto da condutora (sem ironias). Pormenores à parte, por muito importantes que sejam, o facto é que, em termos de desenvolvimento geral, a civilização árabe parou no tempo, fruto da islamização do Estado, por sua vez fruto da acção europeia, primeiro, norte-americana, depois, e israelita, por último.

Reconhecer uma mudança de atitude com a retirada israelita de Gaza e a vitimização de meia dúzia de colonos na Cisjordânia não está em causa; é evidente. Tomá-la por algo que não é, esse sim, é o problema. A soberba sionista sempre existiu, indisfarçável nos seus pequenos e reveladores tiques, como o apontado acima ou o subliminar "(...) na insensata esperança de vencer Israel através da violência (...)" - destaque d'A Sombra, também no texto de Esther Mucznik, e a duplicação de Telavive em Jerusalém continua a bom ritmo. Lá chegará o dia em que a proporção de judeus e árabes na Cidade Santa será de tal ordem (e aqui a demografia é manipulada, claro) que se tornará um verdadeiro disparate dividir a cidade, muito menos cedê-la aos palestinianos.

A solução de um só Estado, a única que permitiria a real convivência entre judeus e árabes (perdoem-me o uso destas denominações, mas são as mais directas e claras, embora imprecisas), é um mito. Esgotou-se quando nasceu o Estado de Israel, vítima da soberba sionista. Curiosamente, o filme que formou a opinião pública norte-americana (em especial, mas não só) contra os palestinianos em particular e os árabes em geral, "Exodus", de Otto Preminger (1960), pode ser hoje considerado anti-sionista!

Resta, como sabemos, a divisão em dois Estados. Mas não por muito tempo.
Tendo em conta aquilo em que Israel se transformou, o seu processo de autodestruição é inevitável. O desaparecimento do Estado de Israel é irreversível, não só como o conhecemos hoje, mas totalmente, incluindo a sua denominação; também não faz sentido, numa perspectiva muito diversa, mas análoga, chamar Gaia à junção do Porto com aquela cidade. Se hoje se "negoceiam" condições de convivência entre dois Estados rivais, amanhã um deles será engolido não pelo outro, mas pela inevitabilidade geografico-demográfica que é depender de uma população cuja componente judaica que mais cresce é social e militarmente inútil e em que a componente árabe é cada dia que passa mais significativa e ascendente, embrião de uma quinta coluna temível que, se chamada a lutar, dilacerará Israel por dentro, como um cancro fulminante.

Israel, assim, transformar-se-á em outro algo, como se transformaram, com as devidas diferenças, Hong Kong e Macau. O paralelo com a China torna-se mais claro se imaginarmos os chineses continentais como palestinianos e os da Formosa como israelitas. Só que não é um muro de cimento que transformará Israel numa ilha. Ironicamente, a solução francesa para o problema judaico, Madagáscar, garantiria a sobrevivência de um Estado judeu ad eternum, mas era uma utopia. A tal "insensata esperança" dos palestinianos em vencer Israel militarmente é igual à da China anexar Taiwan. A causa é a mesma: o fiador de ambos, os nucleares EUA.
Mas a geografia e a demografia são umas cabras. Taiwan é estanque e não depende da China para nada; Israel, por mais altos os muros que construa, não é; além de que tem a infiltrada a cada vez maior população árabe, como um tumor que nunca conseguirá extirpar. A sua permeabilidade ao mundo árabe é impossível de controlar, por mais leis xenófobas e racistas que o "democrático" Knesset aprove. Um dia, a cabra da geografia e a cabra da demografia irão submeter Israel (uma expressão fantástica!) e o Estado judaico deixará de existir.

Talvez então os judeus espalhados pelo mundo entendam que não fazem parte de outro Eretz Israel que o espiritual, esse sim indestrutível e sagrado, e que a diáspora é um mito, retomando o lugar que lhes compete: o de cidadãos do mundo, como todos nós deveríamos ser.

Rui Semblano


nota:
"O Islão é a solução" foi o slogan da campanha eleitoral do Hamas.

nota 2:
Qualquer judeu que não reconheça o real processo de estabelecimento do estado de Israel na Palestina e se recuse a admitir como válidas as inúmeras resoluções da ONU que o condenam (o processo, evidentemente) é um sionista.
Devemos chamar os bois pelos nomes, embora não se trate de um boi no caso de Esther Mucznik, obviamente.


(1)
Penso que Esther Mucznik queria dizer islamitas ou islâmicas.

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