segunda-feira, setembro 04, 2006

Interposição.



A UNIFIL II, que agora começa a ser visível no Líbano, terá uma componente aérea que regule os movimentos da IDF/AF?
Não me parece.
Israel pode, assim, sobrevoar todo o Líbano impunemente.

Entrada completa abaixo. 6



Com tantas forças militares sob a bandeira da ONU espalhadas pelo mundo, a UNIFIL permaneceu esquecida de quase toda a gente até as circunstâncias exigirem a sua reformulação.
No terreno desde 1978, a sua utilidade tem sido reduzida. Algumas acções, como a protecção de refugiados ou organizações humanitárias, serão pertinentes e até muito importantes para os que delas usufruem, mas no quadro geral do que deveria ser a UNIFIL são insignificantes, pois os seus objectivos nunca chegaram a ser atingidos.

Nos últimos tempos, desde o confronto entre Israel e o Hezbollah, uma nova palavra entrou no léxico dos políticos e, em especial, dos jornalistas: "Robusto" (ou no feminino, conforme o caso).
A UNIFIL como existiu até aqui é manifestamente incapaz de actuar, entre os guerrilheiros do Hezbollah e o Tsahal, na sua missão pacificadora. O seu mandato limitado, no papel como nos meios disponíveis, apenas fez com que quase 250 dos seus soldados perdesse a vida desde que existe. Na prática, não serve para nada.

A UNIFIL II, que agora está a ser lançada, precisa de ter outra composição, em quantidade e qualidade de efectivos e meios, e um outro tipo de mandato. Terá de ser uma força "robusta" (aí está!) e com capacidade de resposta, em que "resposta" também significa tomar a iniciativa para prevenir qualquer acção hostil que coloque em perigo a paz.
Desde que Israel e os EUA perceberam que a guerra contra o Hezbollah nunca seria ganha nos prazos originalmente previstos que a insistência do Governo israelita numa força de interposição da ONU tem ido neste sentido, mas com uma agenda própria, isto é, uma força cuja missão principal seja "proteger Israel" e "desarmar o Hezbollah".
A cara de pau de Olmert e da sofista Tzipi Livni, sua ministra dos NE, ao quase exigirem estas condições à ONU foi espantosa, mas nada surpreendente. No entanto, para a maior parte da opinião pública mundial, em especial no chamado mundo ocidental, o papel da UNIFIL II será exactamente o de proteger os israelitas do Hezbollah, embora não necessariamente desarmar o Hezbollah, sobretudo depois dos atoleiros afegão e iraquiano.

Pouco importa que esta ideia seja tão descabida como teria sido a de colocar, em 1939, uma força multinacional entre a Polónia e a Alemanha para proteger os alemães. É uma ideia que não se discute. É esta a percepção comum do que se passa no Médio Oriente; mesmo após Israel ter destruído um país em 30 dias, são os israelitas que precisam de protecção. E não é que não precisem, note-se, mas quer-me parecer que os libaneses precisam muito mais que os protejam de Israel... Isto fica subentendido, mas não se diz em voz alta. Parece mal. É como se fosse pecado dizê-lo.

No entanto, uma força como a que pretende ser a UNIFIL II só será eficaz se mantiver em respeito os dois campos, isto é, o Hezbollah e a IDF. No caso das Forças de Defesa Israelitas, isso só poderá acontecer com o controlo do espaço aéreo libanês. De outra forma, os israelitas serão tentados a usar a UNIFIL II como escudo contra ataques terrestres do Hezbollah enquanto usam os seus caças-bombardeiros para atingir "posições inimigas" (com ou sem aspas), apesar do cessar-fogo vigente.

Vejo os governantes e os diplomatas a discutirem sobre o número de homens a enviar e sobre navios de guerra, mas nada dizem sobre interdição aérea - como a que ocorreu sobre a ex-Jugoslávia, por exemplo. A razão é bastante simples:
O Hezbollah não tem força aérea. Enviar aviões de combate para o Líbano seria uma grave ofensa aos israelitas. Hitler teria adorado a ONU...

Rui Semblano
Agosto de 2006

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