domingo, novembro 23, 2003

Camelot 2003 . 2 . anexo c

(continuação da publicação deste ensaio)
Ver entrada inicial "Camelot 2003", nos Arquivos d'A Sombra, de 16Jul2003)

2. O eixo Atlântico (cont.)
A humilhação de uma ocupação dos EUA
por uma potência estrangeira


Todos os países europeus, em determinado momento da sua história, foram invadidos e seriamente ameaçados de perda de soberania, sendo ocupados por outro Estado, perderam-na efectivamente ou perderam territórios. Mesmo recentemente, essa dura realidade foi sentida pela maior parte da Europa, na primeira metade do século XX.

Apesar de humilhante, é uma experiência edificante no sentido de, por um lado, se adquirir a noção exacta de quanto valem liberdade e soberania e, por outro, entranhar na cultura do submetido a noção do que deve ser feito, após recuperada a integridade do Estado, para que tal desgraça não se repita.
Haverá muito observador, professor, intelectual e até mesmo cidadão comum que compare tal coisa à luta que os norte-americanos travaram para ser independentes. Só que não eram, ainda, norte-americanos. Eram colonos. Súbditos de um império que se rebelaram e criaram um Estado. Eles foram, de facto, a potência ocupante, enquanto asseguravam a conquista do território. Uma vez expulsos os britânicos, quem sentiu isto na pele tinha-a vermelha. E não haveria de recuperar o que perdeu.

Desde 1776, nem levemente a soberania dos EUA esteve ameaçada - nem durante o mais grave período da Guerra Fria, quando ocorreu a crise dos mísseis em Cuba. O que pesava na balança, então, e mantinha os pratos nivelados, era o medo da destruição total - caso em que a perda de soberania passaria a ser um mero pormenor técnico sem importância.

Estes factores, ao longo do tempo e, em particular, após a queda do muro de Berlim (a verdadeira charneira entre a velha e a nova ordem mundial e não o 11 de Setembro de 2001), contribuíram e contribuem para um sentimento de quase invulnerabilidade, mais que de invencibilidade, por parte dos Estados Unidos - e é graças a esse sentimento que, a cada dia que passa, as consequências do 11 de Setembro de 2001 se tornam mais favoráveis à instauração do despotismo na administração norte-americana do que à libertação do mundo árabe oprimido - em teoria, a julgar pela cartilha de Estado norte-americana, o fim último da "guerra ao terror".

(in Camelot 2003 © Rui Semblano - Porto - Janeiro e Fevereiro de 2003)

Para a frente: a publicar, em Camelot 2003 . 2 . termo do capítulo
(Conclusões do capítulo 2)
Para trás: ver entrada Camelot 2003 . 2 . anexo b
(Os efeitos de uma guerra em território dos EUA) de 26Ago2003

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