A cada ano que passa sobre a data da morte de Francisco Sá Carneiro e Adelino Amaro da Costa se descobrem mais e mais indícios que apontam na direcção do atentado. Pessoalmente, nunca fiquei convencido da história do acidente, embora no ímpeto da minha juventude (tinha dezoito anos em 1980) tivesse posto a hipótese de um atentado levado a cabo por adversários políticos de Sá Carneiro e não percebesse a importância da presença de Amaro da Costa naquele Cessna. Poucos anos depois, essa hipótese perdeu o significado, para mim. Desde então que permaneço convencido que se tratou de uma acção vinda do aparelho do poder; os reais motivos foram surgindo ao longo dos anos e a teoria do envolvimento do então ministro da Defesa na investigação dos negócios que se faziam através de Portugal com respeito ao comércio ilegal de armas com os beligerantes do Golfo Pérsico (Só o Irão? O Iraque? Ambos?) começou a ganhar corpo e lógica. Mas isso é outra história.
Porque é que os sucessivos responsáveis das sucessivas comissões de inquérito nunca descobriram nada que sugerisse um atentado e nos últimos anos têm surgido indícios (evito chamar-lhes provas) cada vez mais relevantes que suportam essa hipótese?
Alguns afirmarão que, na altura, não havia meios técnicos sofisticados o suficiente, como disseram quando se descobriram estilhaços provenientes de uma explosão nos ossos dos pés do piloto, mas esta última descoberta é uma bofetada nos que usam a fraca tecnologia dos anos 80 para desculpar tantos falhanços.
Como foi possível, durante estes anos todos, ninguém ter reparado que, precisamente sob os pés do piloto, existiam indícios de algo que fez o metal da fuselagem virar para dentro, indicando que algo estranho à aeronave entrou por ali, como resultado de, por exemplo, uma explosão? Os resíduos encontrados nesse metal e a sua forma de fusão indicam como causa provável um explosivo colocado na zona do trem de aterragem dianteiro, mas mesmo antes disso, pela mera observação do metal retorcido, seria possível verificar que algo fora do normal se passara. Pensariam os anteriores "técnicos" que foi uma gaivota que entrou por ali dentro?
Este caso cheira demasiado mal, mas só agora se começa a cheirar a sério. O pior vai ser quando não restarem dúvidas de que se tratou de um atentado. Quando se chegar aí, o que vai o Estado fazer? Encolher os ombros ou passar à instauração de um processo? É que isto tem implicações que fazem o processo da Casa Pia parecer um desenho animado. Estão a imaginar a PJ a bater à porta de alguns senhores considerados suspeitos com mandatos de prisão preventiva? Aposto que a Manuela Moura Guedes tem sonhos bestiais com isso!
Mas palpita-me que, apesar de se ter tornado evidente que se tratou de um atentado, ainda vamos andar a ver se foi ou não foi mais uns anitos (para aí mais uns vinte e três...). É que há gente que não se pode prender.
Nem preventivamente.
Sem comentários:
Enviar um comentário