quinta-feira, março 02, 2006

É esta a nata da Nação...




Assembleia da República
2 de Março de 2006 - 18:40

Final do debate com o Ministro
Diogo Freitas do Amaral

Algumas considerações...


Entrada completa. .. Posted by Picasa



Mais uma tarde perdida?
Não me parece.
Em directo, vi as intervenções finais de Telmo Correia e de Diogo Freitas do Amaral (a imagem acima é um frame do final da sessão). Vi alguns excertos e as respectivas notícias nos telejornais e, claro, recorri à blogosfera para reacções.
São 23:28. Acabo de ver a gravação integral do referido debate, na ARtv.

Invariavelmente, a cada vez que vejo a ARtv, me choca a atitude da maior parte dos deputados. Simplesmente não estão na sala. A seguir, choca-me a atitude da maior parte dos presentes. Hoje, os palhaços foram os da bancada do CDS/PP, mas todas as bancadas já fizeram igual papel; pior é difícil.
O plenário reuniu a pedido do CDS/PP, para pedir "explicações" ao Ministro dos Negócios Estrangeiros - o Mené, para Telmo Correia - sobre a questão dos cartoons dinamarqueses. Obviamente, e desde o primeiro minuto, que me desculpe Nuno Teixeira de Melo e a patética "honra" da sua bancada, o alvo foi o antigo presidente e fundador do CDS, Diogo Freitas do Amaral.

Por mais que fossem as explicações do Ministro dos Negócios Estrangeiros, nenhuma foi ouvida, muito menos entendida, pelos parlamentares centristas (salvo seja). Oportunidades de "colocar na linha os meninos", como em qualquer sala de aula de liceu, não faltaram a DFA. Não perdeu uma. Apesar do enxovalho, lá continuaram nos risinhos, mais próprios de rapariguinhas de escola que de deputados da Nação, mas enfim... Cada um é o que é.
(E repito, não são apenas os deputados do CDS/PP que assim espelham Portugal, mas quase todos e de todos os partidos. O mal é geral.)

O PSD mais valia ter ficado calado, a tal ponto foi trapalhona e desinteressante a intervenção do deputado de serviço. No lugar de Freitas do Amaral, nem lhe teria respondido, mas o MNE não perdeu a oportunidade de enxovalhar a oposição, uma vez mais, perante o coradinho deputado, sentadinho ao lado da "ganda nóia" da Social Democracia.

À esquerda, incómoda solidariedade do BE e do PCP (não nos esqueçamos dos imperialistas dos EUA, blá, blá, blá...) e intervenção minimal do PS, esta a proporcionar algumas considerações sobre a Europa e o seu futuro - algo assim como um assunto que podia ter sido debatido hoje. Mas não! Era Maomé, nem que fosse preciso arrastar a montanha até ele!

Diogo Freitas do Amaral teve razão, no fim.
Três horas depois, Telmo Correia ainda dizia o mesmo - ou seja, ficou na mesma. Mais um típico exemplo de quem só ouve o que lhe interessa. A lucidez de DFA perante o descalabro intelectual dos seus detractores (chegou a fazer da declaração da UE sobre liberdade de expressão um boomerang que, lançado por Telmo Correia, exuberante, acabou por lhe acertar na cara!) foi de tal ordem que, ainda que a sua posição fosse incorrecta (o que não creio), sairia do Parlamento incólume. Mas talvez esteja a exagerar. A razão faz 90% do trabalho. Os 10% que restam são mérito do orador.
A lição foi dada. DFA nota 19. Detractores nota 0 (zero!).

É esta a nata da Nação... São estes palhaços (e não falo só do CDS/PP, note-se uma vez mais) incultos e medíocres, incapazes de preparar uma argumentação e de distinguir um boomerang de um dardo, que comandam os destinos do nosso país...

Bem diz o António Baeta...
Se, dantes, a palavra embatia contra a parede da censura oficial e o receio da polícia política, hoje ela choca contra os muros do alheamento e da ignorância, da censura social conservadora e provinciana, da hierarquia dos doutores, com um só olho, de quem se espera as soluções que nunca chegarão.

E como diria o Fabien: Il faut appeler un chat un chat.

Rui Semblano

nota:
No Blasfémias (where else...) Gabriel Silva começou por transcrever de memória a parte de que Telmo Correia tanto gostou (ainda que sem a entender) do discurso inicial de Freitas do Amaral.
Depois corrigiu o tiro, recorrendo às imagens que lhe enviei a pedido, mas para dizer o mesmo. Ou seja, como os parlamentares do CDS/PP e do PSD, não ouviu nem mais nem menos do que aquilo que quis ouvir. Aqui transcrevo o texto que acompanhou o envio das imagens a Gabriel Silva:

(quote)
(...)
Como poderá ouvir (se quiser) o que DFA diz é que a reacção islâmica é "compreensível" - não "perfeitamente compreensível". O ênfase poderá parecer de desprezar, mas não é. Assim começam as bolas de neve.
Até porque, de facto, só quem não conhece minimamente a realidade islâmica é que acha "incompreensível" a sua reacção aos cartoons.
Digo mais: não só é compreensível como era esperada a instigação/aproveitamento que os radicais islamitas fizeram deste triste caso. Os cartoons dinamarqueses prestaram, assim, um inestimável serviço aos que pretendem atrair os moderados árabes para a esfera radical islâmica.
Se isso é um serviço prestado pela liberdade de expressão, então não sei o que seja um serviço.
Goebbels não teria feito melhor, de qualquer dos lados.

Um abraço,

Rui Semblano

(unquote)

nota 2:
Esta entrada permanece com a data e hora originais, embora tenha acabado de ser editada na madrugada de sexta-feira, 3 de Março de 2006.

Sem comentários:

Enviar um comentário