quarta-feira, março 01, 2006

Knight of Swords




O Cavalo de Espadas


Directo,
incisivo,
autoritário,
conhecedor,
lógico,
insensível...





Supertramp - Fool's Overture - Live in Paris




E, de repente, no meio das mil e uma versões de mil e um temas - do Che à Dinamarca, do novo single dos Pearl Jam às centrais nucleares, da liberdade de expressão a Istambul - dou por mim a repor a Abertura dos Tolos.
Tudo me parece insignificante e avassalador, e na minha vontade de ascender ao céu azul sem pensar onde pousar, percebo que não faz sentido. Talvez em 1977... Talvez num momento mais tranquilo.

Na ânsia da partida, sinto saudade de Paris.
É a primeira coisa que me prende. Estranho...
Serei acusado de cobardia? De deserção? Logo agora que nos perfilamos para mais uma gloriosa e inútil investida contra os moinhos alinhados no horizonte. Talvez Fabien me compreenda. Não o vejo entre as fileiras. Será tudo inútil, sim. Um desperdício. Outro Alcácer-Kibir, ainda. E outro mais.

Sinto-me tocado por dentro; o que significa que devo partir; que deixo a emoção toldar-me o juízo. No olhar dos que comigo têm carregado esta demanda não vejo nada disto; apenas determinação; calma. Talvez eles vejam o mesmo nos meus olhos, mas é mentira. Coloco tudo em causa; procuro dez, vinte fontes para confirmar cada fantasia. Não há mais História. É o limbo.

Que demónio faço aqui? Deveria atacar aqueles moinhos, ao longe? Ou defendê-los? Esta causa é minha ou foi-me dada? Demasiadas perguntas e tão pouco tempo... O que escrevi ontem parece escrito há um século. Talvez o fosse, sim. Não mudei tanto quanto isso.
Não existem príncipes nas nossas fileiras. Apenas assassinos. Revolucionários. Monstros. Que faremos nós se um dia conseguirmos mesmo tomar o Asilo? Loucos, todos nós. Talvez seguir os Atalantes. Gostaria de acreditar que descobriram uma saída...

Ah... Eis uma Amazona que cavalga para mim, impaciente. Perguntar-me-á por que espero. Que lhe direi? A verdade? Que são apenas moinhos? A inutilidade de tudo isto esmaga-me. Sinto a pressão no meu corpo, comprimindo-o. E estas palavras, refúgio e salvação, são agora o que me acorrenta, me impede de voar, e prende a este chão...

"Então?" - pergunta-me ela, chegando a mim como uma fúria, fazendo rodopiar a montada sobre ela mesma, os olhos chispando fogo.
"Então o quê?" - respondo.
Então o quê...


Rui Semblano


Os Dias do Tarot n'A Sombra: INDEX.
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