terça-feira, julho 15, 2003

Unjust, unwise, unAmerican


A propósito da invasão do Iraque pela coligação liderada pelos EUA, escrevi numa das Cartas ao Director do jornal Público que "A 'América' de que nos falam os colunistas mais favoráveis a uma guerra no Iraque já quase não existe." ("A América está a mudar", jornal.publico.pt/2003/03/18/EspacoPublico)
Em causa coloquei, então, o decreto USAPATRIOT II (versão revista e aumentada do PATRIOT Act) e os efeitos nefastos que dele advêm para os cidadãos norte-americanos e os estrangeiros que se encontram em solo norte-americano. Depois disso, já se teceram rasgados elogios à actual Administração (dita) Bush, especialmente no modo como conduz a sua política externa, a notória Estratégia de Segurança Nacional dos EUA, derivada do relatório "Reconstruir as Defesas da América" ("Rebuilding America's Defenses" [Set2000] - ver também cryptome.org "A National Security strategy for a New Century" [Dez1999] - descubra as diferenças), nomeadamente, através do recurso a artigos de imprensa de referência internacional, entre a qual a revista "The Economist" (que, não por acaso, se encontra direccionada em permanência n'A Sombra, em Links Media).
Pois no último número desta publicação (p.9, n. 28, 12 a 18 Julho 2003), a mensagem não podia ser mais elucidativa: "Injusto, imprudente, não-Americano - Porque são prejudiciais os tribunais para terroristas." (ver texto integral mais abaixo).

Às vezes, quando me veêm a ler a "The Economist", que me acompanha semanalmente, perguntam-me, com um sorriso irónico, se estou a inteirar-me do que pensa "o outro lado". Quem tal me pergunta não me conhece bem e, de facto, tanto na forma como no conteúdo, será igualmente fácil conotar a "The Economist" com a "direita" como o "Le Monde Diplomatique" com a "esquerda", mas as facilidades têm destes inconvinientes: sâo demasiado simples e imediatas. E se, no caso do "Le Monde Diplomatique", a versão portuguesa corresponde em pleno (dados os "filtros"), a francesa tem o mesmo dom da "The Economist", isto é, de vez em quando, aquilo que é suposto ler-se nas suas páginas sai ao contrário, para desespero dos que não se importam de viver com uma etiqueta na testa.

Já aqui foi referido que A Sombra não se situa nem na "canhotosfera", nem na "direitosfera", mas, como diria Fabien, na "ambidestrosfera", ou seja, não se lhe aplicam os rótulos, nem as obrigações dogmáticas deles decorrentes. Por esse motivo, pessoalmente, não tenho problema algum em admitir que uma qualquer ideia é boa ou má, independentemente do sector político de onde (parece) ser lançada.

Serve esta introdução para relembrar dois factos, portanto.
Que os EUA se estão a transformar num pesadelo, dia a dia, e que não é apenas a "esquerda" (seja lá o que isso for) que se insurge contra essa situação. De facto, não é este artigo um caso isolado, antes reflectindo um certo "mal-estar" que se vem instalando na "direita" (seja lá o que isso for) a propósito das mudanças que estão a ocorrer na que ficou conhecida como a "maior democracia do mundo".

--- início de transcrição ---

Unjust, unwise, unAmerican
Jul 10th 2003
From The Economist print edition

America's plan to set up military commissions for the trials of terrorist suspects is a big mistake

YOU are taken prisoner in Afghanistan, bound and gagged, flown to the other side of the world and then imprisoned for months in solitary confinement punctuated by interrogations during which you have no legal advice. Finally, you are told what is to be your fate: a trial before a panel of military officers. Your defence lawyer will also be a military officer, and anything you say to him can be recorded. Your trial might be held in secret. You might not be told all the evidence against you. You might be sentenced to death. If you are convicted, you can appeal, but only to yet another panel of military officers. Your ultimate right of appeal is not to a judge but to politicians who have already called everyone in the prison where you are held “killers” and the “worst of the worst”. Even if you are acquitted, or if your appeal against conviction succeeds, you might not go free. Instead you could be returned to your cell and held indefinitely as an “enemy combatant”.

Sad to say, that is America's latest innovation in its war against terrorism: justice by “military commission”. Over-reaction to the scourge of terrorism is nothing new, even in established democracies. The British “interned” Catholics in Northern Ireland without trial; Israel still bulldozes the homes of families of suicide bombers. Given the barbarism of September 11th, it is not surprising that America should demand retribution—particularly against people caught fighting for al-Qaeda in Afghanistan.

This newspaper firmly supported George Bush's battles against the Taliban and Saddam Hussein. We also believe that in some areas, such as domestic intelligence gathering (see article*), his government should nudge the line between liberty and security towards the latter. But the military commissions the Bush administration has set up to try al-Qaeda suspects are still wrong—illiberal, unjust and likely to be counter-productive for the war against terrorism.

http://www.economist.com/printedition/displaystory.cfm?Story_ID=1908281

*(America needs more spies)


--- fim de transcrição ---

Resta saber se José Manuel Fernandes irá juntar a "The Economist" ao "New York Times" e à "BBC", na sua listagem de Media "irresponsáveis"... Aguardemos.

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