quarta-feira, novembro 19, 2003

FUBAR

(*)

Não exactamente um baptismo de fogo...

Os que seguiram para o Iraque para dar notícias do subagrupamento Alfa terminaram por ser notícia eles mesmos. Não me admirei. Tendo em conta o que o Iraque é hoje, admirei-me foi de tudo não ter terminado de forma trágica.

Nunca visitei um país árabe, mas conheço as diferenças entre um árabe pobre e um árabe rico. São as mesmas que nos outros países. Se planeio uma viagem por território onde existe pobreza e não existem representantes da lei em número suficiente, procuro não dar nas vistas, isto é, não dar a entender que sou um "alvo" apetecível, pelo standard da região. Se tal viagem ocorrer num território em que à pobreza se juntam a fome, o roubo, a guerra e um ódio mais que certo aos "ocidentais", e onde não existe a mínima lei ou ordem, ainda tento dar menos nas vistas, se for mesmo obrigado a fazer tal trajecto.
Os jornalistas portugueses que se viram envolvidos no incidente de 14 deste mês decidiram arriscar um trajecto como o último que descrevi... em viaturas de luxo. Segundo o relato de um deles, tendo o cuidado de "esconder" o caro material de trabalho, como câmaras e computadores... Uma precaução tão pertinente como enfiar um Rolex no porta-luvas de um Rolls Royce...

A temeridade pode ser uma virtude. A estupidez é, apenas, estupidez.
Que ganhem juízo e percebam onde estão. É tudo o que espero.

nota:
Muitas foram as vozes que tentaram atirar com as culpas deste incidente com os jornalistas portugueses para cima de alguém. Todas (que eu tenha lido ou ouvido) falharam o alvo. Os únicos responsáveis são os próprios jornalistas.
Quanto ao Governo português, especialmente Durão Barroso, devia era admitir publicamente que não tem meios NEM a obrigação de proteger os jornalistas. Os guardas do subagrupamento Alfa não estão no Iraque para servir de escolta a essas senhoras e esses senhores. Se os jornalistas não têm preparação ou experiência para trabalhar num cenário de guerra, devem sair. De uma forma ou de outra, estão lá por sua conta e risco, não para agravar os riscos já enormes dos que tentam sobreviver no terreno. E muito menos com o nobre objectivo de ter a "sorte" de os apanhar de regresso de uma missão em que estiveram debaixo de fogo para lhes espetar os micros na cara e perguntar: "E então? Como se sente?"

nota2:
Ainda bem que não sou militar no Iraque.
O primeiro desgraçado do jornalista que me fizesse essa pergunta ia apanhar uma rajada mesmo acima da cabeleira. Assim como que... para ver como eu me tinha sentido.

nota3:
A história da libertação do jornalista da TSF, Carlos Raleiras, está muito mal contada. Segundo o Público de 17Nov2003, Raleiras foi libertado quando os seus raptores se aperceberam de que o seu chefe fora feito prisioneiro...
In the words of the virgin Mary: Come again?!

(*) FUBAR: It's a "german" word...

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