sábado, fevereiro 14, 2004

O fim como meio


--- quote ---

texto com pedaço de carta
(a noite)


(o autor saudando o leitor)

E emudecemos
muito
pois era a única direcção
dançável se e quando insondável
E passamos pela palavra secreta
pela imagem secreta
E pelo segredo comum

o fim não é o fim
o silêncio não é um fim
pois há uma vela acesa
E um epitáfio ainda
assim façamos nossa vida um dia
a vida é tudo, posso amar-te no degredo,
Em toda a parte há céu e flores e deus,
se viveres um dia serás livre,
a pedra do sepulcro é que nunca se levanta

E emudecemos um pouco
pois era a direcção
dialéctica
E passámos pela física
pela metafísica
e pela pedra

(o autor definindo a noite)

--- end quote ---

Poema extraído de "o fim não é o fim",
por Pedro Ludgero
(Amores Perfeitos, Vila Nova de Famalicão, Janeiro de 2004)

Porque...
... nem todos somos "escritores frustrados" na minha família!
Parabéns, Pedro, pelo teu segundo livro!
Venha o terceiro, já que o tens pronto!


nota:
Por ocasião do lançamento do livro, na Academia Musical de Vilar do Paraíso, em Vila Nova de Gaia (onde o autor lecciona), sexta-feira, 13 de Fevereiro de 2004.

nota 2:
Há quanto tempo não se falava de poesia ou se escrevia um poema, n'A Sombra... E o Joaquim que também está prestes a editar mais um livro. "E tu?" - perguntaram-me, no lançamento do livro do meu primo Pedro - "Quando é que editas os teus escritos?", ao que estive mesmo para responder que editava outros, mas num blog. "Num quê?" - pois. Por isso é que "só" estive mesmo. :)

nota 3:
A propósito de poesia, registo o simpático convite do Vamos Lixar Tudo para traduzir o poema Aubade, de Philip Larkin, desafio lançado originalmente pelo 3 tesas não pagam dívidas, mas dadas as actuais circunstâncias tenho de declinar a gentileza. Um abraço para o Carlos e para o Rui. ;)

sexta-feira, fevereiro 13, 2004

Agora, amigo?!


José Pacheco Pereira, no Público de ontem, vem dar o dito por não dito e "acha" que "se calhar" tinha sido preferível "não fazer nada" no Iraque a fazer o que foi e está a ser feito...

Ó amigo! Agora?
Agora Inês é morta, homem.

Olhe, fale das europeias ou das nossas presidenciais, ou faça uns haikuzitos; agora do Iraque, faça um favor a si próprio e não diga nem escreva mais nadinha.

(enviado por e-mail para o abrupto JPP...)

quinta-feira, fevereiro 12, 2004

Já sabia...


Quando acabaram os trinta e veio a segunda série, estava a ver que ia sair uma terceira. Hoje, com o número 89 da colecção Mil Folhas, do Público, lá veio a esperada notícia: quem edita 90 edita 100!

A colecção de livros editada pelo Público é simpática, pois além de proporcionar grandes obras da literatura a um preço muito acessível (e com capa dura!), os títulos seleccionados são interessantes, na sua maior parte. As edições especiais, como o Eça e os volumes de Natal, também foram uma boa ideia, embora a tradução dos Contos de Dickens que já tinha (de João Costa, edição Círculo de Leitores) vaporize a desta colecção, mas enfim...

O problema é que já gostava de ler antes de o Público editar a colecção, de onde já ter muitos dos livros que comprei - são os números... se não fossem numerados, ainda saltava os repetidos, assim, cedo ao marketing coleccionista -, embora os considere uma boa compra. Ler um livro traduzido por dois tradutores diversos é como ouvir uma mesma peça musical dirigida por maestros diferentes. Agora, 100?

Ok. Já tinha prometido que, nesta eventualidade, compraria mais dez, mas nunca mais trinta! Se depois dos 100 vierem com a cantiga dos 200 (o que duvido), a mim não me apanham! Mas já conheço o ditado... Never say never...

Quanto à colecção, espero que chegue aos mil, como as folhas. É que muito boa gente começou a ler "a sério" por causa destes livros a 5 euros "mais o jornal".
Um verdadeiro serviço... Público.

Parabéns!
Venham os 100.

quarta-feira, fevereiro 11, 2004

Something Old, Something New...


É um recorde absoluto.
Dez dias sem publicar nadinha e o Fabien "na reserva" (sim, que dos restantes nem falo!). Dada a assiduidade a que A Sombra habituou os seus leitores (que aqui continuaram a vir todos os dias! - obrigado) penso que uma explicação é devida.

Tem a ver com a "bota" que o Fabien disse querer ver como descalçaria... Pois bem, no que toca à Sombra e ao Cinema para Indígenas, muito mal. O tempo não tem dado para nada e o trabalho aperta. Mas isto não diz muito a quem não sabe o que faço e o que este ano tem de diferente.

Walk with me...

Sou um daqueles felizardos que conseguiu a ocupação ideal. Trabalho no meu tempo e, na prática, até quando não faço nada ganho dinheiro. (Não, não sou piloto de fórmula um, nem corretor da Bolsa, nem advogado - não resisti, que me desculpem os advogados!)
Sou pintor.
Esta afirmação é, em si mesma, espantosa, pois não é uma ocupação simpática. A maior parte dos pintores que conheço, sobretudo os que têm formação académica, fazem tudo menos pintar. Eu tive sorte, pois a minha formação académica é gráfica, ainda por cima, mas vem daí o ter-me tornado pintor. A minha cara metade, a Lina, que os leitores habituais d'A Sombra e do Cinema para Indígenas (tão esquecido...) já "conhecem", é licenciada em pintura e, felizmente, consegue viver da pintura, também. Por sua vontade, fiz umas experiências com os meus velhos aerógrafos (que tinha encostados numa gaveta desde que encontrei os Macintosh - em 1985...) e a aceitação superou todas as minhas expectativas - a tal ponto que coloquei a minha empresa gráfica em suspenso e só faço serviços gráficos em situações especiais - como a edição do Panorama, por exemplo.

(A propósito, o número um, seguinte ao zero, saiu a semana passada, o que também contribuiu para o meu afastamento da blogosfera. Nem tempo tive ainda para o colocar on-line... Adiante.)

Tenho uma exposição individual marcada para 5 de Março e ainda algum trabalho para fazer, mais catálogo e convites e... (claro que sou eu que trato disso, uma das excepções em que volto a ser designer gráfico - permaneço o meu cliente mais exigente).
Normalmente, estaria folgado a esta altura, mas no fim do ano passado vendi alguns trabalhos que pensei não me fazerem falta e, entretanto...

Entretanto já fui a Tomar umas quatro vezes desde o fim-de-ano e... mas isso é para a entrada abaixo, publicada em ordem inversa para benefício da leitura!
(...)

(ver Something Borrowed, Something Blue..., abaixo)

Something Borrowed, Something Blue...


(Se começou a ler aqui, "está mal!"
- ver Something Old, Something New..., acima)


(...)
Pois é.
Já andávamos a pensar nisso desde o ano passado e, de repente, a 2 de Janeiro deste ano, demos por nós à procura de Igrejas e Quintas em terras dos Senhores do Templo.
No início do ano, eu e a Lina decidimos casar.

Os que passaram por isso, já sabem como é o "tornado". Neste momento, estou no seu interior e tudo é mais calmo - à excepção da preparação da exposição de pintura - mas a entrada foi tremenda! Datas, locais, confirmações, padres, caterings... You name it.
Agora, até Abril, será mais calmo. Depois é a saída do centro do tornado para a tempestade, de novo - papéis, casa, pormenores, convites... e o CPM (don't ask...). :)

Assim aproveito para comunicar "blogosfericamente" o meu enlace com a Lina, que jamais poderia perder e me dá a força que por vezes não tenho, a 31 de Julho deste ano, na igreja de Santa Maria do Olival, onde estão sepultados nada menos que 21 mestres templários (!), em Tomar (na falta da Charola, em restauro vai para catorze anos...).

E uma vez que vos revelei o meu mister, aproveito para vos convidar para a inauguração da exposição, que ocorrerá no Auditório Municipal de Gondomar, a 5 de Março, pelas 21 horas, que se intitula "Ars est celare artem".
A Blogosfera estará representada. :)
Quanto ao pintor, bem, não uso o meu nome real, mas um heterónimo.
Trata-se de Aguiar (João Pedro) e, um dia, também teve um blog.
Alguns convites seguirão por correio, para alguns de vós, outros por e-mail, mas fica a sugestão, desde já, a todos os que passam por esta Sombra.

Está explicada a minha ausência.
Envio aos que me escreveram, estranhando a situação, um abraço bem forte; obrigado, do fundo do coração. Vocês estão sempre comigo, pois continuei a ler-vos aos pouquinhos, mesmo não tendo tempo (e inspiração) para escrever.


Duas chamadas particulares:
- Para o amigo Baeta,
Aqui estarei sempre. Quanto às melhoras, depende do teu ponto de vista! :)
"A vida é sombra que foge..."
- Para a querida LU,
Obrigado pelas palavras e nunca, mas nunca peça desculpa por me escrever. Estarei sempre aqui, de uma forma ou de outra. Prometo tentar publicar nem que seja um Haiku de vez em quando, enquanto o tempo aperta! ;)


Sempre,

Rui Semblano e João Pedro Aguiar
Vila Nova de Gaia, 11 de Fevereiro de 2004


nota:
Abaixo está uma entrada que já deveria ter sido editada.
Vamos ver se resisto a voltar "a sério" antes de o poder fazer verdadeiramente! Que saudades d'A Sombra - e só foram dez dias!!
(ver I love you just the way you are...)

I love you just the way you are...


É inacreditável, mas esperado.
Agora que ficou demonstrado que não havia qualquer perigo eminente que justificasse a invasão do Iraque e que a memória ainda fresca dos piores anos de Saddam Hussein impedem que a desculpa dos direitos humanos seja invocada em sua substituição de forma credível (nessa altura, Washington e Londres suportavam o esforço de guerra iraquiano), devemos ser condescendentes com os governantes que nos atiraram para um conflito a que a ONU não deu o aval. Devemos condescender porque não nos mentiram ao afirmar que o Iraque possuía armas de destruição em massa prontas a usar, pouco importa se em 45 minutos ou em 45 dias. Não nos mentiram porque foram enganados.

Os culpados, dizem-nos, são as fontes que lhes forneceram informações falsas por verdadeiras e essas fontes são os serviços secretos norte-americanos e britânicos, pois têm obrigação de verificar as informações que obtêm e não podem, portanto, atirar a culpa para as fontes originais (sejam lá quais forem...).
A isto se chama atirar areia para os nossos olhos.
É que, se bem se lembram - e os próprios responsáveis dos serviços de informações dos EUA e do Reino Unido já o reafirmaram -, os serviços secretos norte-americanos e ingleses sempre afirmaram que não possuíam dados relevantes sobre a presença de ADM's no Iraque. Sempre que lhes perguntaram, claro. Os relatórios que Colin Powell e Tony Blair apresentaram eram baseados nessas informações, sempre consideradas exageradas por Hans Blix, que pretendia tempo para as confirmar.

Agora sabemos porque não lhe deram tempo.

Mas condescendamos; condescendamos...
Admitamos que os serviços secretos dos Estados Unidos e do Reino Unido nunca aconselharam prudência e contenção aos seus governantes e que nunca foram pressionados para "espevitar" os meros indícios ou pistas, transformando-os em provas (as tais que Durão Barroso afirmou ter visto com aqueles olhinhos que a terra há-de comer...); que fabricaram do nada a tese dos 45 minutos (RU) e a dos camiões-fábrica de armas químicas e biológicas (EUA), por exemplo. Admitamos que foi assim.
O facto de nos terem dito uma mentira convencidos de que esta era verdade diz-nos o quê sobre estes homens, cada um dos quais com poder para desencadear um ataque nuclear, com base nas informações de que dispõem?

Pobres W. Bush e T. Blair... Afinal, como diria José Manuel Fernandes, não são mentirosos, são apenas estúpidos. Já podemos estar mais descansados. É que começar uma guerra com uma mentira é criminoso, mas fazê-lo por estupidez é perfeitamente aceitável.

Que os países como Portugal, sem meios suficientes para verificar as informações desta natureza que lhes são apresentadas, tenham confiado em dois aliados tradicionais e amigos de longa data, ainda se compreende - embora hoje fosse de esperar alguma indignação, mas não; nadinha -, mas já não se compreende que os responsáveis pelas informações tenham sido enganados a tal ponto pelas suas fontes que transmitiram uma ideia totalmente errada aos seus Governos. Isso é o equivalente a passar um atestado de estupidez à CIA e ao MI5, mas afirmar que essa é a desculpa para justificar a guerra mais injustificável desde a invasão da Polónia, em 1939, é um atentado à inteligência de qualquer um.

Mas se pensarmos, concretamente, na reacção da sociedade portuguesa - e dos seus políticos - a este escândalo, talvez não seja um atentado significativo. Se calhar, para a maioria dos portugueses, a idiotice "Enganos não são mentiras" até é capaz de colar. A mim, desde o princípio, nunca me enrolaram, mas, também, quando fiz o 9º ano tive de passar nos exames para aceder ao 10º. Sou uma espécie em vias de extinção. Acho que não conto para a estatística.
Talvez para a National Geographic, quem sabe...


Rui Semblano
Porto, 1 de Fevereiro de 2004