Tenho uma relação de amor com o Natal.
De amor, por ter crescido num ambiente em que a família era fulcral, tudo girando em seu torno, tornando a noite de Natal na sua manifestação máxima; altura em que toda a família se reunia em casa de meus pais. O motivo era eu; o membro mais novo da família, em Portugal, em volta de quem todo o ritual se desenrolava, da construção da árvore e do presépio à chegada das prendas, à meia-noite de 24, quando as luzes se apagavam e o Pai Natal tocava à campainha, deixando o enorme e desejado saco à porta e partindo de trenó para nova entrega sem que eu o visse (tudo obra do meu primo Manuel António, que desligava o geral no quadro eléctrico, colocava o saco à porta do apartamento, descia as escadas até à rua para tocar a campainha e voltava a subir para ligar a luz quando eu, depois de constatar a presença das prendas à porta, corria para a janela da sala de jantar a ver se ainda via o Pai Natal no céu da noite...).
Mas se eu era o motivo,
o meu pai era o espírito desse Natal.
Era o meu pai que reunia a família, na véspera de Natal, e que tornava cada uma dessas noites num acontecimento, com o seu humor e a sua alegria contagiante. Será sempre no Natal que sentirei mais a sua falta. Desde que faleceu, nunca mais foi verdadeiramente Natal.
Mas o tempo passa e, desde que casei, esforço-me por fazer voltar o espírito de Natal que o meu pai tão bem ilustrava, não em casa de minha mãe, onde as memórias serão sempre demasiado penosas, mas numa casa nova: a nossa. Como no ano passado, a tradição começa a estabelecer-se, mas sei que só quando surgirem os pequenos, que transformam o Natal na noite da família por excelência, ele voltará a ser aquele tempo de celebração e alegria por inteiro. E quando alguém apagar as luzes e um petiz ou uma petiza correr para a janela, sei que não verá o Pai Natal no céu, mas também sei que, de uma daquelas estrelas, será visto por alguém que o ama, mesmo não estando entre nós.
A todos, desejo um Feliz Natal na companhia e no calor dos que vos são queridos.
Rui Semblano
nota:
Como o ano passado, vamos reunir a família nas Terras do Falcoeiro, no Vale da Açucena, próximo de Alvaiázere. Cá em casa, só quando houver pequenos! Tentarei, desde lá, enviar notícias para A Sombra. Até então.
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