G. W. Bush (GWB) continua a não perceber (ou a não querer perceber) o que se está a passar no Iraque. Desde logo porque confunde Iraque com Bagdade, como confunde Afeganistão com Kabul. O facto de muitas mulheres andarem de cara descoberta na rua, de se falar ao telemóvel frequentemente, de existir alguma revitalização dos mercados, de cidadãos afirmarem a sua nacionalidade sobre a sua etnia, que são, afinal, as imagens que nos chegam de Bagdade (como de Kabul), nada significam se, a escassos quilómetros, está tudo de pernas para o ar. Exorbitando, podemos imaginar um general ao telefone com GWB e este a dizer "Como 'mais soldados'? Mas ainda agora vi na Fox que está tudo bem!"
Para quem viu o discurso transmitido hoje de madrugada, as dificuldades de GWB em manter a postura são evidentes. Só lhe faltou, com aquele ar espantado que lhe é próprio, perguntar "Mas só eu é que vejo que estamos a ganhar a guerra?". É importante, sim, que GWB admita (já vezes sem conta) que estava enganado no início da guerra, que existe uma guerra, que não haviam ADM's no Iraque, que existem e vão existir sacrifícios, mas o que diz a seguir mostra que só admitiu tudo isso por ser forçado a tal. De resto, tiradas como "Só temos duas alternativas: a derrota ou a vitória." (mas onde é que eu já ouvi isto?) fazem-nos lembrar outras do género "Vitória ou Morte", ao longo da História, que todos sabemos como terminaram.
A afirmação "Retirar antes da vitória seria um acto irresponsável e desonroso e eu não o permitirei." diz quase tudo. Deve ser reconfortante, para as tropas da linha da frente, saber que estão a lutar por uma questão de "manter a face" de um engravatado a milhares de quilómetros de distância e pouco mais.
Ilustrativo do que disse abaixo (ver entrada "
Operações Especiais", de 16-12-2005) é a tirada "Para a semana, os americanos reunir-se-ão para celebrar o Natal e o
Hanukkah"; mostrando bem como, mesmo falando de um assunto eminentemente árabe (e para o mundo árabe que o escutava com atenção), GWB não consegue separar a religião do seu discurso. Se tivesse referido apenas o Natal, constataria um facto tradicional que tem tanto de laico como de religioso, mas juntando-lhe o
Hanukkah, não só a torna uma referência religiosa como ilustra cristãos e judeus de mãos dadas nos EUA, o que até seria bonito, não fossem as implicações que as palavras vão ter no mundo árabe...
Mas quem lhe escreve os discursos?
Mais uma vez, um rato foi parido. Nada de novo, muito nervosismo e pretenciosismo, pouca humildade... Talvez a Natureza não tenha explicado convenientemente a GWB que é, e será sempre, a única super potência à face da Terra.
O
Katrina já lá foi, não é?
RS