O desenvolvimento de uma empresa privada não se mede da mesma forma que o do Estado, mas deveria. Parte desse desenvolvimento é medido pela qualidade de vida proporcionada.
Esta componente de desenvolvimento, ao contrário do que parece, está intimamente ligada ao desenvolvimento tecnológico e ao desenvolvimento financeiro, pois está mais do que demonstrado que é a qualidade de vida que determina a maior ou menor disposição para o trabalho, logo o maior ou menor rendimento do trabalhador.
No caso do Estado Social, em que todos trabalham em parte para o bem comum, as contrapartidas apresentadas são determinantes para a vontade de cumprir integralmente as obrigações do cidadão, que vão do simples acto de ir votar ao pagamento de impostos. Quando o Estado demonstra leviandade na gestão dos meios de que dispõe e deixa degradar as infra-estruturas que deveriam servir os cidadãos, estes encontram poucos motivos para continuar a sustentar tal gestão.
Quando se trabalha numa empresa onde a colecção de Mercedes do patrão contrasta de forma gritante com as máquinas ultrapassadas da sua linha de produção, mantendo-se estas e crescendo a outra, o trabalhador será burro se não arranjar forma de, rapidamente, passar para outra empresa. Quando um cidadão se encontra perante uma situação idêntica em relação ao Estado, será burro se emigrar. É que os cidadãos, na sua esmagadora maioria, não determinam as administrações das empresas onde trabalham, mas todos são responsáveis pela administração do Estado a que pertencem.
Mudar de empresa, ao constatar a incapacidade da sua administração, é um acto de inteligência. Mudar de país, quando o seu Governo se mostra incompetente, é um acto de demissão. A mentalidade que determina como prioridade de uma empresa privada o seu lucro é dominante na sociedade de hoje e, tranquilamente, transferiu-se para o Estado; ou seja, quando um Estado não tem o lucro como prioridade é considerado mau. Mas será mesmo mau?
Recordam-se dos motivos apresentados pela França e pela Alemanha para o não cumprimento do limite de défice comunitário? Já compararam essa argumentação com a de Portugal e a sua paranóia pelo cumprimento do mesmo?
As estratégias de desenvolvimento empresarial, sustentadas no máximo lucro e mínimo desperdício, resultam desastrosas quando aplicadas ao Estado por, precisamente, ser nelas redundante o factor humano. Hoje, para uma empresa "moderna", é irrelevante a quantidade de famílias que dela dependem. Sempre que surja a oportunidade de fazer mais pagando menos, ela é aproveitada sem contemplações.
O trabalhador é, assim, um factor menor da política empresarial, no sentido de ter deixado de ser o seu motor e passado a ser mero combustível.
Principalmente como fumador, o verdadeiro Estado Social, parece-me mais seguro.
E as empresas que não querem esta via também.
RS
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Há 12 anos
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