Não é do ano passado, mas foi o ano passado.
Não tarda nada, temos os cartazes "Proibido a fumadores",
no lugar dos antigos "Proibido fumar".
Descubra as diferenças.
Entrada actualizada abaixo. Para evitar que os pelos dos mais fundamentalistas se ericem de forma irrecuperável, convém esclarecer alguns pontos, desde já. Assim, penso que deve ser feito tudo o que for possível para evitar que surjam novos fumadores juvenis, sem cair no erro de considerar como aberrações os adultos que decidem começar a fumar ou, tão pouco, os adultos que já fumam. Pessoalmente, e fumo desde os dezoito anos, imponho-me certas regras que não só têm como objectivo respeitar os outros (fumadores ou não) como respeitar-me, a mim mesmo, como não fumar no automóvel, para dar um só exemplo. Fora de casa, procuro não incomodar ninguém com o meu cigarro, o que implica não fumar dentro da casa de quem não fuma, não acender um cigarro à mesa enquanto se come, não atirar com o fumo para cima de quem partilha o mesmo espaço ou fumar perto de crianças (mesmo perto, e esta observação tem a sua razão de ser). Que o cigarro de quem fuma não pode ser imposto a quem não fuma é uma questão de bom senso e de decência. Mas tudo o que ultrapasse isto é perigoso, na medida em que testa a capacidade de reacção e de controlo das pessoas.
Porque só falo em fumadores juvenis, acima? Porque um adulto pode fazer o que bem entende, desde que observe um conjunto de regras que, estou de acordo, devem existir para salvaguarda dos outros. Se fossem todos sensatos, não era necessária legislação para proteger ninguém; seria natural e expontâneo da parte de quem fuma. Mas sabemos que não é assim, por isso as regras. Que regras? Esse é o problema.
Atropelar o bom senso na procura de um ambiente livre de fumo resulta, inevitavelmente, na procura de um ambiente livre de fumadores. E isso é muito grave. Faz pensar em outras procuras de ambientes livres de outros tipos de pessoas, algumas delas conduzindo a sítios como os
Gulags ou como os
Vernichtungslager. Exagero? O endurecimento deste tipo de proibições, que passa por impedir o acesso de determinadas pessoas a determinadas situações ou locais, termina sempre por ser levado ao extremo. Veja-se o que acontece em certas cidades dos EUA em que não se pode fumar em ruas cheias de automóveis.
O Estado, no caso português, é que mais lucra com a existência de fumadores. Todas as doenças atribuídas ao tabaco podem ser contraídas por não fumadores não expostos ao fumo do cigarro. Dizer que, sem fumadores, o Estado pouparia milhões em despesas com a Saúde é uma anedota. O que não é uma anedota é dizer que o Estado perderia milhões sem os fumadores. Aliás, considero do mais hipócrita que existe ser o principal beneficiário da venda de cigarros que procura convencer os fumadores dos seus malefícios, criando regras absurdas e, no limite, anticonstitucionais, pois atentam contra a liberdade individual no que têm de exacerbado direito colectivo.
Que o Estado imponha a proibição de fumar nas empresas e estabelecimentos públicos é seu direito, mas que faça uma lei que impõe o mesmo aos privados é absurdo. Fumar ou não nos locais de trabalho deve ser opção de cada empresa, e cada empresário saberá se é sensato ou não tornar os funcionários parte desse processo de escolha. Mesmo sem legislação que o imponha, já existem há muito empresas onde não se fuma. Só lá trabalha quem quer. Agora, numa empresa em que existem secções onde todos fumam, incluindo os quadros superiores e o patrão, obrigar a não fumar por decreto da República é ridículo e, lá está, perigoso.
Nos locais onde esta legislação passa, não tardam os iluminados, como a OMS, que pretendem controlar os seus empregados até na sua vida privada, fora do trabalho, em suas casas. Isto é puro Orwell. E é mais um passo na "carneirização" das massas. E chama-se fascismo, com todas as letras.
Nos locais públicos, como cafés e restaurantes, que direito tem o Estado de impor seja o que for? Com base na preservação da saúde pública? Que saúde pública? Que sentido faz, na baixa de uma das cidades mais poluídas da Europa, proibir o fumo do tabaco em locais onde os gases vindos dos escapes de automóveis e autocarros circulam à vontade? Ou crêem que ficam à porta, como os cigarros? Isto é do mais bacoco que existe. Quanto ao respeito pelos que não fumam, ele deve ser o mesmo dado aos que fumam, e não a criação de quotas diversas que dividem espaços de formas aleatórias. Cada um sabe de si e do seu estabelecimento ou local de trabalho, se lhe pertencer. Se um café tem 90% de clientes fumadores, como vai ser obrigado a criar uma área de 70% do seu espaço para não fumadores? Que se obrigue a ventilar, tudo bem, mas acima disso qualquer coisa é demais, especialmente em locais onde o fumo do tabaco é uma mísera parcela dos poluentes atmosféricos que todos continuarão a respirar alegremente no dia em que for proibido fumar em toda a parte.
Haja bom senso, respeito por todos e pelas suas escolhas conscientes de fumar ou não, criem-se o máximo de dificuldades ao acesso de crianças e adolescentes ao cigarro, mas que não se chegue ao dia em que, onde não se pode ter uma placa que diga "Só para brancos", se tenha uma outra, igualzinha, que diga "Só para não fumadores".
Rui Semblanonota:Escrito após o jantar a saborear uma aguardente velha e um cigarro, naturalmente. Não há prazer sem pecado...
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