O
Valete Fratres! traduziu parte de um artigo que produz pertinentes considerações sobre o 11 de Setembro de 1973. É um artigo bem elaborado sobre os motivos que levaram à queda de Allende, mas não se fica por aí.
O
Valete, no entanto, fica.
(embora remeta para o artigo original em castelhano)
Para que o quadro fique completo, aqui fica, apenas, a última parte do
artigo em questão, da autoria de
Lorenzo Bernaldo de Quirós:
--- quote ---
(...) A intervenção militar [de Pinochet] foi resultado de uma rebelião civil e parlamentar perante a deriva do regime da Unidad Popular para o totalitarismo. Allende tinha, à partida, uma limitada legitimidade que destruiu mediante um exercício inconstitucional do poder.
O resultado foi a entronização de um longo, injustificável e doloroso período de autoritarismo militar com uma legião de cidadãos exilados, presos e torturados [1]. Assim, Salvador Allende não reúne as condições para figurar no santuário ou no martirológio da democracia chilena, como alguns pretendem, pois liderou um projecto cujo final teria conduzido de forma inexorável à destruição do sistema democrático no Chile.
A sua morte trágica merece compaixão pelo homem, mas sobretudo pelo país que o seu sectarismo afundou na noite negra da ditadura; nunca mais um Allende nem nunca mais um Pinochet.
(Lorenzo Bernaldo de Quirós é presidente do Freemarket International Consulting em Madrid, Espanha e académico associado do Cato Institute)
--- end quote ---
([1] Não menciona os mortos. Por pudor?)
Percebe-se, pelas passagens eleitas pelo
Valete, onde quer este chegar. Também se percebe onde Lorenzo de Quirós quer chegar. O seu texto aponta o desviante adoptar das máximas marxistas da destruição do Estado democrático e da sua estrutura sócio-económica para que das suas cinzas nasça o socialismo, que foi apanágio da administração de Salvador Allende. Aponta mesmo o espectro soviético, decidido a invadir toda a América do Sul via Chile. Faz uso de uma afirmação da revista
The Economist de 13 de Setembro de 1973, que dizia:
"A morte transitória da democracia no Chile será lamentável, mas a responsabilidade directa pertence claramente ao Dr. Allende e aos seus seguidores que atropelaram a Constituição." Em 1973, dois dias após o golpe militar no Chile, a
The Economist não tem dúvidas, mas em 2003, 30 anos depois,
já não sabe o que pensar.
Eu sei o que penso.
Penso que Lorenzo de Quirós justifica uma acção militar para derrubar um Governo legítimo através de uma série de catástrofes que este estaria prestes a cometer no futuro. O mesmo condicional de sempre... O Iraque também estaria a desenvolver armas formidáveis que poderiam ser activadas em 45 minutos e que seriam apontadas ao "mundo livre".
Saddam Hussein nada tem a ver com Salvador Allende, excepto o ter sido vítima de uma acção preventiva com vista a impedir o que se julgava vir a acontecer no futuro.
Prevenções não me agradam nada, venham de onde vierem, ou qualquer dia temos os militares portugueses a entrar pelo parlamento dentro, com ou sem o apoio de terceiros, porque tudo indica que o Governo português nos vai levar à desgraça e, afinal, seria assim legítimo que alguns iluminados o removessem. A bem da nação.
Enquanto um Governo legítimo for soberano, ou se respeita e se aguarda que demonstre ser uma catástrofe para agir radicalmente ou caímos na tragédia que é provocar uma catástrofe certa para evitar uma que poderia, eventualmente, ter acontecido. Afinal o que sucedeu no Chile. E no Iraque.
Não, obrigado.
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