quarta-feira, janeiro 11, 2006

Vão e não procriem!

Voltamos ao mesmo.
Ontem à noite, Miguel Sousa Tavares (MST) punha o dedo na ferida:
"Privatizar sectores essenciais, montados com dinheiros públicos, mantendo os mesmos gestores? Qual é a ideia?" (mais ou menos isto). Bom, tendo em conta a retórica da pergunta, já sabemos que MST sabe e nós sabemos que ele sabe, mas será que nós sabemos o que ele sabe?

Em 2003, A Sombra envolveu-se numa discussão idêntica, em que Garret Hardin, e o seu "Tragedy of the Commons" (1968), foi o bombo de festa. Na altura, alguns já blasfemavam (e ainda blasfemam! ) contra o Estado e a favor da privatização de tudo e mais alguma coisa. Hoje, o que escrevi então não podia ir mais de encontro ao que MST quis insinuar. E o que ele quis insinuar foi que o dito Estado e os ditos Privados se estão a marimbar para o bem comum. Aquilo que mais pesa na hora de privatizar um naco gordo do Estado é a quantidade de gordura que pode ainda ganhar se tornado Privado. E o que faria a maior parte de nós se, gerindo uma empresa pública, limitados pelas estúpidas leis vigentes, pudéssemos decidir quanto ganharíamos, como e quando, na mesma empresa privatizada? Que se dane o prisioneiro, a ovelha e o rebanho! Era isso o que pensaria a maior parte de nós.

Se estão a pensar que por "a maior parte de nós" me estou a excluir, têm razão. Penso que qualquer trabalho que implique atender às necessidades de alguém é um serviço, público ou privado, e que se devem tratar as pessoas como tal e não como carteiras com pernas. E penso que, se trabalhasse para o Estado, atenderia cada pessoa como se do meu patrão se tratasse, porque seria mesmo o meu patrão que estaria a atender. Mas devo admitir que, tendo em conta o panorama, cada vez mais me parece que sou um idiota. E confesso que, por vezes, me apetece pegar no livro de Hardin e ir para a rua com um caixote espalhar a salvação:

"A única forma de preservar e desenvolver mais e melhores liberdades é prescindir da liberdade de procriar, e isto o mais depressa possível!"

Se ao menos Hardin tivesse escrito isto mais cedo, talvez os pais de alguns pseudo-liberais-reais-conservadores que para aí andam o tivessem ouvido...

RS

Em Algumas Sombras, na coluna da direita,
ver a trilogia:
1. Intro - A Democracia, esse mito.
2. Mezzo - Tragédia Comum.
3. Finale - A expansão da loucura.

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