Com as quotas de Kyoto no limite, o Nuclear regressa
à discussão como alternativa, mas de forma leviana e perigosa.
Com o advento da Fusão, que sentido faz investir tempo
e muito dinheiro na Fissão? Quem lucrará com isso?
Actualizado abaixo, o último Facto de 2005 d'A Sombra. Em Junho de 2005 ficou decidido.
O
ITER (International Thermonuclear Experimental Reactor) será construído em França. Sendo um projecto global (o local de construção alternativo era o Japão) é, contudo, muito importante que o primeiro reactor nuclear de fusão seja feito na UE. Só este facto aponta o caminho: a partir daqui, todos os passos serão dados na direcção da fusão e a fissão será abandonada a seguir, esperemos que em breve.
É neste
"em breve" e no
"experimental" em
ITER que os novos messias da fissão nuclear se apoiam, agora que parece inevitável que Portugal vá comprar quotas de emissão de gases poluentes, fazendo notar que o princípio do poluídor pagador não é viável para um país em dificuldades, como o nosso.
Demorará, de facto, a estabelecer a fusão como método corrente de geração de energia e, sem dúvida, o
ITER é mesmo experimental, mas estes dois factores são abatidos da equação se pensarmos no tempo e dinheiro que se gastaria a construir um reactor de fissão nuclear em Portugal (estou a ver se evito a palavra "tradicional"). Mesmo que tal fosse conseguido rapidamente, o desenvolvimento do
ITER será de tal ordem que, na altura em que os
"donos da obra" cortassem a fita, já os países da UE com centrais de fissão estariam a planear a sua substituição. Se tal coisa acontecer, e espero que não, Portugal ficará na história como o último país da UE a ter uma central de fissão nuclear em funcionamento.
A vantagem da fusão sobre a fissão é, para além da relação combustível-energia, a ausência de resíduos tóxicos, o lixo radioactivo que gera a fissão. Criar energia sem poluir é o objectivo do
ITER e da linha de reactores que a ele se seguirão pelo mundo fora. Os defensores da fissão nuclear em Portugal não falam nos resíduos, nem explicam o que faríamos nós com eles, agora que todos se negam a recebê-los. Talvez os enterrassem no meio do monte, noite escura, de faróis apagados, mas o certo é que a fissão nuclear é uma das formas mais poluentes de fazer energia, embora não pareça e fique bem nos relatórios de emissão de gases. É que a poluição não é só atmosférica.
Tendo isto em conta, e não nos esquecendo de que uma central nuclear de fissão em Portugal apenas serviria para produzir electricidade, excluída das nossas maiores carências energéticas, pelo que não resolveria grande coisa quer a esse nível quer ao nível da emissão de gases, que continuaria quase sem alteração, quem ganharia com isso?
A resposta é igual que para a mesma pergunta aplicada à OTA e ao TGV, entre outras coisas megalómanas e despropositadas: ganhará, e muito, quem o construir, quem o negociar e quem o fizer passar pelo crivo da República.
Sim. Da República.
RS
Outros factos de 2005, n'A Sombra:Factos de 2005 - VI - Nuclear? Depende, obrigado.Factos de 2005 - V - Paris já está a arder?Factos de 2005 - IV - Have a smoke... Factos de 2005 - III - Gitmo Factos de 2005 - II - Superpotência e Prepotência Factos de 2005 - I - Dresden 13.02.1945Esta entrada encerra a série "Factos de 2005".Muitos mais poderiam ter sido editados, mas é tempo de olhar o presente.a
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