sexta-feira, fevereiro 17, 2006

Of swords and pens...



Ao que parece, um Estado deve ser responsável pelos dislates dos seus embaixadores e vice-versa, mas um jornal não deve ser responsável pelos dislates dos seus colaboradores e vice-versa. Dois pesos e duas medidas.

Não nos devemos submeter a nada, excepto à nossa consciência. Devemos agir em conformidade com ela e, se for o caso, estar dispostos a reconhecer os nossos erros - e a pagar por eles.

Nada justifica a reacção violenta dos muçulmanos aos cartoons dinamarqueses; nada a desculpa.
Partir daqui para não se compreender porque reagem assim é idiota e cabotino.


Antes de embarcarmos para Ceuta, a fim de espalhar à espadeirada a democracia e a liberdade de expressão e os Legos, tal como os nossos tataravós (um dos meus andou pela Palestina, fora de brincadeiras, que com os Semblano não se brinca), gostaria de partilhar convosco um pensamento:

Estava eu, há uns anitos, em pleno Fantasporto quando se deu a tragédia de Entre-os-Rios. Como ando sempre com o caderno de desenho e farto-me de fazer caricaturas no dito e no fantaspainel (verdadeiro wallpaper ou muro das lamentações onde escreve e desenha quem quer), puxei da caneta e zás: sai um cartoon sobre a queda da ponte com o autocarro em cima. Era humor e era negro. Afinal, era o Fantasporto, o cinema de terror e essas coisas todas; o ambiente proporcionava algo assim.
À mesa, entre gente que eu sei quem é e como pensa, rimos do boneco e passámos à frente. Deixei-o estar no caderno, onde ainda está. Não o transpus para o painel, onde seria visto por todos no Rivoli. Não o enviei para um jornal, mesmo insignificante, onde não sei quantas pessoas o veriam. Que ganharia eu em insultar as famílias dos que morreram no desastre com essa exposição? Mesmo hoje, anos passados, não o faria.

Ninguém me obrigou a nada.
Não me submeti a nada.
Excepto à minha consciência e ao meu sentido de decência.

Liberdade de expressão é liberdade de escolha. É liberdade.
Os burgueses que agora pregam desmioladamente pelo que entendem por "liberdade", não gostariam por certo que eu me fosse instalar nas suas casas ou lhes queimasse os carros. Era vê-los a abrir as goelas, a vociferar contra essa "liberdade" e a gritar ó da guarda.
Ponham-se a dizer que não há limites e depois arranjem comparações à medida para se desculparem, mas não se enganem quando se olharem ao espelho.

Há mesmo animais que são mais iguais que outros. Ou é o que parece.

Rui Semblano


ver: Mightier than the sword...

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