segunda-feira, julho 07, 2003

Brincar às cidades - II

Como portuense, pois apesar de viver em Gaia, a meio minuto da ponte D. Luís, nasci em Massarelos e passei meia vida no Porto, as notícias relativas à Invicta tocam-me fundo. Ultimamente, as polémicas em torno do novo estádio das Antas (que não me vejo a chamar de Dragão apesar de ser simpatizante do FCP), das obras arrastadas e mal amanhadas de 2001, da Casa da Música e mais algumas, têm produzido uma imagem negativa desta cidade, que o facto de não ser um caso isolado nada atenua.

A última nova é já velha: a decisão de demolir o Centro Comercial Cidade do Porto, ao Bom Sucesso, em plena Boavista. Ao que tudo indica, a não ser que o apelo de Rui Rio ao Supremo resulte, desta vez não há volta a dar. Mais uma vez, andam a brincar às cidades com o nosso dinheiro. (ver "Brincar às cidades - I" mais abaixo)
Sempre considerei aquele edifício um mamarracho, tipo Amoreiras do Porto, e veria com bons olhos a sua demolição... quando estava a ser construído. O que não aceito é que falem na sua demolição como se fosse uma obra, quando se trata de um local muito frequentado e onde trabalham centenas de pessoas. Que a decisão seja para cumprir, acho muito bem, mas só quando existir, aprovado, um projecto com garantias de execução e, sobretudo, com exploração e manutenção asseguradas.
Estou a ver os responsáveis a dizer que nem poderia ser de outro modo, bla, bla, bla... Mas temos visto como as coisas funcionam na realidade e, desde a Cordoaria ao Castelo do Queijo, desde Carlos Alberto ao Cinema Batalha, desde o edifício da Pedreira ao Transparente, não faltam exemplos de verdadeiros infernos que começaram cheios de boas intenções.

Falem-me do que vai acontecer naquele espaço após a demolição do camafeu; digam-me quando vai estar pronto tal projecto e, sobretudo, como vão ser tratados os que vão ser prejudicados pelo fim do Centro Comercial - e não falo de Zaras e afins, mas dos que lá trabalham e dos proprietários de pequenos negócios. Depois de me falarem disso, podem dizer em que dia vão deitar abaixo o mono, que eu lá estarei para aplaudir de pé. Mas nunca antes.
Nunca antes, porque me recuso a considerar positivo que se destrua um local pleno de actividade e, depois de aplaudido o acto, se vá para casa pensar durante anos no que fazer naquela cratera.

Ouvir Rui Rio a lamentar não ter 125 milhões para cumprir a sentença, o queixoso a protestar que a factura será apresentada à Soares da Costa e não à autarquia e o juiz a afirmar que 125 milhões é uma quantia "desprezível" se com ela se pode devolver a qualidade de vida aos cidadãos da zona, é alucinante.
Quem os ouve falar assim, fica convencido que basta demolir a aberração que das ruínas nascerá um paraíso sem gastar mais um cêntimo. E ainda dizem que a bananada se serve fria...

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