quinta-feira, julho 10, 2003

Lapiz Lazuli


Não se trata de uma referência geológica, antes um jogo de palavras.

--- início de transcrição ---

(...)
Pela censura. Um aspecto interessante de algumas reacções ao que escrevi sobre os incidentes com Berlusconi é a clara, evidente, quase explicita, sugerida vontade de censura. Aquilo que escrevi irritou muita gente que preferia que o incidente Berlusconi não fosse conhecido no contexto, mesmo quando eu nunca o justifiquei pelo contexto. Que bom que seria, que cómodo, se eu não tivesse escrito o que escrevi, ainda por cima citado pelo Público.

Há um aspecto sinistro de algum debate em Portugal que é a vontade de censura do outro. Não se trata de critica-lo, de discordar, de até irritar-se com o que ele diz, trata-se de ter uma vontade indisfarçável de que ele não fale, de que ele não possa falar. Há gente que muito mais do que irritar-se com o que eu digo, irrita-se por eu o poder dizer. Há muita gente, demasiada gente, que não gosta mesmo da liberdade, que se dá mal com a liberdade.
Posted 09:25 by JPP

(in Abrupto)

--- fim de transcrição ---



Caro José Pacheco Pereira,

Como lhe dou razão! Há por aí muito boa gente com uma tremenda nostalgia do lápis azul ou de coisas piores, mas permitir-me-á um curto e fino comentário: não me conto entre tal gente. De facto, acho positivo em extremo que opiniões como as suas encontrem porto de abrigo e entreposto em meios de comunicação da importância do Público. Veja o caso de outro José, o Manuel Fernandes, cuja prosa me deleita na forma como, tão eloquentemente, enche as entrelinhas, permitindo ler muito mais do que teve espaço para escrever e, com isso, tornando a sua opinião mais cristalina.
Já no seu caso, perdoar-me-á, o estilo (não empregarei o termo "escola", tão desagradável) é similar, mas as suas entrelinhas, José Pacheco Pereira! Que entrelinhas! São como um bom Yves Saint-Laurent ou um Dior. As notas de "entrada" parecem denunciar uma fragrância inferior, alcoolizada, volátil, mas depressa chega o "coração" e essa impressão passageira é desvanecida por um sinal sofisticado, de tom árido ou temperado, agreste ou doce, é impossível determiná-lo, mas é essa a sua beleza, o seu mistério, a sua elegância, e a essência permanece longo tempo, familiarmente agradável, embora se torne um pouco enjoativa, por vezes, tal o seu corpo, para se desvanecer em notas de "saída" leves e descontraídas, a recordar o êxtase anterior.
Adoro perfumes assim, mas só cheirá-los, pois a maior parte, se usados, deixa na roupa marcas indeléveis, difíceis de eliminar, mesmo se postos sobre a pele, como manda a regra, e não nos tecidos. Como já deve ter compreendido, da leitura deste humilde blog, não me agrada mudar de camisa, pelo que se torna complicado fazer mais que cheirar o seu "perfume".
Mas agrada-me que exista. A não existir, o seu e o de outros, como poderia eu preferir um diverso?

A franqueza, como a diversidade, é algo que muito prezo, por isso permitir-me-á dizer-lhe como não gosto da generalidade do que pensa, embora me consiga surpreender num ou noutro particular; não significando isto que chegue ao ponto de o desprezar ou, muito pior, menosprezar. De onde o subtítulo sob o link que direcciona os internautas para o Abrupto, à direita, sem ofensa, na página d'A Sombra.

Sempre muito atentamente, pel'A Sombra,

Rui Semblano

(e-mail enviado para jppereir@mail.telepac.pt)

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