No dia 5 de Setembro escrevia que, para mim, usar a expressão "11 de Setembro" como equivalente de "nine-eleven" não fazia sentido (ver "
Nine-Eleven"). A ilustrar a minha ideia, apontei um ano: 1973.
Nesse ano, a 11 de Setembro, "choveu em Santiago".
A revista "
The Economist", no seu número 36 deste ano, veio "defender" o meu ponto de vista. Fá-lo, nada menos, através de dois artigos: "
Memories of a coup" e "
That other September 11th" (6 Setembro 2003, ps. 14 e 48).
Pode argumentar-se que o Chile de Allende não era um paraíso; pode mesmo afirmar-se (correndo o risco de fazer concorrência à "astróloga" Maya) que Allende teria transformado o Chile num caos, tivesse permanecido no poder e que, dando-lhe tempo, teria sido pior que dez Augustos Pinochets.
Pode dizer-se não importa o quê sobre o Chile de Salvador Allende, mas nada disso apagará o 11 de Setembro de 1973.
Com o apoio efectivo de Washington, foi violentamente deposto um assumido marxista eleito democraticamente e, no seu lugar, colocado um déspota que se manteria no poder por 17 anos.
Citando a "
The Economist", a manutenção de Pinochet no poder exigiu a morte de cerca de 3.000 chilenos (um número que ilude os incontáveis e inexplicados "desaparecimentos" ocorridos nesse período) e a prisão e tortura de, possivelmente, "centenas de milhar" de outros, segundo o historiador
Alfredo Jocelyn-Holt.
A "
The Economist" aponta duas conclusões paradoxais sobre o Chile de 1970 a 1973; a primeira diz que "apesar de [Salvador Allende] aparentar ser um salvador para muitos [dos seus compatriotas], os Estados Unidos não podiam tolerar um marxista no poder, no seu hemisfério"; a segunda afirma que "o principal erro de Allende foi forçar a mudança a um ritmo mais alto que o suportável por muitos chilenos".
A cada um determinar qual dos dois argumentos melhor ilustra a "chuva" de 11 de Setembro de 1973, em Santiago do Chile.
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