sábado, abril 01, 2006

2. Parece mentira...

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Morreram 2.801 pessoas
no World Trade Center.
24 famílias terão agora acesso
às gravações dos telefonemas
dos que perderam nesse dia.
Cinco anos depois.
Suponho que devemos agradecer
tanta sensibilidade e eficácia.
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imagem: "Alive dude."
11 de Setembro de 2001
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Reveladas as últimas gravações do 11 de Setembro
Ellen Barry Nova Iorque
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Nova Iorque deu a 24 famílias das vítimas acesso aos diálogos com serviço de emergência
No passado fim-de-semana, uma mulher entrou no elevador e abriu uma carta chegada por correio expresso. O que leu fez-lhe tremer os joelhos e desmaiou.
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A sua família foi uma das 24 que receberam notícias de que o município de Nova Iorque tinha um registo de um ente querido - no seu caso, o marido - a falar ao telefone para os serviços de emergência a partir dos andares cimeiros, cheios de fumo, do World Trade Center. Cabia-lhe a ela, explicava a carta, decidir se queria uma cópia da gravação. Esta semana reabriu velhas cicatrizes. William Doyle, que fala em nome de parentes das vítimas do 11 de Setembro de 2001, recebeu uma chamada furiosa da mulher, que pediu para não ser publicamente identificada. Foi a primeira de muitas. "Quando é que isto vai acabar?", pergutou Doyle, um corrector reformado de Staten Island cujo filho morreu nos ataques. "Por que é que fizeram isto? Por que é que não deixam estas pessoas recomporem-se?
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"O 11 de Setembro encheu os cabeçalhos durante toda a semana. Na segunda-feira, o instituto de medicina legal de Nova Iorque anunciou que tinham sido encontrados mais quatro despojos humanos num arranha-céus vazio junto às torres gémeas.E ontem a cidade iria divulgar mais de nove horas de gravações de chamadas de socorro. A divulgação é o culminar de quatro anos de conflito legal entre o New York Times, a que se juntaram os parentes de nove vítimas, e o município, que disse que as gravações eram de uma "natureza intensamente emocional e privada".
(...)
O jornal, que pediu as gravações ao abrigo da lei estadual sobre liberdade de informação, mantém que estas revelarão como é que os serviços de emergência funcionaram nos momentos depois de os dois aviões terem atingido as torres.O tribunal de recursos de Nova Iorque determinou em Março de 2005 que Nova Iorque deveria divulgar transcrições das palavras dos telefonistas do 911 (equivalente ao 112 português), mas que as palavras das vítimas poderiam ser apagadas.
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"É normal que se fique chocado se momentos íntimos na vida de um parente morto se tornam públicos, e objecto de uma curiosidade mórbida", diz a decisão tomada por maioria e redigida pelo juiz Robert Smith. Os advogados municipais têm estado desde então a procurar identificar as vozes nas gravações e a informar os parentes, conforme o tribunal determinou.
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Das 103 chamadas registadas, conseguiram identificar 28 pessoas, 27 das quais morreram. No fim da semana passada, a cidade enviou cartas às 24 famílias que os investigadores conseguiram localizar, informando-os de que poderiam recolher gravações não editadas dos diálogos dos seus parentes com o pessoal de emergência. Um dilema para as famílias. Joe Hanley, cujo filho de 34 anos ficou encarcerado no restaurante Windows of the World, teve medo de ouvir caos ou pânico na gravação. Na quarta-feira, ele e a mulher colocaram o CD. O que ouviram foi a voz calma do filho, que disse aos operadores ter ficado encurralado com mais uma centena de pessoas no piso 106. Não parecia assustado. Ficou conformado com a forma como o filho se comportara naquelas circunstâncias. E passou a gravação ao NYT. "Parecia alguém de quem me poderia orgulhar", disse.
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Até agora, só quatro ou cinco famílias recolheram as gravações, que vão desde muito emocionais e dolorosas até às factuais, disse Kate O"Brien Ahlert, porta-voz do departamento jurídico da câmara municipal. Se as vão ou não ouvir, só a elas cabe decidir.
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Exclusivo PÚBLICO/Los Angeles Times
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in Público, 1 de Abril de 2006 / destaque "24 famílias", A Sombra
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