sábado, agosto 09, 2003

Espírito de serviço


Depois de constatada a inadequada composição da frota da Força Aérea Portuguesa (FAP) para combater os incêndios florestais, pois os kits de adaptação de aeronaves para este fim eram aplicados aos Hércules C-130, pouco adequados para "sobrevoar incêndios", o Governo procura soluções.

A primeira foi pedir auxílio ao estrangeiro, para o envio de aeronaves.
Entre os que responderam ao apelo, dentro e fora da NATO, Itália, Alemanha e Marrocos, este último com o concurso de um... Hércules C-130. Os marroquinos ainda não perceberam que o C-130 "não serve" para este tipo de missões, mas o Governo português não o mandou para trás para não ferir susceptibilidades; assim, tem andado um C-130 marroquino a gastar carburante nos céus de Portugal "para nada", enquanto os da FAP vão fazendo "outras coisas" (muito importantes, decerto!).

A segunda foi recorrer a verbas de emergência, portuguesas e da UE, a fim de socorrer as vítimas dos fogos. Uma solução bem conhecida de todos nós, como foi recordado por muitos analistas, comentadores, jornalistas e... bloggers. Hoje 50 milhões, para o ano 100? Bah! É só dinheiro. Siga.

A terceira está, ainda, em discussão.
Dotar a FAP de meios próprios para o combate a incêndio? Isso não agradaria muito a Manuela Ferreira Leite. Mesmo que a verba para a aquisição inicial de material específico venha da UE, os custos de operação são elevadíssimos para o Estado. Além do mais, assim não se geram lucros, nem para os madeireiros.
Paulo Portas, também, não quererá "abastardar" o papel marcial da FAP, hoje a arma aérea melhor equipada em termos de relação homem/material. Nem os EUA dispõem de mais de um caça topo de gama por piloto, pelo contrário, muitos pilotos partilham as mesmas máquinas, o que é contraproducente - todos os que emprestam o seu automóvel à esposa ou ao marido, em base regular, atestarão este facto. Mas Portugal tem uma esquadrilha de F-16 evoluídos em que cada piloto dispõe de dois aparelhos. Caso ímpar no mundo, como uma vista de olhos à Jane's poderá confirmar.
Durão Barroso, como habitualmente, só fará prognósticos depois de tomada a decisão e, aconteça o que acontecer, estará com os seus ministros a 200% (seja lá o que isso for...).
Já Amílcar Theias manifestará a sua preocupação na compra de material de uso civil para os militares, visto ser mais atractivo que o de uso militar para os que buscam uma recordação na hora de passar à reserva.
Marques Mendes permanecerá igual a si mesmo, declarando que comprar material normalmente usado pelos soldados da paz para a FAP será uma "ganda nóia".
Possivelmente, será José Luís Arnaut a avançar uma alternativa sensata: um leque de subsídios provenientes da UE para a criação de empresas privadas nacionais com meios aéreos de combate aos fogos.

Portugal é uma mina de ouro para este tipo de empresas (perguntem aos espanhóis!) e, por mim, vou já concorrer, mas sempre imbuído do mais elevado espírito de serviço e na esperança de ter pouco trabalho.
Até proporei a compra de novas aeronaves para a firma, a cada ano que passe sem se verificarem incêndios nas nossas florestas!
Para comemorar e às custas da UE, claro!

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