A propósito do artigo do
Público, de 02Ago2003, p. 9, da autoria de Jan Krzystof Bielecki,
"Uma política externa para a nova e a velha Europa".
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Como disse recentemente o primeiro-ministro dinamarquês Anders Fogh Rasmussen, "a França e a Alemanha não estão em posição de garantir a segurança do nosso país. Os EUA estão, mas a segurança não é de graça."
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Uma citação de uma citação é o melhor que encontro neste artigo para ilustrar como Jan K. Bielecki, antigo primeiro-ministro polaco, vê a presente e futura
relação UE/EUA.
A Polónia não será, certamente, um "cavalo de Tróia" dos norte-americanos, mas o sugestivo título, que supomos ser do autor do artigo, já assume a existência de uma Europa velha e outra nova, Rumsfeld
dixit, e talvez essas ideias não sejam tão desagradáveis para Varsóvia como Bielecki pretende fazer crer.
Apesar do estafado discurso em prol do desenvolvimento militar europeu, já a circular na UE antes do último alargamento, o desejo de manter o "guarda-chuva norte-americano" aberto sobre o Velho Continente é indisfarçável, isto é, apenas numa perspectiva de complementaridade com os EUA, na óptica da OTAN, perdão, da NATO, etc., etc., etc.; bla, bla, bla...
Na verdade, quando se afirma a debilidade do aparelho militar europeu como justificativo da manutenção da NATO (leia-se "dos EUA") como responsável único pela defesa da Europa, a comparação é perversa, por se referir ao poderio militar de um aliado efectivo e não ao de um potencial inimigo.
Quem, no mundo, pode fazer frente aos exércitos da Europa, excepto os EUA? E, note-se, estamos a falar de "defesa", aquela que surge como resposta a uma agressão, não a que ataca "preventivamente".
Apesar das evidentes lacunas no sistema defensivo europeu, a Europa tem poderio militar para responder eficazmente a um ataque de qualquer potencial inimigo, excepto a um levado a cabo pelos próprios EUA.
Portanto, quando Anders Rasmussen afirma que a França e a Alemanha não estão em posição de defender a Dinamarca, afirmação que Bielecki generaliza como a incapacidade da Europa em se defender por si, deve subentender-se que um e outro temem um ataque dos EUA?
Como não deve ser essa a interpretação, resta a óbvia:
Jan Bielecki já pensa de acordo com o conceito norte-americano de "defesa", isto é, disparar primeiro e perguntar depois. Como tal conceito implica a projecção de forças, por vezes a milhares de quilómetros do solo que se pretende "defender", não posso deixar de concordar com ele.
Em termos deste tipo de "defesa", que depende do "ataque preventivo", a Europa fica bem longe dos lugares de topo da tabela e, tratando-se disto, então sim, o recurso aos EUA como ponta-de-lança torna-se obrigatório.
Falta perguntar aos europeus se este conceito bastardo de "defesa" deve ou não ser adoptado pela UE. Já sei que José Pacheco Pereira não fará nada nesse sentido, mas o que me preocupa não é José Pacheco Pereira...
O que me preocupa é esta caricatura da democracia em que nos deixamos adormecer.
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