quarta-feira, agosto 06, 2003

Camelot 2003 . 2 . Anexo a

(continuação da publicação deste ensaio)
Ver entrada inicial "Camelot 2003", nos Arquivos d'A Sombra, de 16Jul2003)

2. O eixo Atlântico (cont.)
Os efeitos de uma guerra em território dos EUA

Pearl Harbor não deixa de ser território norte-americano, como o convés do USS Nimitz também o é, mas considerar que a agressão japonesa de 1941 produziu o mesmo efeito na população norte-americana que o sentido pelas populações da Europa durante a Segunda Guerra Mundial é um absurdo.

Para o norte-americano médio, a guerra sempre foi um fenómeno longínquo, apenas sentido através da comunicação social e de algumas alterações na sua Economia. Exceptuando o facto que é a dor das famílias que viram (e continuam a ver) os seus filhos regressar a casa em caixões - ou que não os viram regressar de todo - qualquer guerra travada pelos Estados Unidos a partir do século XX poderia ter ocorrido nos confins desta Galáxia. Resultado: é extremamente fácil aos EUA desencadear uma guerra (embora cada vez menos o seja, devido a uma opinião pública mais informada). O seu actual desenvolvimento económico e militar também contribui para essa facilidade. Graças a ele, torna-se possível falar de objectivos bélicos impensáveis no século passado (o XX, recorde-se), como a subjugação de países em questão de meses, se não de semanas, e até a perseguição do inatingível objectivo que é a guerra com zero baixas. Em ambientes mais hostis, como o Iraque, ou consideravelmente mais hostis, como a Coreia do Norte, o objectivo "zero baixas" é irreal, mas a ilusão de se conseguir resultados positivos com um número mínimo de mortos em combate persiste e não é, totalmente, utópica.

Enquanto, durante as duas guerras mundiais, a maior parte das nações envolvidas sofreu "na carne" os seus efeitos devastadores, os EUA, com a óbvia excepção das baixas (a milhares de quilómetros de casa), foram sempre poupados a essa experiência transtornante e transformadora, com a irrelevante excepção de Pearl Harbor que, de resto, era um alvo quase exclusivamente militar. Além do mais, não nos devemos esquecer que foi a Segunda Guerra Mundial que veio salvar os EUA da precipitação num abismo do qual, sem a aparição do fabuloso complexo militar-industrial, seria extremamente moroso sair.
A indústria militar norte-americana e o novo aparelho militar dos EUA, seu principal cliente, salvaram os EUA dos efeitos da Grande Depressão, fundando o gigantesco complexo industrial e militar que, desde então e apesar dos avisos clarividentes de Eisenhower, se tornou num dos pilares fundamentais do verdadeiro Poder nos EUA, independente de serem republicanos ou democratas a ocupar a Casa Branca.
Esta característica, aliás, está no origem da verdadeira obsessão dos norte-americanos pela segurança interna, "National Security", como lhe chamam, de que falaremos adiante.

(in Camelot 2003 © Rui Semblano - Porto - Janeiro e Fevereiro de 2003)

Para a frente: ver entrada Camelot 2003 . 2 . Anexo b
(Os efeitos de um Governo ditatorial nos EUA) de 26Ago2003
Para trás: ver entrada Camelot 2003 . 2
(O eixo Atlântico) de 24Jul2003

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