terça-feira, outubro 28, 2003

Duas surpresas


Eu bem tento, mas desde que a FNAC está na baixa do Porto as possibilidades de me "desgraçar" aumentaram desmesuradamente... Quando tinha de ir a Matosinhos, de propósito, ainda dava para controlar a coisa, mas ter uma FNAC num local onde passo quase todos os dias é "terrível". É como um magneto! Num minuto estou a passar na Santa Catarina ou em Passos Manuel e noutro encontro-me no piso inferior da loja, no meio dos CD's, dos DVD's e dos livros - e não faço ideia do que sucedeu entre esses dois minutos! É como um buraco negro!

Hoje (25Out2003) aguardavam-me duas surpresas.

A primeira:
Em busca (sempre) da versão completa de Shichinin no Samurai (Os sete Samurai), de Akira Kurosawa (207 minutos de filme), deparo-me com um pack com apresentação de Francis Ford Coppola que há muito desejava ter. Koyaanisqatsi e Powaqqatsi. A primeira e segunda partes da trilogia Qatsi de Godfrey Reggio. (Exemplar único, na altura, e Zona 1 - sem legendas em português) Foi-me apresentada por alguém especial, numa dimensão fora deste Espaço e deste Tempo. A oportunidade era imperdível. Naqoyqatsi, a última parte, será publicada em breve. Sorri. Outra coisa ficaria por conseguir: a bela banda sonora de Bend it like Beckham, que tive de encomendar do circuito de importação. Entre outras coisas: Nusrat Fateh Ali Khan, Malkit Singh, Hans Raj Hans, Bally Sagoo e uma versão interessante de Nessun Dorma, de Turandot, por Tito Beltran. Chouette! Apesar de o Kazaa me ter proporcionado todos estes temas, sempre preferi adquirir os originais - ou não fosse eu um autor.

A segunda:
Luís Filipe Menezes.
Ao vivo, no Forum, para falar sobre o seu livro "Sulista, elitista e liberal q.b.".
Luís Filipe Menezes é o presidente da Câmara da cidade onde vivo e, também por isso, desperta em mim sentimentos contraditórios.
Capaz das atitudes mais descabidas como das mais nobres, é o mais próximo que conheço do adversário político perfeito (não existem políticos perfeitos). Vencer Menezes, lealmente, é sinónimo de excelência.
Por um lado, sinto admiração por quem, apesar de político, fala o que sente e o que sente tem de ser dito; por outro, sinto alguma tristeza por iniciativas tomadas na zona metropolitana de Gaia (a desgraça que foi a intervenção no Mosteiro da Serra do Pilar; o corte da marginal Gaia-Espinho junto da Casa Branca; o desaproveitamento da ponte D. Luís I em favor, exclusivamente, do metro; a inauguração da ponte das Fontaínhas à sorte...). Será ele o genuíno "fundamentalista-moderado"? Ainda hoje não sei o que o faz correr, apenas o adivinho, mas continuo a seguir o seu percurso com interesse e continuarei a segui-lo até à minha cidade berço - o seu destino iniludível.

Gosto de o ouvir. De o ouvir dizer que as mulheres devem conquistar o seu lugar na política a pulso e por mérito, no lugar de o encontrar à sua espera na bandeja das quotas; de o ouvir dizer que as juventudes partidárias já ultrapassaram o seu tempo útil de vida, sendo hoje viveiros de pequenos políticos profissionais, que o são com vinte aninhos apenas, para se tornarem inteiramente politico-dependentes aos trinta, capazes de qualquer coisa para evitar a saída da cena política, emparedados em vida nos respectivos aparelhos partidários; de o ouvir dizer que o TGV é um erro crasso, pois a nível nacional não se justificam gastos de 700 e 200 milhões do nosso dinheiro para chegar mais cedo, respectivamente, 28 minutos ao Porto ou a Lisboa, partindo de uma ou de outra cidade, e 12 minutos a Vigo, partindo do Porto; de o ouvir dizer que a si se deve a presidência de Rui Rio. Gosto.

Luís Filipe Menezes está longe de ser o político perfeito, mas bem mais perto de conseguir os seus objectivos do que aparenta - sejam eles quais forem, sei que não excluem a vida pública, pois reconheço um "animal político" quando vejo um.

Rui Semblano
25 de Outubro de 2003

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