segunda-feira, outubro 27, 2003

A sombra de Tarantino


Kill Bill deveria ser um só filme.
Tarantino devia ter mantido a sua intenção original, a do tal épico de três horas e meia, mas suponho que a junção da falta de paciência das produtoras pelos filmes com mais de hora e meia com a necessidade de realizar capital ainda este ano de Tarantino falaram mais alto. Infelizmente.

Ao factor económico, de facto, parece ficar a dever-se a decisão da redução de uma película como Kill Bill em dois volumes. Dois filmes rendem mais que um, sobretudo quando a expectativa é grande.
Assim se vende - e se diminui - a arte.

A entrada correspondente a Kill Bill - vol. 1 já está publicada no Cinema para Indígenas, como sempre acontece quando vejo um filme, mas o tema é retomado aqui, onde o cinema também é motivo de reflexão, embora noutro contexto. Neste caso, o mote é o próprio Tarantino.
Conheci-o graças ao Fantasporto, numa época em que ninguém sabia quem era "aquele maluco genial", por via daquela que é, para mim, a sua obra-prima (em todos os sentidos): Reservoir Dogs. A partir de então, Quentin Tarantino permaneceu na minha lista de "obrigatórios", mesmo quando não chega onde eu gostaria - como nos casos das participações em Four Rooms e From Dusk till Dawn.

Aparentemente, pois é impossível analisar decentemente Kill Bill apenas com o volume 1 visto, Tarantino filma dentro do seu cérebro, a começar com o estafado "provérbio klingon" e a acabar no recurso Stoniano à animação, no caso a Anime, passando pelos "seus" ícones pop - e digo "seus" por serem mesmo dele, não dos personagens - mas estas opiniões pecam por não ter visto o filme todo... E não se pense que o volume 1 de Kill Bill é cinematograficamente comparável a The Matrix ou a The Brotherhood of the Ring! Não se trata de uma primeira parte, mas antes de um filme cortado a meio. E esse pormenor mata o volume 1 de Kill Bill.

Aliás, o resultado deste meio filme, se não for visionado sob a influência de estupefacientes, é uma amálgama de flashes a que a divisão por títulos à Tarantino (e, sobretudo, não só) acrescenta tanto como uma legenda identificadora da passagem da ingestão de um estimulante sintético a outro. Inglória, ineficaz e desnecessária.

Portanto, sem o benefício da visualização do volume 2 de Kill Bill, a sair em 2004, qualquer análise ao volume 1 que o classifique de mais que normal (até banal) se torna escrava da predilecção de quem a faz por Tarantino. Eu gosto imenso do seu género de realização, mas não caio nessa asneira.

Reservo a minha análise de Kill Bill para a altura em que dispuser dos dois volumes em DVD e puder vê-los como aquilo que são: um só filme. Mas Tarantino não quis assim, provocando a desilusão que tive, como se a fita se tivesse partido a meio da projecção.

O que penso de Kill Bill?
Quando o projeccionista resolver o problema e retomar a passagem do filme logo se vê. Até então, do que vi, a expectativa não foi sequer atingida, quanto mais superada. "O melhor filme de acção de todos os tempos"? Veremos, assim se complete a projecção. Para já, porém, não me parece. Bem longe disso.

nota:
Até a punch line do filme é uma anedota...
"In the year 2003, Uma Thurman will kill Bill"?
I don't think so...

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