sábado, agosto 23, 2003

Há blogs assim...

Lido em Eu vou mas volto:

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(...)

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Um giro pelo blog deste senhor, José Carlos Soares de seu nome, e decidi:
Caro amigo, pode crer que fui, mas acredite: não vou voltar.

nota:
A ausência de links activos nesta entrada, bem como da transcrição acima, não é uma falha; nem técnica, nem humana. É, aliás, precisamente por humanidade que se verifica.

Not fair...

... since it's poetry.

A Sombra nunca coloca blogs nos seus links permanentes sem que exista uma razão forte; de facto, a razão principal é serem esses blogs visitados mais ou menos regularmente por nós - o que implica, subjectivamente, que lhes reconhecemos mérito. Normalmente, o número de blogs que são destacados desta forma é estável. Os mais atentos terão reparado na remoção de alguns links, pela inclusão de novos.

Pensava ter encontrado o número aproximadamente certo de blogs com este estatuto, mas existem sempre excepções. Foi o caso do blog do Luís, que escreve no Musana. Já trocámos palavras em privado, já visitei o seu blog, nascido a 18 de Agosto deste ano. Um "bebé" pouco mais novo que A Sombra.

O Luís escreve poesia e continua, regularmente, a publicar entradas. Esperava incluí-lo nos nossos Blog Links mais tarde, quando se confirmasse a sua perseverança, mas reparei que ainda não aparece referenciado em nenhum blog, através de link. Nenhum poeta merece tal sorte, ainda que péssimo, o que nem é o caso!

O Musana passa a constar em permanência da nossa lista de Blog Links.
Ao Luís, um renovado abraço desde A Sombra.

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Ninfeta
Jovem eterna

Musana

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2003


Achei piada.
Só esperava voltar a referir as visitas muito mais tarde, mas este número é significativo. Pena já não ir a tempo de saber quem foi o ilustre 2003º visitante d'A Sombra.

Seja ele/ela quem for, um abraço.
RS

Elementar


Roselyn Sanchez...
Diz-lhes algo? Não?
Well... Time to go back to basics, then.

sexta-feira, agosto 22, 2003

A Cat Affair


Mais dois blogs que merecem visitas.

1. Pegada na Areia
A Valentina despertou-me a curiosidade e fui ver a sua pegada na areia.
As ondas ainda não a tinham apagado. Espero que nunca a apaguem.

um exemplo: "Os gatos do lixo"
(Ainda há gente que ama os bichos. Bem haja tal gente.)

2. Icosaedro
O bom gosto é, para mim, como um magneto.
Para mais tive uma experiência interessante que só não durou mais porque sou gato.

ver e ouvir: "A deambular pelo Google"
(Um gosto. Tentem responder ao desafio do Pedro antes de abrir a janela dos comentários, ou a Insensatez pagar-se-á cara!)

A Pegada na Areia e o Icosaedro (a ordem inversa justifica-se por ser dada primazia às senhoras) passam a estar disponíveis em permanência nos Blog Links d'A Sombra.
Um abraço para a Valentina e outro para o Pedro.

(Já agora, um beijinho à querida Insensatez!)

nota:
Por uma questão de gestão de espaço, o blog A Oeste nada de novo já não se encontra em Blog Links, mas continua disponível n'A Sombra através do link da Periférica, em Links Geral.

Luto pela ONU...

... Luto por todos nós.

(A) Actualização em rodapé

A tristeza do actual papel da ONU é tão grande quanto isto:
Nem um esboço de vontade de enviar de imediato uma equipa de especialistas independentes para investigar o atentado de dia 19 de Agosto de 2003 no hotel Canal. É patético. A morte trágica e inglória de Sérgio Vieira de Mello ainda corre o risco de ficar para a história como a morte da ONU, apesar de esta ter morrido a 19 de Março de 2003. (*)

(*) A "janela de oportunidade" que iniciou o conflito com o Iraque (a tentativa de "decapitação" do regime Baath, a 20 de Março de 2003) abriu-se exactamente cinco meses antes de se ter fechado outra, bem mais importante de permanecer aberta: a da esperança na oportunidade de um mundo melhor, aquele em que Sérgio Vieira de Mello ainda acreditava. Espero que se reabra em breve. Nada mais.


(A) Actualização:

Outra reacção que compreendo, mas não aceito, é a do Governo brasileiro.
Quando um filho nosso, ainda por cima um dos mais excelsos, morre em circunstâncias extraordinárias e trágicas, seria de esperar que fizéssemos tudo para saber o que sucedeu, mas nada. Lula da Silva limita-se, como tantos outros, a imitar com os lábios as falas do seu ventríloquo. Uma triste sombra de outros tempos, este Lula...

(actualização a 22Ago2003, 11:32)

Masturbações

Nem só de virtualidade vive a blogosfera.
Uma amiga disse-me hoje, cara a cara: "Estou a estranhar que ainda não te tenhas referido ao Pacheco Pereira (JPP), desde que morreu o Sérgio Vieira de Mello." Por um momento não soube o que dizer. Desde dia 19, pelo menos, que não faço visitas "abruptas". Porquê? Talvez por, inconscientemente, já saber o que ia encontrar. Desde a defesa do "Ocidental Civilizacionista" por JPP que não tenho dúvidas quanto à sua posição no que respeita ao Iraque.

Concedendo que, apesar disso, estamos sempre a aprender, mesmo com quem aparenta nada ter a ensinar, fui ver como tem escrito o homem, por estes dias. Nada de novo.
Estava em plena masturbação. (1)


(1) a propósito da entrada "A Masturbação da Dor" in Abrupto

quinta-feira, agosto 21, 2003

Excepto Hebraico...


Se existe uma "democracia" que melhor ilustra o que escrevi no início da trilogia "Da Liberalização, da Democracia e dos seus Espelhos" é a israelita.
(ver "A Democracia, esse mito")

Como exemplo recorrente de como temos de "estar com os bons contra os maus" há muito que leio em vários suportes, da imprensa à literatura aos blogs, que Israel é "a única democracia do Médio Oriente" - significando isto, sibilinamente, que "a comunidade das nações livres" (como diria George, perdão, José Manuel) não pode "tomar partido" (idem) pelos palestinianos (leia-se "árabes").

Quem assim fala não é gago, mas isto é tudo o que se pode dizer sobre quem fala assim - e nada mais. Estes "connaisseurs" do Oriente Médio, porém, escolhem ignorar factos que demonstram que se a nossa "democracia" já é uma caricatura a israelita é um cartoon completo. (nota1)

Dois exemplos específicos: (nota2)

I. Ortodoxia

A política sionista israelita (não é um pleonasmo) é um reflexo do pensamento ortodoxo judaico, que acalenta mais que qualquer outro o ideal do "Grande Israel" e faz a apologia da segregação entre judeus e não judeus.
Esta élite judaica condiciona, em grande medida, o modo de fazer política em Israel, de uma forma semelhante ao verificado nos países árabes com as classes islâmicas ortodoxas - não esquecer que "ortodoxo" é um eufemismo para "fundamentalista".

Esta classe ortodoxa judaica encontra-se no topo da "cadeia alimentar" israelita, detendo privilégios medievais, negados ao comum cidadão judeu não ortodoxo, como a isenção completa de serviço militar.
Não deixa de ser ridículo que os israelitas que mais odeiam os árabes e fomentam o racismo se arroguem o direito, consagrado em lei, de ficarem isentos de os combater, nem que seja em legítima defesa.
Um privilégio de casta que pode estar na origem de tantas recusas no cumprimento do "dever militar" por parte dos que fazem parte de castas inferiores. Nada mais pungente para rebater o mito do "povo em armas", tantas vezes atribuído aos israelitas, quando são um povo apenas parcialmente em armas.

Estes privilegiados não têm o menor pejo em permitir o alistamento de mulheres nas Forças de Defesa Israelitas, mas quanto a ombrear com elas na "defesa" (preventiva q.b.) de Israel... Népias.


II. Racismo

Num elucidativo artigo de opinião publicado hoje no jornal Público, António Vilarigues (nota3) chama a nossa atenção para um facto que a comunicação social preferiu ignorar (com algumas excepções, incluindo o Haaretz), bem demonstrativo da "democracia" existente em Israel e de quem a controla (não tanto a extrema-direita laica, como dá a entender o artigo, mas mais a religiosa ortodoxa e xenófoba).

Um excerto:
"Israel: a extrema-direita de freio nos dentes
(...) A história é curta e brutal: o parlamento israelita, o Knesset, aprovou a 2 de Agosto uma lei que nega a cidadania israelita a palestinianos que se tenham casado com israelitas. Racismo é racismo, mesmo quando defendido por judeus. (...)"
(texto integral aqui)

De facto, o sistema político israelita é semelhante, por exemplo, ao português, e nada impede o nosso parlamento de fazer aprovar uma lei que, por hipótese, negue a cidadania portuguesa a brasileiros casados com portugueses.
Basta que tal lei seja "democraticamente" proposta e "democraticamente" votada pela maioria dos deputados. Fica à consideração de cada um se tal coisa é democrática (não "democrática", note-se). Quanto à sua legitimidade, não a deixaria ao cuidado de cada um, já que só quem não tem escrúpulos poderá ter dúvidas.

(a propósito de israelitas e palestinianos em Israel, ver "Camelot 2003 . 1")



nota1:
Digo "escolhem ignorar" pois se, de facto, são conhecedores do Oriente Médio não os desconhecem. Se não são tal coisa, não deveriam escrever como se o fossem.

nota2:
Apenas dois casos, correndo o risco de desapontar os "jaquins", que acham que A Sombra "toca sempre três vezes" como o outro - o das cartas.

nota3:
in Público, 21Ago2003, p. 6 (link no texto acima)

VSOP


Encontra-se disponível, à direita desta coluna, uma selecção de entradas d'A Sombra, que mereceram destaque pela blogosfera lusa e/ou que destacamos pessoalmente. Encontram-se sob o título: algumas Sombras.

RS

Desejo


Espero que Filomena Mónica nunca descubra como fazer um blog.
Ainda lhe chamava "os sentimentos de uma ocidental"...

Lamento

Lido em avatares de um desejo:

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Lamentável
Palavras de Durão Barroso, no discurso de pesar da morte do diplomata Ségio Vieira de Mello (tiro de memória): ... "em relação ao terrorismo, temos que estar de um lado ou do outro" ... "a comunidade das nações livres"...
Este uso dos slogans que Bush celebrizou na propaganda americana, aquando da preparação da guerra do Iraque, parece-me um pouco infeliz. Nas circunstâncias em que Durão Barroso fala é bem mais que isso: é deplorável.

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O lamento do Bruno não foi assimilado pelos Jaquinzinhos.
É uma perspectiva lamentável.

Existem tantas pessoas que vêem o Mundo a preto e branco...
E tantas mais que, não fazendo ideia do que falam, enchem o peito com preconceitos.

nota:
A "única democracia do Médio Oriente" só pode ser uma piada.
(ver link acima, para "Jaquinzinhos")
Vou terminar por me rir mais ao ler os Jaquins que o Valete!
(O humor negro devia imperar na blogosfera, mas temo que seja outro algo...)

O arabista e o kuffiyeh


Arabista, s. 2 gén. Pessoa que conhece ou estuda a língua, literatura ou costumes árabes.

O António Baeta recusou, modestamente, o epíteto de "arabista" que lhe atribuí, mas continuo a pensar que o seu amor à nossa herança árabe o justifica. Afinal, os portugueses, mesmo os que o desconhecem, têm mais sangue árabe nas veias que outro qualquer.

Kuffiyeh, lenço árabe; o padrão palestiniano é branco e negro, ou negro e branco. (também "kaffiyeh" ou "kufiyyeh" ou "keffiyeh")

Há bastante tempo que uso um Kuffiyeh palestiniano. Começou um dia, por solidariedade com o povo da Palestina, e ficou. Desde então que o acto de o colocar se tornou tão natural como calçar os sapatos, embora seja algo bem mais significativo que os sapatos.
No dia 19, na baixa do Porto, mais olhos se voltaram para mim que o habitual. Interrogar-se-iam, porventura, se transportava comigo uma carga de Semtex ou um cinto com barras de C4... Somos iguais aos árabes.
Eles vêem em cada "ocidental" um demónio, nós vemos em cada "árabe" um terrorista. Quando é que isto muda? Mudará algum dia?

Liberal - só

Lido em Jaquinzinhos:

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Tenho lido e ouvido um ódio concentrado na Conferência da Organização Mundial de Comércio porque esta tem como objectivo "eliminar as barreiras alfandegárias à circulação dos produtos agrícolas no contexto da liberalização do comércio mundial. "

Ser contra a OMC neo-liberal e a favor de liberalização anti-neo-liberal é anti-globalizante ou alter-globalizante? (Jaquinzinho Confuso).

--- end quote ---


Mais uma vítima da propaganda...
Caro Jaquinzinho, parece ser mais um "confundido" por tanta desinformação. Um dano colateral.
Ou então, o que me recuso a acreditar, é um agente dessa desinformação, como os "de negro" que se juntam aos que protestam contra a globalização (um fenómeno neoliberal inequívoco, mas a que a omissão do "apelido" causa problemas - existe a globalização do terrorismo, por exemplo, ou a globalização das comunicações) para destruir restaurantes e incendiar automóveis.
É que bombardear a blogosfera com tanto "alter", "anti", "anti-neo", "neo" e "anti-anti" só pode significar uma dessas duas coisas: ou deu mesmo "tilt" ou está a ver se alguém dá "tilt". :)

nota:
Recomendo a leitura atenta desse campeão da luta contra a globalização neoliberal, que foi Adam Smith.

Sérgio Vieira de Mello (1948-2003)


A Sociedade das Nações não produziu tantas vítimas como a sua actual congénere. É um facto. Nunca haveria um quartel-general da Sociedade das Nações em Vichy, nem em 1941, nem em qualquer outro ano. Mas e se tivesse existido? E se um alucinado qualquer, ligado à resistência francesa, ou se um B-17 norte-americano que se enganasse no caminho para Dresden tivesse mandado pelos ares esse quartel-general? Quem teria sido a personalidade ligada à Sociedade das Nações de que hoje conheceríamos a data de nascimento e a da morte, por via desse acto violento?

A ONU devia ter terminado, como resultado da invasão do Iraque.
Os seus serviços deveriam ser transferidos para outra organização, ou outras organizações, mantendo o seu carácter e vocação, como a UNESCO ou a UNICEF, por exemplo. Essas organizações têm um papel importante no mundo de hoje. A ONU propriamente dita, em especial o seu Conselho de Segurança, já não.
Como aconteceu à NATO, que agora tem por papel a defesa do espaço europeu no Afeganistão (qualquer dia estamos a defender a Europa na Mongólia), o prazo de validade e a justificação de existência da ONU expiraram.

Sérgio Vieira de Mello morreu em vão. Outros irão seguir-se. Kofi Annan mostra-se indignado e triste, mas a culpa é tanto dele como do animal que se fez explodir para destruir o Hotel Canal, em Bagdad, a 19 de Agosto de 2003.

Não se enviam civis para trabalhar numa zona de guerra, especialmente quando essa zona de guerra é controlada por fanáticos que consideram todos os caucasianos como norte-americanos demoníacos, mesmo que sejam nórdicos ou transalpinos ou... brasileiros.
A guerra nunca acabou no Iraque. Sempre o disse e, desde que A Sombra existe, o afirmei, também, aqui. Os generais norte-americanos no terreno concordavam comigo uns dias antes deste atentado, contrariando os optimistas que, em Washington e não só, desde que G. W. Bush declarou o "fim das operações de grande envergadura" e o "início da reconstrução", transcreviam isso como "o fim da guerra".
No Público, por exemplo, o "Diário de Guerra" deu lugar ao "Pós-Guerra"... E os soldados norte-americanos, os soldados britânicos, os iraquianos, em armas ou civis, até um soldado dinamarquês, foram morrendo, cada vez mais. Até que morreu um brasileiro. Repito, a guerra no Iraque nunca terminou.

Não é possível reconstruir um país em guerra.
E esta será, até hoje, a maior bofetada já dada por alguém ao orgulho e à soberba imperial norte-americana.
A ONU nada tem a fazer no Iraque, nem em Nova Iorque.
E a Europa que abra os olhos ou que prepare os caixões e os corações para o que vai seguir-se; sem dúvida, como nos asseguravam José Manuel Fernandes ou Pacheco Pereira, "quando a guerra tinha acabado", nada de especial...

nota:
A luta armada como resposta a um invasor não é desculpa para a atrocidade cometida no Hotel Canal, mas condenar este acto como terrorista e ignóbil ao mesmo tempo que se ignora o facto de, nos países árabes, ainda se recordar as Cruzadas como se estas tivessem terminado o ano passado é, também, um crime.

terça-feira, agosto 19, 2003

Boomerang trip


Estou de saída para as terras do Falcoeiro (Al Baiaz).
Mas regresso amanhã.

nota:
Para que a ausência não seja tomada pelo abandono da interactividade diária com outros bloggers a que já me habituei.
Até mais logo.

RS

Porra!

Lido em Jaquinzinhos:

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Não liguem muito ao tom brincalhão, reconheço no RS da Sombra um equilíbrio de opinião que não é muito fácil de encontrar na nossa esquerda.

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NÃO SOU "DE ESQUERDA"; PORRA! (seja lá o que isso for...)

nota:
Talvez assim me leiam e me entendam.

nota2:
Este desabafo não é apenas dirigido aos Jaquinzinhos...
Para eles, um abraço.

RS

O Povo dos Dejectos...

Lido em Local e Blogal:

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Interrogações que compartilho
(...) Esta semana, nos blogs, por duas vezes, encontrei interrogações que me coloco, que também partilho em conversas e que me apetece propor em resposta a desabafos e contrariedades que por aí vou ouvindo.
Possivelmente os seus autores não as terão escrito como eu as entendi, nem eu partilho por inteiro todas as suas afirmações, mas que correspondem a interrogações das que mais me preocupam, é verdade. (...)

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Um desses textos, mencionado por António Baeta, é a terceira parte da trilogia "Da Liberalização, da Democracia e dos seus Espelhos", publicada n'A Sombra a partir de 15Ago2003, "A expansão da loucura".

Sempre correcto, o amigo Baeta, em privado, manifestou algum cuidado pelo uso de uma transcrição deste texto na sua entrada referida acima, mas não penso que ele me tenha compreendido de modo diferente, pois já me leu o suficiente para perceber que quando escrevo "Quantos de nós abdicariam desses benefícios?" (dos países desenvolvidos em favor do desenvolvimento do Terceiro Mundo) não faço mais que chamar a atenção para esse facto.
É um texto em que amargura e ironia se misturam com a dura realidade; uma realidade que me afecta a mim, por não ser imune; por não poder dizer, em consciência, "não vou por aí", apenas que "tento não ir"... O que faço não basta e revolta-me contra mim mesmo. E cada simples gesto que faço, na rotina do quotidiano, é um insulto a milhões de pessoas. Eu sei.

Estamos acomodados aos nossos modos e estilos de vida. Com mais ou menos luxo, qualquer um de nós, ditos "ocidentais civilizados", vive a anos-luz dos desgraçados que se arrastam no meio dos dejectos que abafam o Terceiro Mundo. Tão acomodados que muitos não se abstêm de escolher destinos turísticos onde fotografarão essa miséria como se fosse "típica" e muito "folclórica"... E colocamos homens em armas nas nossas muralhas e nos nossos céus e mares (que são já todos), para que o Povo dos Dejectos não tenha ilusões. O Primeiro Mundo é nosso e nunca será o deles.

Odeio os que, deliberadamente, contribuem para esta manutenção do Mundo, mas sei que eu próprio contribuo para ela, ao comprar coisas de que não preciso, comer e beber coisas de que não preciso e gastar mais recursos do que preciso, por poucos que sejam.
Sei, muito bem, que dizer não a determinadas marcas ou afirmar-se a favor do boicote de produtos de certos países ou fabricantes é daquelas formas rasteirinhas de se ser um "grande" revolucionário. Sei que não é por aí, já o sabia antes de os "grandes revolucionários" deste mundo terem ficado escandalizados pelo amor dos zapatistas à... Coca-cola.
Mas por mais que tente, por mais que recicle, por mais que ajude do pouco que posso, parece-me que há sempre algo "sujo" que não fica no tapete, ao entrar em casa, e que me acompanha para onde vá.

É a perda de um orgulho em ser europeu e português que se justificaria por outros motivos, talvez... É a vergonha de me sentir inferior aos que são subjugados por "ocidentais" como eu. E a raiva de, por sua via, não poder estar de bem comigo próprio e sentir-me quase obrigado a pedir desculpa por actos que não cometi - mas que, a meu modo, permiti, permito e não vejo como posso deixar de permitir... Resta esperar? Talvez...

Um abraço ao António Baeta.

nota:
Aguarda-se para breve a continuação no Local e Blogal dos pensamentos do meu Arabista predilecto na Blogosfera.

À frente


Um dos meus passatempos blogosféricos é o "back tracking", isto é, seguir os leitores d'A Sombra até às suas origens. É uma forma de perceber o impacto d'A Sombra junto dos que nela passam, a cada vez que nos elogiam ou (quase) insultam, que insultos ainda não chegaram, mas lá chegará o dia, ou, simplesmente, através da sua prosa, dos seus versos ou dos sons que ouvem e propõem, conhecer os seus perfis. Tenho passado bons momentos, alguns sublimes, em outras "sombras" que esta.

A minha última experiência deste tipo foi surpreendente.
Ao seguir uma pista do Sitemeter, uns segundos de espera (que a banda larga ainda não chegou - mas está quase!) e o monitor enche-se com esta frase, que me surge à frente em Bold garrafal a corpos duzentos e cento e poucos pixels:
"ABSURDO TESTAMENTO DE UMA AMIGA FODIDA" (*)
O impacto foi superior a qualquer cena do Hulk, garanto-vos!
(hmmm... apesar de não parecer, isto é um elogio!)

Pois li a referente entrada e continuei a ler por ali abaixo até que decidi que não conseguia ler tudo hoje e achei por bem colocar o blog responsável por esses bons momentos na lista permanente de Blog Links d'A Sombra.
Porque lá hei-de voltar mais vezes.

Falo de O Absurdo Testamento.
E desde A Sombra envio um abraço ao Tiago. :)

nota:
O título deste blog e o da entrada são em caixa alta e baixa, mas reproduzi-os assim para aproximar do efeito real! A junção dos dois (pois na altura era a primeira entrada, abaixo do nome do blog) foi explosiva.

Salut


Quem é vivo sempre aparece! Viva, Fab.

nota:
O Algarve, no Inverno, até é giro.

nota2:
And yes, real time sucks big time. :)

"Não doeu nadinha..."

Lido em Jaquinzinhos:

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Água, Energia, Saúde e...

A Sombra explica-nos que o interesse privado é um péssimo gestor dos bens públicos. E dá-nos 3 exemplos. A electricidade, a água e a saúde. Peço-lhes um exercício adicional. O mais importante de todos os bens. Que desgraça nos acontecerá se a alimentação humana passar a ser gerida por privados, cujo único objectivo é o lucro?

- Pssst... (segredos ao ouvido...)
- O quê? Já é? Como é possível? E não morremos todos à fome?


# jaquinzinho de jcd : 18.8.03

Jaquinzinhos comidos: 2

(Os comentários:)

blablabla () @ 08/18/2003 23:02:
Ui ui ! Esta doeu !

RS (http://www.asombra.blogspot.com/) @ 08/19/2003 00:52:
Enquanto houver um MacDonald's nunca morreremos à fome.
(Nah... Não doeu nadinha!)


--- end quote ---

Palavras para quê? (*)
É um jaquinzinho português!

(*) De onde a inexistência de um quarto exemplo.
Mas talvez não fosse pior (re)ler-se a entrada Compra-se, aqui mesmo.
À Sombra... que ao sol é uma desgraça.

nota:
Estranho um jaquinzinho achar que os alimentos são mais essenciais que a água... Suponho que existem jaquinzinhos... e jaquinzinhos.

segunda-feira, agosto 18, 2003

A Bosta da III República


Penso que o limite foi atingido.
Se a Índia foi a Jóia da Coroa britânica, a Madeira é a Bosta da III República portuguesa. Alberto João e os seus acólitos já se tornaram mais do que simples bobos da Corte. Os seus dislates começam a ser demasiados e demasiado graves. Não vejo porque temos nós - o Estado - de continuar a suportar este bando de cretinóides (sim, que estes não chegam a ser cretinos).

Contrariamente aos Açores, que desempenharam e desempenham ainda um papel de relevo na nossa história, a Madeira, para além do casebre onde por uns tempos viveu um ilustre navegador italiano que serviu a Coroa espanhola, apenas nos causa aborrecimentos, embaraços e, principalmente, despesas - com a excepção das Desertas, cuja importância ambiental deverá ser, em qualquer caso, mantida e defendida por Portugal, nem que seja com fragatas Meko e helicópteros Navy Lynx com torpedos "vivos".

Confesso que houve um tempo em que Alberto João e os seus comparsas me divertiam, mas as piadas começam a acusar muito desgaste e o nível baixou de tal forma que já não roça o insultuoso. É insultuoso e premeditado. Nos raros momentos em que o espécime está calado e quieto, diga-se em abono da verdade, nem me lembro de que a Madeira existe, mas esses momentos já quase não existem.

Sem um pingo de ironia, creio que se deveria realizar um referendo nacional - dirigido a todos os portugueses, até mesmo os madeirenses, porque não? - sobre a possibilidade concreta de conceder imediatamente a independência às ilhas da Madeira e de Porto Santo, mas mantendo as Desertas, que as focas monge não votam no PSD Madeira e, portanto, não almejam "independências", já a têm, e ao Estado português compete a sua conservação e guarda - uma responsabilidade que não pode ser deixada a mentecaptos, para mais independentes, como bem espero venham a ser em breve.

Fora isto, será o pleno:
Nem mais ministros da República "cubanos", nem mais subsídios "cubanos", nem mais verbas do OGE "cubano", nem mais descontos brutais nos voos "cubanos" da TAP de e para o continente, nem mais bolsas a duplicar para estudar em universidades "cubanas", nem mais espaço "cubano-Schengen", nem mais zona "euro-cubana", nem mais nada!
Apenas Alberto João, bananada e meia dúzia de "quilhómetros" de areia em pó - até podem instaurar o seu próprio sistema de medidas, baseado nele - no "quilhómetro", claro. E uma língua própria, que pouco falta. E uma moeda própria, cunhada na cara e na coroa com a efígie de Alberto João, "non garbato" quanto baste, mas pronto, e chamar-lhe "Albertos" - às moedas.

E que se amanhem mais a sua independência, nos seus calhaus no meio do Atlântico, pois bem o merecem, de tanto votarem sempre no mesmo cromo. Que o comam! (1) Que o comam e que disso façam bom proveito, pois dispensamos as sobras desse grande "patriota" - "patriota" da "pátria" madeirense, é evidente.
Sem o mínimo traço de um sorriso nos lábios, e o mais seriamente que é possível, vos digo:
A Madeira devia ser independente.
Não amanhã, mas ontem, de preferência.

Rui Semblano
Porto, Agosto de 2003


(1) Quando da visita ao Porto em 1958, em plena campanha eleitoral para a presidência da República, o general Humberto Delgado foi confrontado por um cidadão que lhe gritou: "Salazar! Salazar! Salazar!", ao que o general sem medo revidou de imediato: "Come-o! Come-o! Come-o!"

nota:
Carta enviada ao jornal Público, a 18Ago2003

Herman? Who's Herman?...


Recordam-se do tempo do Tal Canal?
E do Casino Royal?
E da Herman Enciclopédia?
Nesse tempo, em quase todas as conversas de café se recordavam as piadas dos programas anteriores e ficava-se em casa de propósito para uns momentos de riso, por vezes até às lágrimas.

Ontem, num desses cafés:
A (trinta e tal anos): Já não tenho estômago para ver o Herman José...
B (vinte e poucos): O Herman quem?...

Não está tudo perdido.
Talvez haja esperança, ainda, para este país.

(in)Visibilidade


"(...) Por vezes, a abundância de mim é-me demasiado pesada. Preciso que me escutes no que sou. Porque sair do silêncio é despistar temporariamente a solidão. E então, anjo, este falar surdo. Esta forma de me achar desencontrado no sítio que me ocupa a existência. Este chamamento perdido em mim que me procura. (...)"

Luís Bizarro Borges in "Pelo Lado do Invisível"
(Instantes de Leitura - Campo das Letras, Maio 2003 - Porto)

nota:
Fica o momento e a sugestão.
Em boa hora.

Ecos...


Não querendo fazer desfeita alguma a Fabien (FJ), aprecio a existência de alguns blogs que se dedicam, sem comentários, a publicar "clippings" tirados um pouco por toda a blogosfera lusa. Já fizemos uma referência anterior ao Posto de Escuta, mas hoje deparamos com outro blog semelhante, o Ecos.

Apesar de subjectivo, considero este tipo específico de trabalho interessante e útil a todos quantos navegam na nossa blogosfera, pelo que os blogs mencionados acima estarão disponíveis sob uma nova categoria, em permanência, n'A Sombra: Blog Clipping.
Continuação de bom trabalho a ambos.

Pel'A Sombra,
RS

Incidentes

Onde andam os revisores do Público?

Na edição de ontem (17Ago2003) pode ler-se, no texto da notícia "Sabotagem no oleoduto que liga o Iraque à Turquia" (p. 16), a propósito de um veículo militar norte-americano em manobras que matou, acidentalmente, duas crianças:

"Um porta-voz americano citado pela AFP explicou ter-se tratado de um incidente."
(destaque em Bold d'A Sombra)

O rol de gralhas deste tipo no Público (e das ortográficas, também) começa a tornar-se exasperante. Como todos sabemos, os correctores automáticos não dispensam revisões "humanas", pois não detectam erros deste tipo. Para um corrector automático, um "incidente" é bem um "incidente" e pronto.
Já ninguém lê os artigos do jornal antes da impressão ou é "impressão" minha?
É que os erros já são tantos que é impossível tratar-se de um mero "acidente".

nota:
A edição on line do Público, essa, está cada vez pior. Ora falta o Local Porto, ora o Centro, ora o Minho, ou não existem notícias de manhã cedo, ou os números dos últimos sete dias estão indisponíveis, ou faltam artigos... E erros, então, sobretudo ortográficos, são já um hábito.
Eu sei que é Agosto, mas um jornal como o Público não pode usar desculpas dessas para reduzir tanto a qualidade.
Veremos depois das férias como vai ser...

Compra-se

Ver a entrada anterior:
Vende-se


No que toca aos bens de consumo e aos serviços que não são essenciais - desde o turismo a parte das telecomunicações - todos temos a ganhar com o sector privado, desde que exista o factor que permite a sua auto-regulação:
a concorrência.
Se o monopólio ou o controlo efectivo são desejáveis, dentro de certos parâmetros, nos sectores dedicados aos bens e serviços comunitários, que devem ser da responsabilidade de todos nós, ou seja, do Estado, o mesmo é nocivo na exploração de qualquer sector privado - mesmo não essencial ou não comunitário. O tio Adam explica.

Mais: mesmo em sectores tradicionalmente controlados pelo Estado, como as telecomunicações ou os combustíveis, são nítidos os ganhos com uma saudável concorrência do sector privado. Isto tornou-se evidente, entre nós, quer num como noutro dos exemplos mencionados. Alguém se recorda do custo do gás antes de a Petrogal perder o monopólio do serviço? E da qualidade do seu serviço?
Quando a concorrência é funesta, porém, pode suceder a deterioração dos serviços existentes - os audiovisuais, concretamente a Televisão, são um triste exemplo de como o privado pode adulterar o público, se este se esquecer do seu fundamento e passar a agir numa lógica estritamente comercial e de mercado.

Regra geral, porém, quando o privado compete com o público, este é "forçado" a melhorar, para fazer frente à investida da concorrência, pois mesmo tratando-se de serviços essenciais, ninguém disse que o Estado deve ser uma máquina de perder dinheiro! A diferença fundamental está na aplicação do lucro.
O Estado tem de o aplicar nos sectores que são por natureza deficitários, mesmo sendo essenciais, como os combates aos incêndios florestais, em que o prejuízo das perdas é acrescido pelos gastos com os meios para as minimizar. Já o privado não pode ter sectores deficitários. Se os tem, é sinónimo de má gestão.
Pode até ser necessário mudar de actividade, algo perfeitamente legítimo e saudável no sector privado, mas impossível no público. Imagine-se o Estado a decidir que a Educação não é rentável e a encerrar todas as escolas para as converter em hotéis!

Mais uma vez, é no equilíbrio que se encontra a resposta.
Um equilíbrio frágil, como são todos, e difícil, se não mesmo impossível de atingir; mas é na busca desse equilíbrio que está a chave, não no equilíbrio em si mesmo. O equilíbrio do Estado com o Sector Privado, por um lado, e o dos Privados entre si, por outro. Mesmo em sectores sensíveis, como a Saúde, monopolizar ou controlar demasiado já não são soluções - vejam-se os resultados conseguidos pela presença de atendimento privado em hospitais públicos, como exemplo.

Como em tudo na vida, a temperança permanece o objectivo razoável a atingir, sendo os excessos mais controlados pela paixão, a evitar quer no público, ao pretender atender a um leque o mais alargado possível de situações, quer no privado, ao evitar situações de risco desnecessário. Isto consegue-se pela liberalização controlada por todos nós, que é o que sempre foi a liberalização, por definição. Nem estatizar em excesso, nem privatizar em excesso, sobretudo no que respeita aos bens e serviços essenciais e/ou comunitários. E isto escrito por alguém muito dado a paixões e arrebatamentos, que sou eu! É o meu lado privado. Já no comum, pois não vivo sozinho à face da Terra e sei que outros não partilham das minhas paixões, prefiro a busca da temperança.


nota:
Ao preferir a nacionalização dos sectores essenciais, não estou a atacar a gestão mais agressiva praticada pelo sector privado. O Estado deveria ser como uma grande empresa e os seus cidadãos como os seus accionistas. Isto já seria mais aproximado a uma verdadeira democracia, isto é, o controlo efectivo dos actos da Administração pela assembleia de accionistas. Mas esta visão liberal do Estado não tem nada de Neo...
Pois não.

Ver a entrada anterior:
Vende-se

Vende-se


Entre "as lições do 'apagão'" encontra-se a que demonstra, sem margem para qualquer dúvida, que o interesse privado é um péssimo gestor dos bens públicos. Bem podem esbracejar e vociferar os defensores da liberalização como salvadora da humanidade, que nada contrariará este facto.
O objectivo de qualquer investimento privado é o lucro. Nada mais. Mesmo as instituições privadas mais altruístas terminam por ser fortemente condicionadas por este factor, como as fundações que, supostamente, se destinam à preservação de qualquer tipo de património comunitário. Exceptuando estes casos, raríssimos na globalidade do panorama empresarial privado, o que importa é determinar se a actividade a desenvolver é rentável ou não, ideologias e sentimentalismos excluídos.
Neste campo, é-se inteiramente maniqueísta, literalmente e intrinsecamente.

Três exemplos, ao acaso:

I - A Saúde
O sector privado toma conta de um serviço de Saúde numa grande metrópole, até então gerido pelo Estado. Primeiro passo: determinar que sectores desse serviço são os mais rentáveis. Segundo passo: quantificar os ganhos com a melhoria e ampliação desses sectores em função da procura verificada. Terceiro passo: determinar como tal melhoria e/ou ampliação pode ser feita sem elevar os custos do investimento, isto é, pela requalificação, adaptação e remodelação de recursos humanos e materiais já existentes. Quarto passo: eliminação imediata de todos os meios materiais e humanos considerados redundantes, na lógica dos três passos anteriores. Quinto passo: aquisição de novos recursos humanos e meios materiais que se mostrem indispensáveis após a reciclagem dos existentes, de acordo com o definido pelos três primeiros passos. Sexto passo: ganhar a maior quantidade de dinheiro possível no espaço de tempo mais curto possível.
Resultado:
Uma unidade de saúde moderna, optimizada para gerar riqueza privada, cujas contrapartidas em serviços são condicionadas pelas leis de mercado, com fulcral incidência na procura, e aquelas a auferir pelo Estado, em impostos devidos, são objecto de trabalho para empresas de contabilidade de primeira linha, dado que a maximização dos lucros passa, inevitavelmente, pelo mínimo de perdas possível, entre as quais se contam os impostos.
Em concreto:
Utente:
Seria possível ser examinado por um dermatologista?
Privado: Lamento. Esta unidade já não dispõe desse serviço. Aliás, já nem me recordo quando foi a última vez que tivemos um caso desses. Mas quando partir uma perna pode dirigir-se aqui. Temos os melhores especialistas e equipamento da Europa ao seu dispor. Isto é, desde que tenha um bom seguro de saúde ou disponha de dinheiro para os pagar.

II - A Água
Se existe um bem comunitário acima de todos os outros, à excepção do ar que respiramos, esse bem é a água.
A gestão exclusivamente privada deste recurso natural é obscena. Não estou a ver ninguém com mais de um neurónio a assinar um contrato de prestação deste tipo de serviço com um operador privado de uma rede de fornecimento de água em que se poderá perfeitamente ler, nas letras minúsculas em rodapé:
"Esta empresa reserva o direito de, a qualquer altura e sem aviso prévio, limitar o fornecimento a que este contrato respeita e/ou passar a fornecer um líquido de características aproximadas ao expresso no artigo 43º, alínea g.III, deste contrato."
Ou ainda:
"A reposição do fornecimento estabelecido neste contrato, em caso de corte por atraso do pagamento mensal devido, será feita no mais curto período possível, dependendo da disponibilidade dos nossos serviços, não podendo, no entanto, exceder os 90 dias, caso em que haverá lugar a indemnização. Em todo o caso, a reactivação deste serviço pelo motivo supra citado nunca será realizada antes de efectuado o pagamento das mensalidades em atraso e da taxa de reactivação, no valor mínimo de 1.000,00 €."

A privacidade de cada um é, obviamente, privada. Mas quando um serviço público essencial passa para o sector privado em exclusivo, a máxima: "Só assina quem quer" deixa de ter qualquer sentido...

III - A Electricidade
Como se verificou nos EUA, qualquer entidade privada que compre ao Estado uma rede de fornecimento de electricidade terá, desde logo, o cuidado compreensível de examinar a rentabilidade das unidades de produção e distribuição que a compõem.
Resultado:
Uma companhia de electricidade em que não existirão recursos considerados de baixo rendimento e/ou, sobretudo, de rendimento negativo.
Em concreto:
Estado: ... Existe ainda um sistema de segurança e prevenção, composto por seis centrais que asseguram o fornecimento de energia em caso de falhas no sistema de primeira linha, além de uma rede de distribuição paralela a activar em caso de emergência.
Privado: Mas o sistema de primeira linha falha assim tanto?
Estado: A última falha em que tivemos de accionar os sistemas de apoio ocorreu há vinte anos. Desde então, o sistema alternativo tem estado inactivo, embora seja mantido a 100% da sua operacionalidade.
Consultor do Privado: Se desmantelarmos o sistema de segurança e prevenção e o vendermos a um país africano e a isso somarmos os lucros com a ausência de manutenção e pessoal dessas unidades, poderemos instalar um back-up razoável no próprio sistema de primeira linha por uma fracção ínfima dos ganhos assim obtidos.
Estado: Mas isso pode ser insuficiente!
Privado: Não se preocupe. Daqui por vinte anos esse problema estará ultrapassado e já existirão recursos que tornarão obsoletos os existentes. Entretanto, quem se lembrará desse pormenor? Ou já não está interessado em vender?
Estado: Não, não! Isto é, sim! Quer dizer, os Senhores é que sabem!

nota:
O "apagão" recente, na América do Norte, não veio trazer nenhuma novidade. A situação na África do Sul, com o infame programa GEAR (Growth Employment and Redistribution), está virada de cabeça para baixo desde 1996 - um "apagão" de respeito, se comparado com o mais mediático do final da última semana...

Ver a entrada seguinte:
Compra-se

domingo, agosto 17, 2003

Agradecemos...

... e recusamos.

Muitos rótulos nos tentam colocar...
Desta feita é o Liberdade de Expressão que nos apelida de "estatistas".

Caríssimos, nada melhor que a propriedade e iniciativa privadas para estimular a ambição (motor de desenvolvimento) e pôr o Estado em sentido (garante do património comunitário). Condescendemos, porém, num aspecto: a ausência de rótulo torna-nos mais perigosos do que os rotulados, à custa da imponderabilidade. Ser imprevisível é enervante, para quem não gosta de surpresas; é um facto.
Talvez as duas próximas entradas esclareçam melhor a nossa orientação, mas é conveniente atentar bem nas duas.

São elas:
1. Vende-se
2. Compra-se

Um abraço inequívoco d'A Sombra ao esforçado João Miranda.

Públicas virtudes...

... Vícios privados.

A discussão sobre o papel do Estado na gestão e controlo de áreas sensíveis de interesse público (como a nossa floresta) já tinha começado antes do "apagão" na América do Norte (EUA e Canadá, recorde-se).
Escrevia deste modo na entrada "Fogo de Vista":

"(...) Que ninguém se iluda com isto; acreditar que uma empresa privada cujo ramo de actividade seja o combate ao fogo ficará maravilhada com longos períodos de inactividade é irracional. Esta responsabilidade terá de ser de uma entidade que lucre muito mais com a inexistência de fogo do que com a sua ocorrência. Apenas o Estado cumpre este requisito. (...)"

Sobre esta polémica ver ainda, por exemplo:

Espírito industrial
Contextos
Espírito de serviço
e a trilogia:
1. Intro - A Democracia, esse mito.
2. Mezzo - Tragédia Comum.
3. Finale - A expansão da loucura.

Este memorando a propósito do excelente editorial de Manuel Carvalho, no Público de ontem, intitulado "As lições do 'apagão'", embora pecando por tanto condicional face a evidências incontornáveis:

Lido no Público - indisponível on line:
(editorial de Manuel Carvalho, p. 5, 16Ago2003)

--- quote ---

As paredes de néon de Times Square, a praça futurista de Nova Iorque, apagaram-se, o metro parou, a Bolsa, hospitais e serviços públicos tiveram de recorrer a geradores e pelo menos 50 milhões de cidadãos norte-americanos e canadianos passaram quinta e sexta-feira pela amarga experiência de viver um dia sem electricidade.
O maior "apagão" da história dos Estados Unidos esteve longe de revelar as consequências trágicas da falha de energia de 13 e 14 de Agosto de 1977, dias em que Nova Iorque viveu o pesadelo das pilhagens e da violência generalizada, mas mostrou que a maior e mais dinâmica economia mundial continua a ter "pés de barro" num sector essencial como o da energia. E saber se a origem do "apagão" se deveu a falhas no lado canadiano ou norte-americano é, neste momento, irrelevante: o que surpreende é o facto de uma avaria, por grave que seja, ser capaz de deixar às escuras cidades como Detroit, Toronto ou Nova Iorque.
E surpreende ainda mais quando se sabe que esta fragilidade tem a sua origem numa visão e numa prática económica que fazem dos Estados Unidos o mais competitivo país do mundo: o domínio quase integral do mundo dos negócios por empresas privadas. Ao contrário do que a ortodoxia tem provado, a desregulação e a privatização do sector da electricidade que fizeram emergir gigantes mundiais como a Enron não geraram eficiência, nem qualidade, nem fizeram esquecer o papel tutelar do Estado. Pelo contrário: "Somos uma superpotência com uma rede eléctrica do Terceiro Mundo", lamentava o governador do estado do Novo México e antigo secretário de Estado da Energia, Bill Richardson, em declarações à CNN. O encerramento de centrais de produção deficitárias eliminou as margens de segurança de fornecimento e os investimentos em novas centrais estiveram longe de responder às necessidades.
Vale a pena confrontar o caso norte-americano com a prática dos europeus em domínios sensíveis como a energia, geridos maioritariamente por empresas públicas. Sem carências de financiamento nem preocupações com a rentabilidade dos capitais, os monopólios estatais construíram uma infra-estrutura que garante hoje um padrão de segurança relativamente confortável. Comparativamente, o sector energético norte-americano ficou parado no tempo. Ao ponto de se poder afirmar que um "apagão" desta dimensão era "impossível" na União Europeia.
A escuridão de Nova Iorque é, por isso, um bom ponto de partida para se discutir a natureza das privatizações de áreas sensíveis para o interesse nacional como a energia. Vender empresas sem que haja a preocupação prévia em garantir a qualidade do fornecimento de bens públicos (como a electricidade) pode ser um péssimo negócio para o Estado. Até porque, na eventualidade de se constatar, como ora aconteceu, que as empresas não investiram o suficiente, terá de ser o Estado a assumir as responsabilidades. Perante omissão dos privados, nos EUA fala-se já na necessidade de o Congresso aprovar um programa energético para evitar que novos apagões se repitam.

--- end quote ---


nota: Destaques em Bold da responsabilidade d'A Sombra.

Full First Circle


Sim, eu sei que tu sabes que eu sei que tu sabes que eu sei que tu sabes.

nota:
A propósito, libertariamente, recomendo Pat Metheny.

Pat Metheny Group
"The First Circle"
1984 - ECM Records
832 342-2

Lapsus linguæ

Lido em Abrupto:

--- quote ---

(...) Uma nota de circunstância: uma das minhas liberdades neste blogue é não ter que me pronunciar sobre tudo, (...)

(...) Essa liberdade é tão natural como a idêntica liberdade de me pronunciar sobre o que me apeteça, o que inclui claramente muitas matérias também aqui discutidas. A mais inútil das notas é a que insta o outro a pronunciar-se e tira imediatas conclusões morais, sobre as razões porque não faz. Ora o que abundam são falsos problemas, problemas colocados de modo viciado, problemas que não me interessam, problemas sobre os quais eu não sei o suficiente nem para ter a veleidade de me pronunciar, problemas sobre os quais acho que já disse o que queria, problemas sobre os quais, como toda a gente, existem factores de censura e inibição pessoais. Por isso, é mais natural o silêncio do que a fala.

--- end quote ---


Traduzindo da linguagem "abrupta" para a corrente:

"O silêncio é de ouro".

ou, talvez:
"Much ado about nothing..." (*)

(*) Tanta coisa para nada... (veja-se o William - sim, esse)

Kino


Let's all go to the movies!

O Cinema para Indígenas está actualizado. :)

Music from the future...

... and music from the past.

Fruto de visitas que se foram multiplicando e do meu amor pela música, que espero partilhar com muitos dos que passam nest'A Sombra, dois blogs vieram a merecer leituras (e audições) frequentes da minha parte.

Por ordem alfabética:

O Crítico
Blog da responsabilidade de um amante do Barroco (mas nem - por sombras - só) que nos transmite conhecimentos e curiosidades capazes de transformar e reinventar a música que já ouvíamos e a que passamos a ouvir por seu intermédio. Um gosto apurado e uma selecção rigorosa fazem do Crítico um ponto de paragem essencial na blogosfera, sobretudo para os que amam a música erudita (e não só).
A audição de excertos comentados, como o "Inflammatus Et Accensus", incluído no magnífico "Stabat Mater", de Domenico Scarlatti (1685-1757), faz de cada visita um prazer único.

The Serendipitous Cacophonies
"O esforço e a frustração a cada nova tentativa são, para um artista, recompensa suficiente, ao mesmo tempo que são a origem do seu mal."
(excerto de um e-mail que enviei ao The Serendipitous Cacophonies, felicitando-o pelo trabalho desenvolvido)
Este blog tem ligação para o Site homónimo, onde se poderão ouvir vários estudos do autor, como o divertido "Drowsy Bird", sempre acompanhados por uma iconografia selecta e inteligente.

Ambos, a seu modo, merecem leituras e audições atentas.
Por isto, passam a constar, em permanência, da nossa lista de Blog Links.

Desde A Sombra, um abraço a ambos.
RS

nota:
O Crítico está quase (se não já) de saída para destinos de sonho.
Aproveitarei para pôr a audição em dia!
Aguardando o seu regresso, desejos de boas férias.