Duas situações me chamaram a atenção, pela negativa, no
4º Prémio Amadeo de Souza-Cardoso (ASC). (ver
Amadeo I, abaixo)
Uma delas foi a forma como as obras foram examinadas pelo júri de selecção. Uma ceramista que conheço, Sofia Beça, enviou uma peça grande, modular, que foi eliminada. Ao recolher o trabalho, verificou que não a montaram, sequer; a maior parte dos módulos estava nos seus invólucros originais. Que critério de selecção é este? É por foto? Então para que desembrulharam alguns módulos? E se basta olhar para a fotografia, porque obrigam (está no regulamento) os concorrentes a terem o trabalho e a despesa de carregarem as peças para Amarante?
A outra é muito pior.
Um amigo que foi seleccionado com um tríptico apercebeu-se que a organização se preparava para imprimir o catálogo da exposição do prémio não com o seu heterónimo, com que assina todas as telas, mas com o seu nome
verdadeiro, com o qual
nunca assinou uma tela na vida - nem vai assinar!
O caso foi detectado por acaso, pois o
MMASC (
1) estranhou que o seu e-mail com o currículo e a descrição do trabalho, já enviado por duas vezes, não aparecesse... Estavam à procura do nome verdadeiro no remetente, não o do artista, e foi por isso que a anomalia se detectou.
Motivos?
Apesar de, no acto de inscrição, ser indicado o nome artístico, a grelha de participantes que serve para o catálogo e para a exposição é feita com os nomes verdadeiros destes!
Evidentemente, o caso do meu amigo não é único. Todos os pseudónimos artísticos dos pintores seleccionados, nomes que assinam as obras, seriam trocados por nomes que não têm relação nenhuma com os trabalhos!
Assim, uma concorrente de nome Ana Lopes, que sempre assina o seu trabalho como
Andrew Clark, por exemplo, teria como recompensa pela sua selecção nunca ligarem o nome
Andrew Clark ao seu trabalho, ao mesmo tempo que o nome
Ana Lopes permaneceria, inexplicavelmente, ligado a uma única peça, premiada com o Amadeo, que consta do catálogo daquele importante evento bienal.
Dir-se-á, a propósito, no meio artístico:
"aquela Ana Lopes era interessante, mas nunca mais pintou nada"... Lindo. Um belo início de carreira...
nota:
Por pedido do amigo pintor a que me refiro, não revelo aqui a sua identidade, apenas menciono a sua máxima:
ars est celare artem (arte é esconder a arte)... Chama-se a isto ironia do destino.
nota2:
Apesar de alertada para a situação, a organização do Prémio ASC não conseguiu garantir que as correcções sejam efectuadas a tempo! Isto é, pode ser já tarde para impedir a impressão dos catálogos cheios de ilustres desconhecidos. Este 4º Prémio Amadeo ainda vai ficar para a história como o "Salão dos Fantasmas".
4º Prémio Amadeo de Souza-Cardoso
13 de Setembro a 2 de Novembro de 2003
(
1) Museu Municipal Amadeo de Souza-Cardoso (MMASC) - Amarante
Ver
Amadeo I, n'A Sombra.
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