sexta-feira, julho 25, 2003

Os Estrangeiros


Lido em Little Black Spot:

--- início de transcrição ---

Quinta, Julho 24, 2003 (22:22)
mesmo eu sendo capaz de embrulhar o estômago e aceitar uma tradução que encurte em 20 páginas a obra original, ou uma que traduza o «mi niña se fue al mar» de Lorca por « o meu amor foi ao mar» (não sou picuinhas, confesso, nem muito metódica nas leituras), o que não posso de qualquer forma aceitar é que 2 em cada 3 livros que compro me cheguem às mãos com uma enxurrada de erros ortográficos e de pontuação!!! é vergonhoso. pensei que não fosse possível, pelo menos em editoras de maior gabarito. mas está provado - a Assírio & Alvim e a Livros do Brasil publicam livros com erros que envergonham e enervam e revoltam. esperei 2 anos até finalmente conseguir ler O Estrangeiro de Camus (adquiri a edição da Livros do Brasil); e tudo isto para quê?
(...)
como se não bastasse já o facto de eu hoje estar de mau humor ainda tinha que me deparar com uma porcaria de livro como este? deplorável. o pior, é que este exemplar (infelizmente) não está sozinho. que é que se pasa com os nossos tradutores? acaso julgarão que os portugueses todos são um bando de ignorantes iliteratos que nunca se aperceberão da falta de brio no seu trabalho? pois, fdx! vou procurar O Estrangeiro em francês, isso é que vou! [em quantos mais livros terei eu já sido defraudada?]

--- fim de transcrição ---


Ao ler isto, no blog de Insensatez, desatei a escrever nos comentários e só parei já ia para aí na sexta janela! Só então me ocorreu: "Mas que diabo me está a dar? Não tenho eu um blog para escrever?"
E aqui estou.
Onde anda a indignação dos leitores portugueses perante as atrocidades cometidas pelas editoras? Ainda hoje, na Antena 2, Pedro Tamen, responsável pelo que é considerado um excelente trabalho na tradução de À La Recherche du Temps Perdu, de Proust, dizia, a propósito do seu trabalho, que estava a trabalhar na tradução do 4º volume ao mesmo tempo que ia na segunda (ou terceira?) revisão do 3º. Quantas editoras apostam numa tradução de excelência?
Estou convencido que, a maioria, emprega software de tradução sobre os originais, entregando as provas para revisão a um curioso que lhes dá uma vista de olhos.
A juntar a isto, temos os compositores de texto, a maior parte dos quais nem ler sabe, quanto mais escrever, limitando-se a bater o que lhes aparece à frente.
Mas há mais! A maior parte dos livros que lemos, em português, são compostos e impressos no estrangeiro, principalmente em Espanha, eliminando grande parte dos filtros de "saída" das publicações, no que respeita a ortografia e paginação.

E, claro, temos os Livros do Brasil e afins, totalmente ilegíveis, de tão mal escritos. Compro dois ou três, que digo?, cinco a sete livros todos os meses e nem um tem a mais remota referência a "Brasil", seja na impressão, na composição, na edição ou, principalmente, na tradução. O brasileiro é uma língua estrangeira. A prova disso é que os brasileiros não entendem um português a falar correctamente; tenho família no Brasil e sei do que falo.
Cresci a ler livros infantis e bd brasileira (traduções fantásticas da Disney e outros) e adorava o idioma, mas isso foi há trinta e tal anos. Hoje, o brasileiro é uma mistura de calão grosseiro, brasingleiro e erros gramaticais, completamente ininteligível.

Há uns tempos, Pedro Couto (PC) sugeriu-me a inclusão de dois sites brasileiros na lista Links Geral. Não o fiz. Ao verificar os mesmos não percebi nem metade do que estava escrito. A minha mãe nasceu no Rio de Janeiro, mas de mais é de mais!

E o que me revolta mais é que poucos são os que vejo queixarem-se, como fez Insensatez, no Little Black Spot. Eu não consigo ler de imediato tudo o que compro, hei-de ler, quando puder, é um vício, comprar e ler, mas pelo menos leio na diagonal antes de comprar! Será que as pessoas não lêem o que compram? Ou será que comem e calam? Honestamente, não sei o que seja pior...

Perdoem-me o desabafo.

Sem comentários:

Enviar um comentário