Lido em
Dicionário do Diabo:
(por Pedro Mexia)
--- início de transcrição ---
(...)
Já o blog A Sombra me critica da seguinte maneira:
(ver entrada "
Demissionário", n'A Sombra, de
20Jul2003)
O meu post terminava efectivamente dizendo se o PNR chegasse ao poder eu «emigrava», mas nem sequer o escrevi com intenção literal. Talvez emigrasse, talvez ficasse, não faço ideia. Mas o que me incomoda é esta noção esquerdista de que toda a gente tem que ser militante. Ora bem, eu não sou, nem quero ser. Não gosto de comícios, de bandeiras, de berreiros cívicos, de cartazes, de megafones, de sardinhadas, de panfletos, de passeatas, de massas nas ruas. Por isso é provável que se a democracia portuguesa estivesse em risco, e se tivesse oportunidade de ir para o estrangeiro, fosse, sem pensar duas vezes. O bloguista d' A Sombra certamente preferia a clandestinidade e as reuniões em caves e o fabrico de bombas artesanais. Está no seu direito, e seria devidamente medalhado na Restauração. Mas não obriguem toda a gente a ter, em política, um comportamento de activista. Há quem seja activista, e há quem, legitimamente, não tenha essa vocação. Que diabo, não é a esquerda que (agora) clama contra o «pensamento único»? Então, por uma vez, façam aquilo que pregam e deixem que outros tenham uma visão diferente da política. Serei «demissionário»? Como queiram. Não sou, com certeza, «missionário», até porque há posições bem mais interessantes.
--- fim de transcrição ---
nota: destaques em
bold da responsabilidade d'A Sombra
Caro Pedro Mexia,
Grato pela resposta, antes de mais.
Alguns reparos, sem malícia:
A Sombra não é um blog "de esquerda" (seja lá o que isso for), como tal, 70% da sua resposta não é aplicável. Possivelmente, se continuar a seguir A Sombra, encontrará algum blogger "de esquerda" a acusar-nos de reaccionários (aí ainda estaria de acordo, mas não nesse sentido), ou de fascistas (alto lá! isso não!).
Arrumado este seu equívoco, passo à "militância".
Obviamente, o Pedro Mexia não deve ter entendido o que se pode e deve fazer para evitar que os PNR's deste mundo cheguem ao Poder. Por definição, tais acções levam-se a cabo antes que cheguem ao poder ou nele se instalem, e não são estas congeminadas em caves obscuras, pois medram bem melhor à luz do Sol. Nesse ponto dou-lhe razão, seriam necessários actos públicos, mobilizações de massas e cartazes. Quanto a bandeiras,
"chacun à son goût", mas posso dizer-lhe que não gostei de as ver nas manifestações contra a invasão do Iraque, onde empunhei um cartaz com a mensagem
"not in my name", simplesmente, e onde encontrei gente de todos os quadrantes e sensibilidades, muitos deles da dita "direita" (seja lá o que isso for).
Milita quem quer, naturalmente, quando entende tal ser necessário. De resto, nem gosto de sardinhas. Já
"pain d'épices" com um bom
"camembert" é outra história, mas adiante.
Lamento insistir, Pedro, mas quando repete que iria
"para o estrangeiro sem pensar duas vezes" (sic) caso a democracia em Portugal estivesse ameaçada, está a dar razão ao meu comentário. A ser assim, não percebo como pode ter existido um mal-entendido da minha parte, pois a minha questão nunca foi se tinha uma predilecção pelo PNR, apesar de empregar no seu texto expressões algo simpáticas como
"confesso que tenho uma certa simpatia por estes rapazes" (sic), mas sim o facto de se assumir demissionário perante a adversidade, probabilidade que aqui confirma, "sem pensar duas vezes". Quanto à clandestinidade e às bombas artesanais, não lhe posso responder. Todos temos limites. Uma coisa lhe posso, no entanto, garantir: em extremo, a ser necessária uma acção armada contra um poder totalitário, ela seria dirigida contra ele, não contra civis, muito menos crianças. Se algo me repugna na resistência dos palestinianos ao sionismo é a perversão da Intifada e a selecção discriminada de alvos civis. (a este propósito, recomendo a leitura dos textos que vou publicando n'A Sombra, sob o título "
Camelot 2003", pertencentes a um ensaio meu do início deste ano).
E já tenho três medalhas; uma de esgrima, outra de canasta e outra de participação num moto-rali. Não tenho pretensões a mais.
Quanto ao que a "esquerda" clama, caro Pedro Mexia, nada lhe posso adiantar, pois não clamo com ela (nem com a "direita") e sempre pensei por mim, o que acredito partilhar consigo.
E fico satisfeito que conheça outras posições que a do missionário, pois é sinal que ama, como eu, a diversidade e, por consequência, o confronto de ideias. Ficaria mais satisfeito se, ao longo da sua resposta, tornasse claro que
"emigrar" foi um modo de expressão, uma figura de estilo, um deslize, mas acabou por fazer exactamente o oposto, renovando o voto, apenas trocando o
"óbvio" pelo
"provável". No entanto, não me arrogo o direito de o julgar, apenas o de o criticar, que a todos assiste.
Na expectativa de tornar a cruzar lâminas consigo, sempre lealmente, resta-me desejar-lhe uma óptima semana.
Pel'A Sombra,
Rui Semblano
PS: Convirá que, para quem, como insinua, preferiria a clandestinidade e as caves à luz do dia, é um pouco estranho veicular as minhas opiniões, publicamente, usando o meu nome e não uma qualquer alcunha.
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